Armanda Zenhas
Se é a geração que mais esperou da vida e para quem mais se esperou da vida, é talvez a que, pela primeira vez, menos preparada está para enfrentar as dificuldades.
O que leva uma mãe a aconselhar o seu jovem filho, ex-estudante de sucesso, mestre em Bioquímica, a emigrar, depois de uma separação de seis meses de Erasmus e de outra de outros tantos meses de estágio profissional do outro lado do Mundo? Como a tantas outras mães, pressiona-a a consciência de que presentemente, em Portugal, muitos jovens, licenciados ou não, não têm emprego, não podem sair de casa dos pais, não têm perspetivas de futuro, de autonomia, de construção de projetos pessoais, no domínio profissional ou familiar. Pressiona-a a consciência de que a construção de uma carreira profissional e de uma vida autónoma poderá ter mais probabilidades de sucesso fora do país.
Não era este o futuro que se imaginava para os nossos jovens. A nossa juventude foi educada para ter melhores condições de vida que a dos pais, que tudo sonharam para os filhos. Se é a geração que mais esperou da vida e para quem mais se esperou da vida, é talvez a que, pela primeira vez, menos preparada está para enfrentar as dificuldades. Habituados a ter tudo sem qualquer esforço, acostumados a que os pais resolvam todos os seus problemas e satisfaçam todos os seus caprichos, a muitos jovens faltam armas essenciais em períodos de dificuldade: resistência à frustração, iniciativa, autonomia, capacidade de definição e reformulação de objetivos de curto, médio e longo prazo, perseverança na luta pela sua consecução. Tudo isto, na minha perspetiva, não os torna culpados, como por vezes tenho, injustamente, visto sugerido. São, pelo contrário, o fruto de uma educação que, querendo poupá-los a sofrimentos, não os preparou para as dificuldades.
Considero fundamental que, neste momento de crise, as famílias repensem os seus princípios educativos. O valor e o uso da palavra "não" foi-se perdendo, sendo ela tão importante em educação. Não se pode satisfazer todos os caprichos dos filhos, que precisam de distinguir limites e de aprender a adiar gratificações, a lidar com frustrações, a lutar pelos seus objetivos. Não é eliminando todos os obstáculos que se preparam os filhos para a vida. O aproveitamento de oportunidades de formação é também importante. A formação da escola é essencial, mas não chega. Vivemos num mundo global em que a capacidade de iniciativa e de resolução de problemas bem como de adaptação a novas situações são cruciais. O alargamento de horizontes culturais, geográficos e de conhecimento ajuda à preparação para este mundo de incertezas. Vale a pena, por isso, participar em concursos escolares ou em projetos que permitam contactar com outros jovens e outras realidades, de outras escolas/terras/países; em campos de férias longe de casa; em atividades de voluntariado; no Erasmus; em estágios profissionais, em Portugal ou no estrangeiro. O conhecimento de línguas é também indispensável.
O mundo de sonho que idealizámos para os nossos jovens transformou-se num outro em que, com revolta, ouço os Direitos Humanos referidos por muitos como regalias, ou o desemprego, a fome e a perda de dignidade humana tratados como mera "gestão de recursos". As perspetivas não se afiguram favoráveis. Mas é nossa responsabilidade, como educadores, encontrar formas de preparar melhor as gerações jovens para o mundo real. Se, como referi, culpabilizar os jovens é injusto, desresponsabilizá-los também não é o caminho. Eles precisam de ser proativos na construção do seu projeto de vida.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário