FÁBIO TAKAHASHI
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
Professores de diferentes segmentos da USP divulgaram nos últimos dias posições contrárias ao projeto de cotas para alunos de escolas públicas, desenhado pelos reitores das universidades e pelo governo do Estado.
Entre os críticos estão, por exemplo, docentes de destaque da área de humanas, o diretor interino da Faculdade de Medicina e a associação de professores --as argumentações são diferentes.
Apesar de ter sido pensado pelos administradores das escolas, a proposta, que tem o aval do governador Geraldo Alckmin (PSDB), só entrará em vigor se for aprovada internamente nos conselhos da USP, Unesp e Unicamp.
Uma das inovações é a adoção de um curso intermediário, de dois anos, para os melhores estudantes de escolas públicas. Após essa etapa, os formados poderiam escolher as vagas oferecidas em cada curso das universidades, sem a necessidade do vestibular.
Em carta aberta enviada a professores e alunos, as professoras titulares (topo da carreira) Lilia Schwarcz, da antropologia, e Maria Helena Machado, da história, criticam o formato do programa.
Elas veem problemas no curso intermediário, que será, em parte, a distância.
"Não é difícil imaginar que teríamos uma USP predominantemente branca e notavelmente elitista contraposta a uma USP virtual, onde alunos de escola pública, de baixa renda e pretos, pardos e indígenas, ficariam em espaços separados", afirmam.
A Adusp (sindicato docente) criticou o cronograma proposto por reitores e pelo governo. O projeto foi divulgado oficialmente em dezembro. E deve ser aprovado até junho para que possa entrar em vigor já em 2014 (último ano do mandato de Alckmin).
Já a Frente Pró-Cotas Raciais da USP, que reúne professores, alunos e servidores, diz que "dois anos de espera [no curso] atrasarão o desenvolvimento educacional e profissional dos cotistas".
Reservadamente, docentes que acompanham o processo dizem que o programa não avançará se houver resistências no Conselho Universitário, que se reúne em abril.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Diretor interino da Faculdade de Medicina, José Otávio Costa Auller Júnior também se mostrou contrário, em artigo publicado pela Folha.
A argumentação é diferente dos demais. "Acreditamos que a nova política tenha impacto negativo na qualidade dos alunos selecionados."
Segundo ele, o problema é que as universidades terão de destinar recursos para dar reforço a alunos, em vez de investir em pesquisa.
O reitor da USP, João Grandino Rodas, afirmou que se buscou um projeto que visasse uma maior inclusão de alunos excluídos, sem que houvesse perda do mérito acadêmico. "Agora cabe à nossa comunidade decidir. E arcar com as consequências."
O projeto estadual foi idealizado pelos reitores num momento em que o governo estava pressionado pela adoção das cotas nas universidades federais, que reservarão 50% das suas vagas a estudantes de escolas públicas.
Os idealizadores afirmam que a proposta é um modo de garantir a autonomia das instituições, que podem optar por modelo pensado por elas.
Caso seja rejeitado, dizem, há a possibilidade de a Assembleia Legislativa impor um modelo. Já há projetos tramitando que determinam a adoção de cotas semelhantes à das escolas federais (reserva direta de vagas)
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