Jovens devem ser donos da sua educação
Projeto adotado nos Estados Unidos dá mais autonomia a estudantes do ensino médio, com resultados surpreendentes
Susan Engel - O Estado de S.Paulo
Em um discurso pronunciado na semana passada, o presidente Barack Obama disse que é inaceitável que "25% dos estudantes americanos não concluam o ensino médio". Mas a atual filosofia dos EUA na área da educação não só não prepara os adolescentes para enfrentar as disciplinas acadêmicas da universidade como também não os prepara, num sentido mais profundo, para a vida adulta.
Queremos que os jovens se tornem independentes e capazes, mas estruturamos sua jornada de trabalho minuto a minuto e lhes damos poucas oportunidades de fazer alguma coisa que não seja responder a perguntas de múltipla escolha, seguir as instruções e memorizar informações.
Consideramos a interação social um impedimento ao aprendizado, mas todas as evidências mostram a enorme influência que ela exerce em seu desenvolvimento psicológico. É por isso que precisamos repensar a própria natureza do ensino médio em si.
Recentemente, acompanhei um grupo de oito estudantes do ensino médio da escola pública, entre 15 e 17 anos, na região oeste de Massachusetts, que planejaram e dirigiram sua própria escola dentro de uma escola. Eles representavam o padrão normal: dois estavam prestes a abandonar o projeto antes de começar, enquanto os outros eram mais empenhados. Eles chamaram sua escola de Projeto Independente.
Seu consultor era o seu orientador, que conversava com eles quando o grupo fraquejava ou esbarrava em algum obstáculo. Embora procurassem a orientação dos professores de inglês, matemática e ciências, cada um deles foi responsável por monitorar o trabalho dos colegas e lhes dar retorno. No final do semestre, os estudantes apresentavam a avaliação dos companheiros.
Os alunos também elaboravam seu programa escolar, dividindo o semestre de setembro a janeiro em duas partes. Na primeira, eles formulavam e depois respondiam a perguntas sobre o mundo natural e social, como "As células das plantas no sopé de uma montanha são diferentes das do topo da montanha?" e "Por que a gente chora?" Não só criticavam as respectivas perguntas, como também as respostas dadas. Nisso, adquiriam instrumentos essenciais de investigação, como, por exemplo, como descobrir bons métodos para reunir vários tipos de dados.
Na segunda, o grupo praticou o que chamou de "artes literárias e matemáticas". Escolheram oito romances - entre eles, obras de Kurt Vonnegut, William Faulkner e Oscar Wilde - para ler em oito semanas, mais do que a classe do curso avançado de Inglês precisa ler durante o ano letivo.
Ao mesmo tempo, cada um deles estudou assuntos específicos de matemática, das equações de segundo grau à matemática do pôquer. Procuraram a ajuda de professores que davam aula de matemática em período integral, consultaram livros e a internet e, sempre que possível, ensinaram os colegas.
Também assumiram uma "tarefa individual", como aprender a tocar piano ou a cozinhar, escrever um romance ou elaborar um podcast sobre violência doméstica. No final do ano letivo, apresentaram seus trabalhos a todos os alunos e professores do colégio.
Finalmente, assumiram uma tarefa coletiva, que deveria ter um sentido social. Chegando à conclusão de que toda a experiência modificara profundamente sua vida, realizaram um filme mostrando como outros estudantes poderiam planejar e dirigir sua própria escola.
Transformações. Os resultados dessa experiência trouxeram grandes transformações. Todos eles voltaram ao programa escolar convencional e estão indo bem. Dois dos estudantes mais velhos estão se preparando para cursar faculdades extremamente seletivas.
Os estudantes do Projeto Independente são notáveis, mas não porque estejam excepcionalmente motivados ou dotados. Eles são notáveis porque demonstram como é possível aprender e crescer em termos pessoais quando os adolescentes sentem que são os donos de sua experiência no ensino médio, quando aprendem o que é importante para eles - e quando aprendem juntos.
Nesse ambiente, a escola capitaliza a intensidade e o envolvimento que os jovens costumam reservar para os esportes, o protesto ou a amizade, em lugar de freá-los.
As escolas de todos os países poderiam adotar um Projeto Independente.
São necessários estudantes sérios e comprometidos e um corpo docente que lhes dê apoio. Os projetos não precisam ser exatamente iguais: os estudantes podem dividir seu tempo de modo diferente ou acrescentar outras disciplinas ao seu programa.
Mas, à semelhança dos estudantes do Projeto Independente, os participantes que seguirem o seu exemplo se tornarão jovens mais maduros, mais engajados e mais informados do que se estivessem assistindo a cursos regulares.
Nós tentamos alongar o horário de estudos na escola e aplicar aos estudantes testes padronizados. Mas talvez as crianças não precisem de uma reforma imposta de cima. Elas precisam se sentir donas da própria educação. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
É AUTORA DO LIVRO RED FLAGS OR RED HERRINGS: PREDICTING WHO YOUR CHILD WILL BECOME (INDÍCIOS SEGUROS OU PISTAS FALSAS: COMO PREVER O QUE SEU FILHO SE TORNARÁ)
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