Ebenezer de Menezes
Agência EducaBrasil
As concepções que os alunos trazem do cotidiano para a sala de aula interferem no aprendizado de Física? De que maneira ocorre essa interferência? As concepções aceitas pelos alunos e erradas cientificamente podem ser modificadas com o auxílio da História da Ciência? Essas e outras questões foram feitas num estudo realizado na Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) que enfocou a queda dos corpos, um item da mecânica clássica. O critério de escolha, segundo a pesquisadora Maria José Fontana Gebara, foi a preocupação em abordar a História da Ciência e as concepções de mundo das pessoas, ou seja, como elas vêem a posição da Terra no universo, seu movimento etc.
Citando Aristóteles, por exemplo, a pesquisadora lembra que ele afirmava: o corpo mais pesado cai primeiro. Segundo seus estudos, que envolveu 55 alunos da 2ª série do ensino médio de uma escola particular em Campinas, esse equívoca permanece até hoje, embora Galileu tenha revisto essa idéia e concluído que a queda dos corpos independe de suas massas, desde que não haja a presença do ar.
O grande problema é que, se os alunos sabem que vão ser questionados sobre o assunto, acabam decorando a resposta. “Eles recitam a resposta”, explica a professora, que atua no ensino médio do Instituto Educacional Imaculada, de Campinas. Porém, se a pergunta estiver de uma maneira disfarçada, envolvendo o mesmo conceito, teremos uma outra situação. “A maioria dos alunos respondeu que o corpo mais pesado cairia primeiro”, constatou a professora em sua pesquisa.
Outro equívoca bastante comum e que apareceu no estudo foi confundir ausência de ar com ausência de gravidade. “Quando formulei algumas questões sobre o ambiente lunar, onde não tem ar e portanto os corpos cairiam ao mesmo tempo, eles (os alunos) afirmavam que, por causa da ausência de ar, os objetos ficariam flutuando”, conta. Ou seja, a existência da gravidade simplesmente foi ignorada pelos alunos.
A História da Ciência teria importância para o ensino de Física para fazer frente a uma herança positivista, que fragmenta o conhecimento. “Historicamente sabemos que dividir o conhecimento é uma maneira de dominação”, explica a pesquisadora. Ela admite que, se o conhecimento vai se ampliando, as pessoas não conseguem ter informações sobre todos os assuntos. Isso seria válido apenas para a pesquisa de ponta, com a realização de algum trabalho específico que não se possa dispersar. “Mas nós, que trabalhamos com o ensino médio, com a formação do aluno, temos que tomar o cuidado de mostrar a ciência como algo único que está ligado, com relações que existem entre as diferentes ciências”, justifica. Portanto, a História da Ciência seria fundamental para atender essa nova concepção de ensino mais interdisciplinar, observada inclusive nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Apesar desse reconhecimento, a formação do professor ainda não contempla essa abordagem. “Durante toda a minha formação não tive um curso de História da Ciência”, revela a pesquisadora.
Além da pesquisa de campo, Gebara também fez uma revisão bibliográfica sobre a História da Ciência, o ensino de Física e outros temas afins. “O professor que estiver começando vai poupar muito trabalho porque todas as referências interessantes que encontrei na área estão no meu trabalho”. Seu estudo também contribui com um roteiro de trabalho, utilizando vídeos, experiências, pesquisas em bibliotecas junto com os alunos, avaliação de livros didáticos etc.
Para Gebara, o ensino de Física não está conseguindo alcançar seus objetivos: migrar do senso comum para o conhecimento científico. Além disso, há um outro problema: “Acho que o aluno está satisfeito com o que sabe”. Ou seja, segundo a pesquisadora, se aluno estiver insatisfeito, ele vai querer mudar, questionar e, consequentemente, aprender. “As respostas que ele (o aluno) tem são muito confortáveis”, salienta. “Então, o nosso trabalho vai ser mais eficiente se a gente conseguir fazer com que ele (o aluno) se sinta insatisfeito e incomodado.”
“O ensino e a aprendizagem de Física: contribuições da História da Ciência e do movimento das concepções alternativas. Um estudo de caso”, dissertação de mestrado de Maria José Fontana Gebara. Orientação do prof. dr. Décio Pacheco. Defesa em outubro de 2001, na Faculdade de Educação da Unicamp.
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