terça-feira, 5 de março de 2013

XPERIÊNCIAS COM AULAS PRÁTICAS NA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS NO CEJA 15 DE OUTUBRO EM BARRA DO BUGRES-MT


Carlos Roberto da Silva1
Idenir Mariano de Oliveira Neves2
Mirian Mendes3
RESUMO

O presente artigo tem como proposta, apresentar as experiências obtidas através de aulas práticas ministradas pelos professores da área de Ciências Humanas aos alunos da EJA, do Ceja 15 de Outubro, do Município de Barra do Bugres, em Mato Grosso, colocando-se em prática o conteúdo ensinado em sala de aula. Para a realização da pesquisa buscou-se fundamentação bibliográfica em autores que versam sobre a EJA, traçando um perfil histórico desde o período colonial, verificando-se que o aluno dessa modalidade de ensino apreende melhor o conteúdo quando este é voltado para o seu dia a dia. Nesse sentido, os professores do estabelecimento de ensino, preocupados com o ensino aprendizagem elaboraram um projeto para levar os alunos a conhecerem a importância que o Rio Paraguai tem sobre a economia do Município, a poaia (ipecacuanha), planta medicamentosa, utilizada pelos ribeirinhos e moradores da região. A aula prática é uma forma de levar o aluno a desenvolver sua aprendizagem, de maneira não obrigatória, mas sentindo prazer na construção de seu conhecimento. Para que a pesquisa se realizasse foram entrevistados moradores da região, no sentido de ressaltar a importância do Rio Paraguai no desenvolvimento da região.  Por meio da visita in loco, bem como relato de experiências de moradores ribeirinhos, comprovou-se, após a análise das respostas obtidas nas entrevistas, que os moradores da região, consideram o rio de fundamental importância para as atividades praticadas por eles e, cobram das autoridades competentes, melhorias no cuidado com o rio, para que se preservem as riquezas naturais, das quais depende a economia local.


1 Introdução

            Entende-se que a experimentação é uma prática fundamental para o crescimento do aluno na aprendizagem. Diante disso é que se abrem várias portas para o professor trabalhar com aulas práticas, segundo as várias vertentes a que se propõe o meio escolar.

Dessa forma, as experiências, além de ajudar no processo do desenvolvimento cognitivo, também auxiliam no desenvolvimento de conhecimentos científicos, assim, as aulas práticas permitem que os estudantes aprendam como abordar objetivamente o seu mundo e, como desenvolverem soluções para problemas complexos. Servem também como estratégia e pode auxiliar o professor a construir com os alunos, uma nova visão sobre um mesmo tema.


2 EJA: Um pouco de História

2.1 EJA no período colonial

A Educação de Jovens e Adultos no Brasil vem desde a época do Brasil Colônia, visto a preocupação dos jesuítas em trazer essa modalidade de ensino, para atender a finalidade da conversão dos nativos e que os colonos continuassem a professar sua fé, porém, na atualidade, a EJA é vista de outra maneira, conforme Aranha (2006), 

A EJA trazida pelos jesuítas terminou por caracterizar-se como uma ferramenta importante a serviço da dominação e dos interesses políticos, econômicos e religiosos, dos colonizadores, que de acordo com Paiva (1987), teve início juntamente com a educação regular, na qual as crianças aprendiam e, com isso atingiam seus pais, os quais eram alfabetizados e catequizados de acordo com a religião e cultura portuguesa.

Esse tipo de educação visava entender os costumes do povo local, bem como suas fragilidades, para que assim, devagar, fosse imposta a cultura e a crença jesuítica e os nativos aceitassem, sem resistir, o modelo de vida imposto, ou seja, eram adestrados, segundo Aranha (2006).

A cultura local foi, aos poucos, substituída pelo modelo europeu, o qual era tido como o único aceitável e, dessa forma, ocorreu a domesticação dos indígenas, como forma de suprir suas necessidades, atendendo, assim, os interesses dos grupos dominantes, que eram os jesuítas, os europeus e os colonos, conforme Aranha (2006).

