terça-feira, 30 de agosto de 2011

Uma reflexão sobre a relação Texto - Aluno

*Maviane Ramalho Machado Souza


Resumo: O ensino da leitura é um processo interno, complexo, mas necessário, pois é a partir da leitura que o aluno é capaz de ampliar seus conhecimentos, sejam prévios, técnicos, específicos entre outros. No entanto, para isto não basta apenas que decodifique palavras, mas que leia e compreenda.

Semântica é a ciência que estuda o sentido das palavras em uma determinada língua. Na construção de um texto é imprescindível que o aluno- escritor- leitor conheça os significados das palavras, para que assim consiga transmitir e compreender a mensagem de maneira coerente. Ao desenvolver este estudo na língua portuguesa, são considerados aspectos semânticos importantes para a significância das palavras: sinônimos, antônimos, homônimos, parônimos, polissemia, denotação, conotação, figuras e vícios de linguagem.

A linguagem utilizada em um texto pode apresentar mais do que só o significado apresentado pelo dicionário de língua portuguesa, palavras empregadas em determinados contextos podem apresentar novos sentidos. Quando a palavra no texto é utilizada tal e qual seu sentido no dicionário, dizemos que esta palavra foi empregada de maneira denotativa. Portanto, “denotação é o uso da palavra com seu sentido original. Exemplo: Pedra é um corpo duro e sólido, da natureza das rochas.” (http://www.brasilescola.com/literatura/denotacao-conotacao.htm). Mas, quando a palavra é utilizada com um sentido diferente ao encontrado no dicionário de língua portuguesa, dizemos que esta palavra foi empregada de maneira conotativa. Portanto, “conotação é o uso da palavra com um significado diferente do original, criando outro sentido através do contexto em que se encontra. Exemplo: Você tem um coração de pedra.” (http://www.brasilescola.com/literatura/denotacao-conotacao.htm).

Apesar de ser um recurso muito utilizado em textos literários, a linguagem conotativa não é aplicada exclusivamente neste tipo de texto, é possível encontrá-la também em letras de músicas, anúncios publicitários e etc. Observe um trecho da canção “Faroeste Caboclo”, do grupo Legião Urbana, note a caracterização das palavras: inferno e coração, elas foram empregadas conotativamente: 

Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.
Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"
Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general
Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu.

        No dicionário de língua portuguesa (Aurélio), o sentido da palavra inferno, é: habitação das almas dos mortos pecadores, quando no trecho da música ele se refere ao inferno, ele diz, de acordo com o contexto que foi para um lugar de tormenta, não exatamente a habitação das almas dos mortos pecadores. Do mesmo modo, a palavra coração, significa: órgão musculoso, centro da circulação do sangue, quando no trecho da música ele promete seu coração a mulher amada, ele não promete o órgão musculoso, centro da circulação do sangue, mas o seu amor. Como já foi dito, este é um recurso utilizado não só em textos literários, mas em outros tipos de texto também, assim como posso usar na elaboração de um texto: o hipertexto. Trata-se de um termo utilizado para fazer referência a um texto em formato digital, no qual se agregam outros tipos de informações na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso é permissivel através de referências específicas dentro do texto chamadas: hiperlinks. Esses hiperlinks aparecem na forma de termos destacados no corpo do texto principal como ícones ou imagens e têm a função de interconectar diversos conjuntos de informações que contemplem o conteúdo do texto original através da internet. O conceito de "linkar" ou de "ligar" textos foi criado por Ted Nelson no ano de 1960 e teve como influência o pensador francês Roland Barthes. Em palavras mais simples, o hipertexto é uma ligação que facilita a navegação dos internautas. “O sistema de hipertexto mais conhecido atualmente é a World Wide Web, no entanto a Internet não é o único suporte onde este modelo de organização da informação e produção textual se manifesta”(informação extraída do site: www.wikipédia.com.br). Assim, este recurso pode se tornar um poderoso aliado na produção e também na leitura textual, dois itens que estão intimamente ligadas em relação ao autor- leitor- aluno.
A leitura textual pode parecer para alguns leitores, apenas um ato de decodificação da escrita, mas a compreensão de um texto deve e pode ir mais além do que apenas decodificação. O uso do texto em sala de aula é de extrema importância na vida social, tendo em vista que à partir da leitura o aluno é capaz de ampliar seus conhecimentos, sejam prévios, técnicos, específicos entre outros.
È importante salientar que a leitura sempre é impulsionada por um objetivo, sempre se lê com alguma finalidade, no entanto a compreensão desta leitura não está ligada somente ao que se busca, mas também está ligada a fatores relevantes que envolvem diretamente o leitor-aluno no processo de compreensão do texto, esta compreensão tem laços estreitos com as experiências e conhecimentos que cada leitor-aluno desenvolvido até então, o seu conhecimento prévio. Por este motivo, a interação do leitor-aluno com o texto deve ser íntima, este deve buscar através do texto uma compreensão e interpretação das intenções do autor, de acordo com Antunes (2003, pág 66):

