terça-feira, 5 de março de 2013

Rio Cuiabá


Ignorar a situação de deterioração é contribuir para o seu agravamento

ROMILDO GONÇALVES

Sem proteção do poder público ou respeito da população humana mato-grossense o generoso rio Cuiabá tem enfrentado nas últimas décadas um grande dilema! Viver ou morrer? Com desmatamento continuo de suas margens, pressão antrópica em processo acelerado, cidades e indústrias poluídas lançando sem dó e nem piedade esgotamento in natura em seu leito, ele não resistirá por muito tempo.

Histórico e economicamente todos os mato-grossenses de nascimento e demais brasileiros que aqui aportaram, sabe o quanto ele foi, é e será importante em nossas esse vidas e nunca o contrário. Mesmo sem a devida atenção das autoridades constituídas o generoso rio Cuiabá insiste em respirar perpetuando a vida, não é mesmo?

Para sociedade humana que há séculos conviveu harmônica e respeitosamente com essa dádiva de Deus, tendo nela sua fonte de lazer, inspiração, e principalmente como base alimentar advinda da grandeza de seus recursos naturais, com água límpida, belas praias, pescados sadios... Ver tudo isso sendo irreversivelmente destruído é realmente assustador.

Não faz muito tempo a vida nesse rio corria solta, era abundante sadia e saudável em todo o manancial. Pescar belos exemplares de pintados, pacus, dourados, cacharas... No perímetro urbano da capital mato-grossense era algo corriqueiro em toda sua extensão, hoje?

Apreciar belas praias com areias brancas e águas límpidas, vegetação nativa cobrindo suas margens, tendo o sarã como fonte básica de alimentos para a ictiofauna nativa era senso comum. Este era sem dúvida um dos graciosos ambientes de contemplação do povo nas dominicais manhãs cuiabanas.

Hoje o que se vê são ambientes totalmente contaminados com lixos domésticos e industriais, esgotos in natura... Que o diga o ex-deputado Sergio Ricardo, que vivia politicamente gritando aos quatros cantos querendo salvar o querido Rio Cuiabá, não conseguiu, acomodou-se e calou-se.

Ignorar a situação de deterioração por que passa o rio Cuiabá é contribuir de forma decisiva para o seu agravamento. Como se vê o rio Cuiabá é hoje mais uma questão de saúde pública do que propriamente um rio de água corrente.

Tentar usufruir desse ambiente é contaminar-se dos pés a cabeça com as mais variadas espécies de micróbios, vermes, fungos e bactérias... Flutuando livremente na outrora água límpida do generoso rio Cuiabá. Até quando, vai prevalecer essa vergonhosa situação?

Infelizmente essa é a mais pura, dura e inaceitável realidade por que passa a preciosa fonte de água potável que abastece a capital mato-grossense. Como ficará o abastecimento de água na capital e demais cidades abastecidas por esse rio, ali pelos anos de 2020? 2030? 2050?...

Há prevalecer tal situação como estará a vida da população humana aqui vivente? Com a palavra os gestores públicos? Onde estão os poderes constituídos? Cadê a sociedade que não cobra? E também pouco faz!

Mato Grosso vivencia desde a década 70 forte pressão antrópica em seus ecossistemas naturais, com taxa média de crescimento demográfico entorno de 6,5% a 7,0% ao ano, sendo a capital mato-grossense o principal foco desta convergência migratória, forçando sobremaneira o desordenamento do crescimento periférico.

Por outro lado, tanto o poder público como a iniciativa privada, muito tem falado e pouco ou quase nada tem feito para amenizar o impacto humano sobre este valioso rio Cuiabá, que continua caminhando para... E você o que tem feito como cidadão?

ROMILDO GONÇALVES
é biólogo, mestre em Educação e Meio Ambiente, perito ambiental em Fogo Florestal e pesquisador da UFMT e Seduc.

romildogoncalves@hotmail.com

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