Para a autora, a educação da Companhia de Jesus trouxe grande contribuição, mesmo com propósitos direcionados ao não afastamento da fé, entretanto, os adultos sofreram aculturação com vistas ao trabalho e, em relação às crianças dos colonos que tinham permissão para estudar, o ensino foi de grande importância, não podendo ser desconsiderada que a educação jesuítica foi fundamental para a história da educação brasileira, pois além da implantação de cursos superiores, assim como aos colonos proporcionou-se a educação informal aos colonos na área de artesanato e outros ofícios, exercidos por trabalhadores pobres, índios e escravos e, por isso desprestigiada. O mercado da época necessitava de mão-de-obra, eis a razão para que se ensinassem os adultos.

Com o crescimento da Companhia de Jesus houve certo receio que os jesuítas tomassem o poder político e econômico no Brasil, assim, em 1759, foram expulsos pelo Marquês de Pombal.

2.2 EJA no período imperial

A partir da expulsão dos jesuítas, todo sistema educacional por eles implantado foi arruinado, sofrendo um retrocesso, pois os jesuítas haviam proposto medidas que não estavam vinculadas com o sistema educacional, assim houve um rompeu-se com o período colonial e a chegada da família real trouxe mudanças no cenário da educação, no sentido de atender-se à classe dominante, de acordo com Aranha (2006). 

A autora relata que escolas e cursos foram criados com o intuito de atender-se aos interesses reais, surgindo uma nova demanda de mão-de-obra qualificada como advogados, médicos, militares, etc., assim, preparavam-se pessoas para ocupar cargos especializados, entretanto, a educação para o povo continuava restrita e dependia das autoridades, chegando ao ensino superior somente a elite, sendo que a classe baixa conseguiria chegar somente ao ensino elementar, com péssimas condições para os alunos, pois não havia locais adequados nem professores capacitados.

Apesar da Constituição de 1824 trazer a obrigatoriedade de se construir escolas em todos os lugares para atendimento ao povo, excluíam-se os escravos, os índios e os adultos. Houve pequenas modificações na educação para o povo com vinda dessa Lei, havendo um número ínfimo de matrículas nas escolas primárias, por motivos de pouco interesse político  e, pela cultura colocada para o povo que para se trabalhar com agricultura não era necessário escolarizar-se, perpetuando-se assim, o analfabetismo; a falta de investimentos na educação caracterizava-se outro motivo por não se procurar as escolas para matricular-se, segundo Aranha (2006).  

            De acordo com a autora, o ensino foi descentralizado, passando o ensino primário e secundário para a responsabilidade das províncias, ficando o ensino superior a cargo da realeza e, com essas mudanças houve prejuízo para a educação básica, pois faltavam condições financeiras para o pagamento dos espaços físicos e professores.

            Surge então, a educação de jovens e adultos como uma boa ação dos professores, os quais ministravam cursos noturnos, no intuito de se corrigir o erro quanto à educação dos pobres, brancos, negros libertos e alguns escravos ainda, não tendo essa modalidade de ensino amparo legal, mas amparando-se na bondade de algumas pessoas, conforme Aranha (2006).
           
2.3 EJA no período republicano
           
Para Aranha (2006), no período republicano houve o propósito da escolarização para todos, porém, acabou sendo para poucos, pois a partir da Revolução Industrial a necessidade de mão-de-obra qualificada passou a chamar a atenção dos trabalhadores que buscavam a educação profissionalizante, para atender a demanda do mercado. 

Assim, relata Zibetti (2005) que políticas públicas que atendessem a essa finalidade prover às exigências das indústrias foram pensadas. Entretanto, segundo Aranha (2006), não se implantaram reformas de fato, pois  não havia infraestrutura adequada, assim a educação de jovens e adultos visava somente educar pessoas para conhecimentos referentes à vida cotidiana, aprendendo apenas técnicas de leitura e escrita, cuja metodologia era descontextualizada da realidade do aluno

A educação de jovens e adultos deslanchou a partir de 1942, quando se lançou programas para atendimento a essa clientela, cujas disciplinas levassem ao desenvolvimento da aprendizagem para aqueles que não conseguiram escolarização na idade apropriada, segundo Paiva (2009)

Dentro dessa realidade, a educação de adultos ficou restrita à alfabetização no sentido de ensinar os alunos a assinar o nome com intenção de se obter o título de eleitor, conforme Fávero (2009).