“A   leitura   é  parte da interação   verbal  e  escrita, enquanto
implica  a  participação cooperativa do leitor na interpretação
e   na  reconstrução  do  sentido  e  das  intenções pretendidos
pelo autor.”

Ao elaborar um texto, o autor teve intenções e pretendia passar uma mensagem ou uma informação (tema central do texto) ao seu leitor, mas a interpretação deste texto pelo leitor não será puramente explicita conforme pretendia o autor, pois o leitor vai se valer de recursos como o que já foi mencionado à cima (denotação e conotação), o que se pretendia com sua leitura, para que possa reconstruir uma interpretação. Portanto dois leitores-alunos podem ler o mesmo texto e retirarem informações distintas do mesmo.
        Pensando neste encontro com autor através do texto, desta interação entre autor-texto-leitor, Geraldi em sua obra O texto na Sala de Aula (pág. 91), afirma:

“ A   leitura   é   um   processo   de  interlocução   entre
leitor/autor mediado pelo texto. Encontro com o autor,
ausente,   que   se       pela    sua    palavra    escrita.”

Ao desenvolver o processo da leitura, o leitor deve ser capaz de questionar, levantar hipóteses e discussões, ser capaz de expressar uma opinião, de rejeitar, confirmar ou reelaborar a idéia de um texto dentro ou fora da escola. Como já foi dito, é o leitor quem interpreta e desenvolve o significado do texto à partir de suas concepções. È a partir da leitura que podemos levantar pontos de vista diferentes sobre cada tema proposto em diversos textos, pois não somente a leitura de textos didáticos ou didatizados deve ser levada em consideração, mas também a leitura de qualquer texto dentro ou fora da escola. Pensando desta forma Sole (1998, pag78) acredita que a leitura deve ser ensinada em todas as etapas de sua realização, antes: objetivos da leitura; durante: levantando questões de compreensão e depois: construindo uma idéia principal do texto. Este processo é complexo, pois é interno. Na escola é possível se formarem leitores maduros, que possam realizar leituras divergentes. Como referência na obra de Geraldi, O texto na Sala de Aula (1995), Lajolo (1982, pág. 53) afirma:

“(..) É a maturidade de leitor, construída ao longo da intimidade
com muitos e muitos texto. Leitor maduro é aquele para quem
cada  nova  leitura desloca e altera o significado de tudo o que
ele já leu, tornando mais profunda sua compreensão de livros,
das gentes e da vida.”

Para tal atividade, os autores até aqui já citados, Solé (1998) Antunes (2003), Geraldi (1995), vão refletir sobre quais estratégias devem ser utilizadas no processo de ensino da leitura, estratégias estas que devem ser aplicadas pela escola e compreendidas pelos leitores. Estes procedimentos são complexos, pois, como já foi afirmado, trata-se de um processo interno, inconsciente.

 Dentre as principais estratégias ou técnicas ou procedimentos, se destacam: 
- Objetivar sua leitura. Por que de estar lendo.
- Utilizar sempre antes, durante e depois da leitura a capacidade de intuição, refletir sobre o texto, formular hipótese que nele contém.
- Durante a leitura, sempre se perguntar o sentido, identificando sempre uma idéia central.
- Ser capaz de interromper a leitura para refletir sobre o que leu, buscando sempre compreensão do que leu, e saber quando retomá-la.
5º-Diversificar as leituras.
- Ler muito, sempre que possível e necessário.

        A escrita e a leitura textual desenvolvem uma estreita relação quando pensamos em um aluno escritor- leitor, quando este  munido do conhecimento dos principais aspectos semânticos da língua portuguesa e recursos como hipertexto, mais estratégias de leitura tão especificas como as citadas neste texto,certamente não apresentará dificuldades nos registros de suas idéias ou mensagens gráficas.



Referências Bibliográficas:
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. Cortez, 26. ed. São Paulo.
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. Editora Ática - 3ª edição.
SOLE, Isabel. Estratégias de Leitura. Editora ArtMed. 6 ed. – Porto Alegre: 1998.

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