"Não acordamos
ao abrir os olhos, mas antes disso, quando ainda de olhos fechados, temos plena
consciência de que podemos fazê-lo."
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Uma das maiores e controversa questão de todos os
tempos tem sido a busca por uma definição universal do que vem a ser
inteligência. Não parece uma tarefa simples, uma vez que a cada nova geração,
novas ideias e métodos são acrescentados à imensa lista de conceitos já
homologados como válidos para tal aferição, medida, ou definição.
O cérebro humano é dotado de uma capacidade inata
que é pensar. Ele pensa a despeito de nossa vontade, e nossos pensamentos não
podem ser evitados, e o máximo que podemos conseguir, com treino e perseverança,
é torná-lo um tanto, digamos, seletivo.
Podemos assim dar atenção a alguns e desprezarmos
outros. Pensar não é sinal de inteligência, trata-se de um atributo inato do
cérebro, desde que tenha lastro para isso. Lastro quer dizer memórias,
lembranças. E nesse campo os conceitos éticos e morais, assim como as regras e
normas de comportamento de uma sociedade, são meras informações, dentre milhares
de outras que fazem parte daquele repositório. |
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Imaginemos o motor de um veículo, que a despeito de
sua propriedade inata, de fábrica, de gerar energia para movimentá-lo, só é
capaz de realizar tal proeza se existir combustível para ser queimado. O
cérebro, o bloco onde tudo isso acontece, é o motor, o combustível as memórias.
A capacidade, o movimento capaz de
gerar energia a partir do combustível seria o pensamento. Ou seja, sem memórias,
que é o combustível, o movimento de percorrê-las criando cadeias lógicas que
podemos chamar de pensamentos, não pode ocorrer.
Domesticar um animal é simples, basta que os
ensinemos a imitar certos gestos em troca de compensações. Depois de treinado
por um tempo, a simples lembrança da recompensa o faz lembrar daquilo que deve
realizar para ganhar seu quinhão, ou agrado.
Ele pensa, logo é capaz de reagir aos estímulos
conhecidos. Reagir, quer dizer, reconhecer uma instrução ou parâmetros de um
gabarito, e reproduzir, executar os procedimentos adequados que conduzem a uma
determinada ação, ou feito.
Roteiro ou
receita sempre resulta em alguma ação. Observe como nosso comportamento é
parametrizado, isto é, segue padrões, regras pré-estabelecidas, que nos dizem o
que fazer, como fazer, como interpretar, como sentir, etc. Agimos segundo
parâmetros que regem nossos atos e pensamentos, não há outro modo. |
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Um computador funciona do mesmo modo. Diante de uma
solicitação de serviço, ele recebe como ponto de partida para sua ação, alguns
parâmetros, e nos devolve o procedimento esperado. Quando crianças, fomos
domesticados do mesmo modo que um animal não amestrado.
Isso é, para realizarmos algumas tarefas, primeiro
nos mostraram como realizá-las, depois, como incentivo para que nos
empenhássemos em apreendê-la, ao final de cada atividade, sempre fomos
recompensados, ora com castigos, ora com afagos, ora com presentes.
Mas, com o passar dos anos, já
crescidos, nosso repertório de coisas conhecidas já é bastante amplo, o
suficiente para sabermos exatamente aquilo que nos desagradava ou agradava,
assim como seus conseqüentes desdobramentos. |
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Quer dizer, temos agora plena consciência não apenas
daquilo que nos desagrada ou agrada, mas também das conseqüências, desvantagens
ou vantagens que estão implícitas, os efeitos relativos a cada situação
experimentada, ou ação por nós praticada.
Temos então a informação e a experiência, e juntas,
ambas formam nossa personalidade, nosso repertório cultural, de onde brotam
nossas habilidades pessoais e profissionais, nosso lastro para opinarmos e nos
sentirmos como indivíduos identificados.
Observando de mais perto o que podemos constatar? Há
a experimentação, dor, alegria, angústia, medos, etc., e a tudo isso nosso
cérebro, de forma involuntária se encarrega de gravar. Servirá de base para
futuros experimentos, para comparações, sendo, portanto, medidas que nos
permitem compreender as repetições.
E
existem as interpretações baseadas nos padrões sociais, na tradição cultural,
costumes de uma civilização ou nação. Assim, compreendemos nossas experiências
com base nesse padrão estabelecido como regra de vida, onde estão incluídos os
tabus, e tudo mais. Ser capaz de reproduzir o que nos recomenda a “cartilha” do
viver é então considerado um sinal de inteligência. |
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Para um cérebro analógico, como é o nosso, a descoberta de um
antigo artefato, ou costume, significa novidade...
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Assim, segundo esse conceito universalmente aceito,
ser capaz de imitar é o mesmo que ser inteligente. Mas, imitar não é uma
capacitação adquirida, trata-se de um atributo inato de qualquer ser vivo. Faz
parte de sua cadeia genética. Uma célula imita a outra e assim é possível
restaurar as danificadas. Imitar é uma qualidade inata que não requer de
aprendizado algum. No entanto, saber o porquê se imita, isso requer aprendizado.
Se agir por repetição não é
capacitação e sim apenas um atributo involuntário e instintivo, por que
consideramos isso um ato de inteligência voluntária? Não consideramos, nossos
ancestrais e cientistas de outros tempos o fizeram por nós, e mais uma vez,
apenas repetimos a ideia, e assim vivemos. Não é assim para tudo? Observe nossas
crenças, medos, ideais de felicidade, objetivos de vida, opiniões sobre qualquer
coisa. |
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O que há de novo sobre a terra, inédito, que nunca
foi experimentado, vivenciado, construído por outros, em outros tempos, com
outras formas? As formas de expressarmos nossos medos nós criamos? Do mesmo
modo, todas as rotas expressas de fuga para estas causas, também, foram criadas
pos nós? E toda nossa bagagem de conceitos e preceitos que povoam nossa psique,
lá dentro, há algo definitivamente inédito, novo, criado por nós?
Se imitar é sinal de inteligência, o computador é o
mais sábio dentre todos os sábios jamais existentes em nosso mundo. Ele é capaz
de imitar com perfeição, sem cometer erros, mais rápido que qualquer um de nós,
com maior precisão, e sequer são “seres” vivos, pelo menos dentro da ideia
biológica que define a ciência.
Falhos, absolutamente falíveis, incapazes de
resolver os problemas mais antigos do homem, os mesmos dos tempos imemoriais, as
mais simples causas de todos os nossos sofrimentos e conflitos, ainda assim,
apenas porque somos capazes de criar máquinas eletrônicas que nossos ancestrais
trogloditas sequer sonharam, nos julgamos inteligentes.
Seria sinal de inteligência viver com medo,
incapazes de cultivar a paz entre semelhantes, ver na destruição do oponente
vitória, acreditar que o acumular conhecimento e riqueza é sabedoria? De que nos
serve tudo isso se não somos permanentes, ou sequer tão longevos quanto nossas
moradas de concreto e cimento?
Nada
criar e apenas imitar, repetir, mesmo aquilo que sabidamente não nos serve para
nada, esse parece ser o nosso papel sobre a terra. Não seria então um sinal de
inteligência o perceber claramente tudo isso, essa tremenda limitação, essa
incapacidade pessoal e coletiva de sermos felizes, ao menos segundo as
incontáveis fórmulas e métodos que insistimos em repetir através dos tempos?
Dizia um velho adágio: “O sábio olha
para trás, não porque esqueceu algo, mas, para ter certeza de que não está mais
no mesmo caminho.”.
Autor: Jon Talber - jontalber@gmail.com |
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