2.4 EJA a partir de 1988

Com a democracia implantada no Brasil, o povo esperava por políticas públicas que atendessem suas perspectivas no que dizia respeito às necessidades básicas do cidadão. Dessa forma, a educação tornou-se um tema muito debatido, pois sobre a necessidade da promoção da Constituição que viesse ao encontro da realidade educacional brasileira. Assim, com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, a educação passou a ser um direito de todos, incluindo-se aqueles que não tiveram oportunidade de escolarizar-se na idade adequada e prepará-los para a sociedade, passando ao Estado, a obrigação de garantir a educação, resguardando o direito de todo indivíduo ao ensino público, para que se desenvolvesse de forma plena, inserindo-o no meio social, segundo Renner (2010).

2.5 Eja no Ano 2000

            Nesse período, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos trouxeram uma nova visão da EJA, com métodos de ensino com vistas à aprendizagem para a vida real e, não apenas como meio de profissionalização. 

            No ano de 2000 foi aprovada e publicada as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos (Parecer CNE/CEB 11/2000 e Resolução CNE/CEB 1/2000), proporcionando à EJA, uma nova roupagem, a qual delimita como um direito a se ter aprendizagem de fato, com metodologias para que se aprendam para vida, superando a visão de ensino para apenas profissionalizar-se, trazendo novas funções a ela destinadas, como a reparadora, equalizadora e qualificadora. Entretanto, apesar das diretrizes propostas para a EJA e, dos programas de erradicação do analfabetismo implantados pelas políticas governamentais, e das ações sociais promovidas o quadro ainda se apresenta deficitário, pois faltam investimentos na educação, no sentido de não deixar que o cidadão se torne adulto sem que seja alfabetizado na idade própria.


3 Jovens e adultos: Aprendizagem e conhecimento

            Quando se fala em conhecimento encontra-se certa dificuldade quando se trata das mudanças causadas às escolas públicas pela modernidade nas últimas três décadas, como o fato de a escola atender alunos fora da faixa etária, que não tiveram oportunidade para nela entrarem em idade apropriada, alunos pobres, cujas experiências diferem dos demais alunos (BRASIL, Coleção de EJA, Cad. 5, 2006).

            A escola passou a se tornar espaço de todos, com novas demandas não contempladas na educação tradicional como, os trabalhadores que retornaram à escola para adquirir conhecimentos que lhes permitiriam melhorar a vida profissional, havendo uma grande procura pela escola, causando crescimento da EJA e reconhecendo-a como modalidade de ensino.

            O conhecimento faz parte da vida do ser humano desde o seu nascimento e é por meio dele que se percebe o mundo ao redor, encontrando formas de transpor os obstáculos. Através dele se é capaz de utilizá-lo para construção da felicidade. Não se vive sem conhecimento. Portanto, o conhecimento nasce do relacionamento entre pessoas e o mundo. Dessa forma, sabe-se que na escola, nas diferentes salas de aula encontram-se alunos que têm necessidades diversas e, os alunos da EJA buscam o conhecimento que poderá auxiliá-lo no seu cotidiano, tais como, aprender a calcular preços, conhecer assuntos pertinentes à saúde, alimentação, divulgar produtos que por ventura venham a produzir, ler, ver e entender o noticiário, enfim, resolver problemas diários que para eles são mais difíceis pela falta da alfabetização. 

O produzir conhecimento resulta da ação do ser humano e no esforço coletivo, por isso, a sala de aula caracteriza-se como um excelente local para que isto aconteça, pois há diversos saberes, que poderão ser utilizados na prática, fora do reduto escolar. (BRASIL, Coleção de EJA, Cad. 5, 2006).

Nesse sentido, a teoria aprendida na sala de aula poderá sustentar a aprendizagem na prática, o que leva o aluno a apreender melhor o conhecimento. Assim, para que se pusesse a teoria em prática, é que o CEJA 15 de Outubro de Barra do Bugres-MT propôs um projeto para que fosse aplicado fora dos muros da escola, com o intuito de levar os alunos da EJA a compreenderem a importância que o Rio Paraguai tem no dia a dia da região em que a escola está inserida.   

