terça-feira, 30 de agosto de 2011

Autoestima e aprendizagem

MARIA IRENE MALUF


Como professora e como psicopedagoga, venho a cada dia me preocupando mais com a questão da baixa autoestima de nossas crianças e jovens. Percebo que essa pode ser uma importante agravante dos problemas de desenvolvimento pessoal, escolar, profissional e da atuação social de muitas crianças, jovens e adultos e que atinge mais rudemente aqueles cujo comportamento, performance acadêmica ou características singulares, demandem atendimentos especiais.

De importância vital para a saúde mental, a autoestima nem sempre é cuidada com a atenção devida e como é comprovadamente um suporte importante para o sucesso da aprendizagem, torna-se um assunto relevante para todos os professores e psicopedagogos.

A partir do nascimento, a criança vai formando uma representação mental de si mesma, que transcende o aspecto físico e envolve os sentimentos e as idéias que constrói a seu próprio respeito. Esta estrutura mental, também chamada deautoconceito, forma-se a partir das mensagens objetivas e subjetivas que o meio ambiente, a família e depois a escola, lhe envia a cada momento e do modo como a própria criança se percebe.

Simultaneamente, a criança vai construindo uma imagem ideal da pessoa que gostaria de ser. Da comparação entre a imagem que foi formada através do autoconceito com essa outra imagem internamente idealizada, é que se começa a formar a autoestima, que é em última instância uma manifestação afetiva da pessoa a seu próprio respeito.

Essa questão é facilmente ilustrada pela observação de crianças e jovens com Transtorno do Déficit da Atenção com ou sem Hiperatividade-TDAH, que na sua maioria acabam por apresentar problemas de baixa autoestima. As causas são diversas, desde o fato de receberem muitas advertências e informações seguidas, no sentido de controlarem seu comportamento irriquieto, impulsivo e desatento, como também por se perceberem geralmente pouco populares e queridas entre seus iguais, devido ao seu modo de agir.

Crianças e jovens com TDAH, possuem ao longo da carreira acadêmica, uma chance muito grande de alcançarem resultados pedagógicos abaixo da média e receberem no dia a dia uma série de sinais de que são indesejados, pouco confiáveis e inadequados. São freqüentemente crianças mais difíceis de educar, de aprenderem a cumprir regras, aceitarem normas e acabam por exasperar pais e professores.

Os adultos que os cercam não percebem geralmente, o seu empenho para agradar, para fazer amigos, para controlar a sua própria atenção e até para avaliar objetivamente o resultado de seus trabalhos escolares, etc, o que aumenta a cada dia sua insegurança, sua ansiedade e sensação de frustração. Para eles o esforço realizado é enorme e o resultado, quase sempre medíocre.

Sabemos que tanto na família como no contexto escolar muito cedo se ensina às crianças, qual é o modelo de aluno exemplar. Ao comparar seus resultados pedagógicos e comportamentais com os dos seus colegas e com essa imagem de ideal delineada desde cedo, é de se esperar que sendo inteligentes, os alunos portadores de TDAH, percebam que por algum motivo que não compreendem, estão em desvantagem e que correr atrás do prejuízo, não resulta em melhoria alguma, pois sempre parecem cometer enganos independentes de sua vontade.

A idéia que fazem de si próprios começa rapidamente a ser destruída pelas mensagens do meio, seja de seus professores ou colegas ou mesmo pais e essas são razões mais do que suficientes para explicar o grande número de alunos portadores de TDAH que acabam precisando de ajuda especializada. Sentem-se injustiçados, incompreendidos, destinados ao fracasso, o que só aumenta sua frustração e a certeza de que são incapazes, gerando um ciclo vicioso impulsionado e alimentado pela baixa autoestima que se instala. Com a falta de motivação decorrente, em geral terminam por abandonar as tarefas diante da primeira dificuldade e se escondem por detrás de um comportamento cada vez mais inadequado.

Para melhorar essa questão algumas medidas podem ser adotadas por professores e familiares, entre elas:

- O hábito de elogiar os aspectos mais positivos e as condutas mais próximas da adequada até para que a criança perceba melhor como comportar-se e o que esperam dela na prática;

- Agir empaticamente com a criança, mostrando sua compreensão e seu apoio, enaltecendo todos os pequenos sucessos e deixando para criticar apenas os grandes deslizes: saber tolerar suas dificuldades e dar atenção aos comportamentos indesejados apenas quando muito importantes, diminuirá sensivelmente a sua sensação de fracasso e seus rompantes comportamentais;

- Respeito é básico e as mensagens de advertência devem ser feitas ao comportamento e nunca à criança e sempre de modo carinhoso e calmo;

- Apontar diferenças entre irmãos ou colegas é outro erro que somente aumentará o problema. É preferível elogiar os aspectos positivos de cada criança e usar deles e até das características menos brilhantes como uma vantagem num projeto comum: se um escreve com facilidade, o colega desenha bem, o outro tem idéias criativas, etc,. Veja que bela equipe de trabalho pode ser formada!;

- Incentivar o comprometimento de cada aluno dentro de suas facilidades naturais ou aptidões já adquiridas no trabalho escolar, gera motivação, empenho e desejo de aprender mais. Poucas pessoas sentem-se empolgadas ao deparar-se com dificuldades muito acima de suas potencialidades;

- Ensinar a reconhecer os seus limites momentâneos, tanto nas dificuldades pessoais quanto acadêmicas, é o melhor para criar o desejo de superá-lo;

- Ter sempre em mente que o grande professor, é aquele que faz a diferença na vida do aluno,porque o ajudou a vencer, não aos outros, mas a si mesmo!

MARIA IRENE MALUF é especialista em Psicopedagogia e Educação Especial. Editora da revista Psicopedagogia da ABPp. Coordenadora do Nucleo Sul/Sudeste dos cursos de Especialização em Neuroaprendizagem e Transtornos do Aprender do Grupo SaberCultura/FACEPD.
http://www.irenemaluf.com.br/

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