terça-feira, 30 de agosto de 2011

As práticas observadas nas escolas da rede pública estadual

O que é compreendido a partir das práticas que são observadas hoje nas escolas da rede pública estadual

Elena Roque de Souza Almeida

O que é possível apreender das práticas observadas em escolas organizadas em ciclos de formação humana que se referem a contradições entre sua proposta teórica e as práticas construídas, pode ser sintetizado em:

1- procura-se ainda a homogeneidade de níveis de conhecimento para organização da enturmação;

2- muitas vezes, mantêm-se os conteúdos fragmentados da série, com correspondência e como referência para o trabalho em cada etapa do ciclo;

3- ainda trata-se a avaliação como resultado e não como encaminhamento do processo;

4- trabalha-se com atividades comuns a todos os estudantes, não se praticando a diferenciação de propostas que venham a atender as necessidades específicas de cada grupo ou estudante individualmente;

5- ainda acredita-se que algumas de nossas alunas e alguns de nossos alunos não conseguem aprender e\ou não fazem nada.

É certo que crianças, adolescentes, jovens ou adultos não aprendem somente por serem reunidas por idade, e sim quando são atendidas em suas necessidades para aprender: tempo, espaço, conhecimento com significado para as práticas sociais com as quais se envolvem.

A reunião das alunas e alunos por idade consiste no atendimento do direito da criança em vivenciar a sua fase de formação, independentemente se ela é nota dez ou seis ou quatro em uma ou em todas as disciplinas escolares. Trata-se de um aspecto a mais para se observar na promoção da aprendizagem: “entre as características psicofisiológicas que marcam as etapas do desenvolvimento da criança existe o gênero de atividade a que ela se entrega e que se torna, por sua vez, um fator de sua evolução mental”.

A dificuldade docente em relação às práticas da formação humana parece estar relacionada, em um primeiro momento, à epistemologia da professora e do professor que, ainda hoje, acredita que nem todos os seus alunos e suas alunas podem aprender e/ou que a repetição sistemática é a melhor forma de ensinar e criar responsabilidade escolar.

Ainda hoje é difícil, entre os docentes, perceber a não linearidade do conhecimento e da aprendizagem, o desenvolvimento do pensamento, as contribuições da filogênese e da ontogênese para a formação humana.

A seriação coloca a qualidade e o sucesso da educação no ensino de classes homogêneas, enquanto que novas perspectivas da ciência (e com estas, da ciência do ensino) indicam que não existe homogeneidade do conhecimento e entre os aprendizes.

Enfim, classificar o nível de conhecimento adquirido é incoerente com o conceito de processo de aprendizagem, que exige atenção às temporalidades e à intensa capacidade cognitiva dos seres humanos.


Existe uma disputa entre a escola de ciclos de formação humana e a abordagem da escola tradicional em relação aos conteúdos: para a escola organizada em ciclos, os conteúdos construídos na escola são sempre singulares ao sujeito que os constrói. Agrupar crianças e adolescentes não mais pelo conteúdo anterior adquirido e sim pela fase de desenvolvimento facilita a aprendizagem, desde que se organize o ensino para atendimento das diferenças e a vivência das zonas de desenvolvimento proximal.

A escola precisa oportunizar o exercício da diferença, no sentido de possibilitar a todos os alunos e alunas, a possibilidade de ensinar aos demais algo que ele já saiba, provocando diferentes ambientes de aprendizagem, relacionados a diferentes temas e áreas do desenvolvimento humano, atendendo, assim, as necessidades e peculiaridades de cada um em suas experiências.

Organizar a escola pela fase de desenvolvimento dos alunos e alunas compreende, entre outras questões, organizar também as atitudes docentes. Entre estas atitudes encontra-se o olhar voltado para as diferenças sócio-culturais presentes em sala de aula, o planejamento das atividades em coletivos de ciclos (três anos) e não ano a ano, a compreensão de que a homogeneidade não existe e que a realidade é complexa o suficiente para enriquecer todo o currículo, organizando projetos de trabalho com um significado para além da própria escola.

Elena Roque de Souza Almeida é professora formadora do CEFAPRO\Cuiabá MT, pedagoga, alfabetizadora.


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