           
4 Aulas da EJA através de projetos extra-classe

Buscando estimular a aprendizagem, é que a escola busca trabalhar com projetos das mais diferentes formas. Com isso, procurou-se desenvolver com os alunos do CEJA 15 de Outubro de Barra do Bugres-MT, um projeto transdisciplinar, com o Titulo “A importância do Rio Paraguai na Economia de Barra do Bugres”, assim definido, por extrapolar os muros da escola através de aulas de campo, relatadas a seguir.
O projeto proporcionou observar o quanto os alunos apreciam atividades diferenciadas, interativas e participativas, em que podem construir e manipular diversos conhecimentos. A busca por respostas pode ser visivelmente ampliada quando se trabalha teoria e prática lado a lado. Nesta abordagem, o aluno é o sujeito ativo do processo de ensino aprendizagem, assim, o professor deixa de ser somente o transmissor de conhecimentos e passa a ser facilitador, ao criar condições para que os alunos aprendam em um ambiente de compromisso, em que ao estar na sala de aula por interesse e não por obrigação, se sentem no dever de pesquisar e estudar. 

De acordo com Serrão (1999), o facilitador deve estabelecer vínculo afetivo com o grupo devendo ser libertador, permitindo-se a expressão de questões pessoais e conduz à autonomia, de forma a abrir espaço para novos questionamentos, quebrando preconceitos e impedindo que os rótulos se tornem permanentes e os papéis fixos.

Segundo Pessoa (2001) apud  Prigol e Gianotti (2008) o aluno poderá ser estimulado a gostar e a entender os conteúdos durante uma atividade prática, que deve partir da realidade do seu cotidiano.
Conhecer os motivos do surgimento do Município com aulas de campo são experiências agregadas ao dia a dia de cada aluno, caracterizando-se, também, uma forma de produzir conhecimentos, motivando-se mutuamente à pesquisa, em que o professor se torna um parceiro do aluno em seu aprendizado. 

No decorrer da pesquisa, as turmas trabalharam a leitura, escrita e a produção de texto. Durante o processo pode-se perceber o envolvimento com a aprendizagem através das aulas de campo, pois estimulou-se à escrita e, consequentemente, à leitura e à história do Município de Barra do Bugres. Os resultados foram visíveis, pois os Jovens e Adultos, no final do projeto, puderam ler e compreender a história deste Município.
Com isso, no transcorrer das pesquisas e debates agregaram-se novos conhecimentos, bem como refutaram-se alguns. Um dos primeiros passos da pesquisa foi a aula de campo, que possibilitou se conhecer in loco a poaia (ipecacuanha)¹.

 Sabe-se que a história de Barra do Bugres originou-se do fluxo migratório advindo com a extração da poaia e, iniciado a partir do final do século XIX. Em 1878, chegou à região Pedro Torquato Leite Rocha, vindo de Cáceres que ergueu rancho à margem direita do Rio dos Bugres, no local que desemboca no rio Paraguai. Deu-se início à exploração das cercanias em busca da preciosa poaia - a ipecacuanha - com resultados satisfatórios. A localidade tornou-se ponto de referência e famílias instalaram-se no local onde as águas do Rio dos Bugres encontravam-se com a correnteza turva do Rio Paraguai. O lugar começou a ser conhecido por Barra do Rio dos Bugres, passando essa denominação à história e, inserida nos mapas cartográficos pelo Marechal Candido Rondon.

Sabendo-se que a grande maioria dos alunos da Escola Estadual CEJA 15 de Outubro são oriundos de outros Estados e, que possivelmente, não conheçam a História do município que escolheram para viver, foi com essa perspectiva que se propôs realizar-se com os alunos da área de Ciências Humanas, uma aula de campo nos arredores de Barra do Bugres, para que pudessem conhecer a poaia, um arbusto de, no máximo 70 cm de altura, que de sua raiz extrai-se uma substância com o nome de emetina, utilizada para a fabricação de remédios. Segundo o Professor Jovino dos Santos Ramos, em seu livro Informativo sobre Barra do Bugres, a poaia  dessa região era a melhor do mundo, pois enquanto as de outras regiões produziam somente 0,80% de emetina, as do Vale do Guaporé, Paraguai e Sepotuba chegavam, com facilidade, a 2,80% dessa substância.

4.1 Relato da aluna Lucimara

“Apesar de ser nascida e criada nas redondezas de Barra do Bugres, nunca tive a oportunidade que estou tendo no CEJA 15 de Outubro, pois só aqui passei realmente a saber um pouco mais da história da minha cidade, através da poaia, esta planta que serve para fabricar remédios.”

4.2 Nascente do Rio Paraguai

No dia 01 de setembro de 2012, nós professores da área de Ciências Humanas, juntamente com alunos da referida área, às 5h e 30 min., tomamos café na Escola Estadual CEJA 15  de Outubro e em seguida seguimos de ônibus, destino ao Município de Alto Paraguai, com objetivo de conhecermos a nascente do Rio Paraguai, rio este, de fundamental importância para o desenvolvimento econômico do Município de Barra do Bugres. Visto estar se desenvolvendo no CEJA 15 de Outubro, cujo título já foi referido anteriormente, esta aula de campo teve por objetivo maior, a sensibilização da nossa clientela escolar, no que diz respeito aos cuidados que devemos ter com o rio Paraguai e toda a sua extensão, porém, mais precisamente, na parte em que passa na cidade de Barra do Bugres, pois se encontra em péssimas condições, tendo suas margens toda devastada e, com grande incidência de erosão e assoreamento.

A nascente do rio Paraguai está localizada no Município de Alto Paraguai, em um local privilegiado, pois lá se desenvolve projeto de reflorestamento e percebemos que os donos da fazenda Sete Lagoa, onde se encontra a nascente, estão realmente empenhados em fazer como que o reflorestamento dê certo, pois o plantio de agricultura já está distante da nascente como o exigido por Lei. Os alunos ficaram realmente encantados com o local da nascente e voltaram com o firme propósito de serem propagadores de uma cultura de preservação do Rio Paraguai, uma vez que 100% da população barrabugrense fazem uso das águas do Rio Paraguai.

4.3 Aldeia Umutina

No dia 06 de agosto de 2012,  com saída às 13 h, com destino à Aldeia Umutina, os alunos da área de Ciências Humanas, juntamente com os alunos da área de Ciências da Natureza e Matemática, com o objetivo de conhecer a importância do Rio Paraguai no cotidiano das pessoas da Aldeia. Os alunos da área de Humanas, em conjunto com os professores elaboraram cinco questões que foram indagadas aos indígenas aleatoriamente e sem a intervenção dos professores.

A primeira questão foi: Qual a importância do Rio Paraguai no cotidiano do povo Umutina? A segunda: Como é feita a pesca no Rio Paraguai. Por vocês? A terceira: As pessoas da Aldeia Umutina conseguem sobreviver somente do Rio Paraguai? A quarta: A aldeia promove alguma festividade em homenagem ao Rio Paraguai? A quinta: O que vocês fazem para preservar o Rio Paraguai? 

As perguntas foram feitas pelos alunos aos indígenas aleatoriamente, por sua própria escolha, podendo ser professores ou alunos indígenas, ou seja, vários alunos fizeram as mesmas perguntas a diferentes pessoas da etnia Umutina. Assim sendo, obtiveram-se várias  respostas para várias perguntas. Após o término da pesquisa, os alunos da área de Humanas se reuniram, já na escola, sintetizando as respostas, obtendo-se o seguinte resultado: 

Na primeira questão, os indígenas da aldeia Umutina afirmaram que o Rio Paraguai, bem como as matas preservadas produzem-lhes alimentos, além de ervas que servem como remédios. Na segunda questão os indígenas relataram que a pesca é feita com arco e flecha, com anzol, bem como com timbó, ou seja, um cipó que, em contato com a água, produz uma substância que deixa os peixes atordoados e, portanto, fácil de serem apanhados. Na terceira questão disseram que não conseguem sobreviver somente do rio, que também caçam, plantam agricultura de subsistência e produzem artesanatos. Na quarta responderam que promovem uma festa em homenagem ao Rio Paraguai, mas que essa festividade é promovida no córrego 18, que é afluente do Rio Paraguai e passa no meio da Aldeia. Finalmente, na quinta questão afirmaram que a limpeza é feita dentro e fora do rio e, que na margem do lado indígena, a floresta está preservada.

A aula de campo na aldeia Umutina foi de grande serventia para os alunos da área de Ciências Humanas, pois os levou a compreender a importância do Rio Paraguai na sobrevivência do povo Umutina e também aprendeu-se que se deve preservar as matas ciliares, pois elas são de extrema importância e funcionam como filtros, ou seja, elas não deixam causar erosão e nem deixam os agrotóxicos fluírem para dentro dos rios.

 4.4 Área de risco: Ribeirinhos

Com o intuito de levar adiante a conservação do Rio Paraguai, os professores da Escola Estadual CEJA 15 de Outubro, juntamente com os alunos da área de Ciências Humanas, decidiram realizar uma pesquisa sobre a área de risco à margem direita do Rio Paraguai, que é considerada imprópria ao assentamento humano, por estar sujeita a inundações, desmoronamentos e contaminações com resíduos tóxicos. A pesquisa foi realizada no período matutino, no dia 07 de agosto de 2012. 

Foram entrevistados alguns moradores dessa área, para saber as opiniões deles sobre as mudanças ocorridas no local. Percebeu-se que, a grande maioria dos moradores está insatisfeita com as novas mudanças,  com os projetos realizados pelo Prefeito Municipal à margem do Rio Paraguai. 

De acordo moradores da região há 45 anos na área, saída desses moradores destruiria culturas e sentimentos e, que o projeto do Executivo, consiste em terminar a construção do restaurante  à margem do rio, local em que diz ser área de risco para os moradores ribeirinhos, bem como já está construindo um muro com barreira de contenção, obrigando os ribeirinhos a deixarem a área, ou seja, suas residências.

Outros moradores entrevistados, que residem na área há 21 e 42 anos, alguns alugam condomínio para sua sobrevivência. Uma moradora diz estar desapontada com as atitudes do Chefe do Executivo ao implantar o projeto à margem direita do rio Paraguai.

Foram tomadas inúmeras medidas na realização do Projeto Água: A Importância do Rio Paraguai,  para o desenvolvimento econômico de Barra do Bugres, tais como: pesquisa de campo, pesquisa em laboratório, entrevistas com os moradores, aula de campo de reconhecimento da nascente do Rio Paraguai, fotos, filmagens e outros.

Diante do exposto, percebeu-se que os alunos retornaram à escola, mais críticos e participativos com a política do Município, inclusive, questionando se, ao invés da construção do muro de contenção, não se deveria fazer o reflorestamento das margens do Rio Paraguai e, assim, estaria se conservando-as, como também, beneficiando a sociedade como um todo.


Considerações finais

            O presente artigo teve como objetivo relatar as experiências obtidas com a aplicação na prática, de conteúdos ensinados na sala de aula aos alunos da EJA, do CEJA 15 de Outubro do Município de Barra do Bugres-MT. Para a realização do projeto, os alunos, juntamente com os professores da área de Ciências Humanas do CEJA se deslocaram até a região do Rio Paraguai, onde puderam entrevistar moradores ribeirinhos sobre sua importância no desenvolvimento do Município.

 Assim, pode-se se comprovar por meio da análise das respostas obtidas, que os moradores da região visitada pelos alunos e professores consideram que o rio é fundamental para as atividades praticadas por eles e cobram das autoridades competentes melhorias no cuidado com o referido Rio, para que continuem vivendo e usufruindo das riquezas naturais por ele produzidas.

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. rev e ampl. São Paulo: Moderna, 2006.


BRASIL, MEC. Trabalhando com a Educação de Jovens: O processo de aprendizagem dos alunos. Coleção EJA. Cad. 5. Brasília, 2006.
E PROFESSORES
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui%c3%A7ao.htm>. Acesso em: 10.  Jan. 2013


FÁVERO, Osmar. Lições da História: os avanços de 60 anos e a relação com as políticas de negação de direitos que alimentam as condições do analfabetismo no Brasil. In: PAIVA, Jane; OLIVEIRA, Inês B. de (Orgs.). Educação de Jovens e Adultos. Petrópolis, RJ: DP et al. 2009.


PESSOA, O, F. Os Caminhos da Vida. São Paulo: Scipione, 2001.


PRIGOL, Sintia; GIANOTTI, Sandra Moraes.  A Importância da Utilização de Práticas no Processo de Ensino-Aprendizagem De Ciências Naturais Enfocando a Morfologia da Flor. Disponível em: Acesso em: 21. Out. 2012.


SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Clarice. Aprendendo a ser e a conviver. 2. ed. São Paulo: FDT, 1999.


ZIBETTI, Darcy Walmor. Teoria Tridimensional da função da terra no espaço rural. Curitiba: Juruá, 2005.

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