Neste breve texto buscamos relacionar alguns aspectos presentes no programa televisivo da Rede Globo “Big Brother”, que já está na décima edição, com a sociedade atual. No final, apresentamos uma sucinta proposta de formação humanística como viés de uma paulatina conscientização.
No programa televisivo, o grande objetivo de cada participante é ganhar o jogo e com isso um bom dinheiro, uma proposta para posar nu e ficar famoso. Analisando o programa e a sociedade atual, parece que estamos convivendo com uma geração big brother. Na grande maioria as pessoas querem mesmo é vida boa, sucesso e dinheiro sem esforço e sem trabalho. Esquecem por completo a bela frase de Einstein “O único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”.
Os mesmos critérios que a emissora de televisão utiliza para selecionar seus participantes, o indivíduo na sociedade se utiliza. Por exemplo: não há interesse para a emissora colocar um participante que não atinja um determinado índice de audiência. O brother do dia a dia elimina de seu círculo de convivência todas as pessoas que não satisfaz seus interesses imediatos, isso inclui a eliminação de valores como religião e família se acaso uma destas instituições vier atrapalhar seu sonho de brother.
O brother de nossa sociedade vive constantemente em busca do prazer. O prazer está acima de tudo e de todos. Para se viver bem, deve-se evitar o sofrimento. Aliás, o brother atual não pode se deixar levar por sentimentalismos alheios. O que importa é o seu sucesso, não o bem estar do outro. Com isso, muitas pessoas, hoje, são marcadas por uma significativa frieza e insensibilidade. É mais fácil se comover com uma cena de novela, de um filme de ficção a ver todos os dias pessoas implorando por comida, pessoas mutiladas pela guerra. Chora-se diante da ficção em detrimento da realidade.
No intuito de atingirem seus objetivos os brothers que convivem entre si, acabam tornando-se um obstáculo um para o outro. No programa televisivo, todo participante é um adversário, só ganhará o participante que conseguir permanecer na casa, aquele que conseguir eliminar todos os seus conviventes. Na sociedade, lamentavelmente não é diferente. Para conseguir uma ascensão profissional é preciso deixar colegas de trabalho para trás, ou seja, eliminá-los. O jovem para entrar em uma universidade precisa eliminar seus colegas no vestibular. A máxima de Paul Sartre, filósofo existencialista do século passado, está mais do que presente: “O outro é um verdadeiro inferno para mim”. Realmente, a presença do outro, aniquila, reduz, coisifica. Por isso, é preciso eliminá-lo.
Diante desta realidade, urge uma conscientização, precisa-se urgentemente investir e fazer significativas mudanças no campo educacional, ou seja, ir além da mera formação superespecializada, fragmentada, que acaba formando indivíduos que sabem tudo de quase nada e que pensam apenas em seu bem-estar. Faz-se necessário uma formação mais humanística. Os educadores deveriam lembrar com mais frequência o grande objetivo da educação brasileira que é preparar os educandos para o exercício da cidadania e qualificar para o trabalho (Art. 205 da constituição brasileira). A cada ano que passa, a impressão que se tem, é que a educação está mais preocupada em formar para o trabalho, para o sucesso individualizado deixando para segundo plano a formação cidadã.
Portanto, a escola deveria ser capaz de formar pessoas competentes para as mais diversas áreas de trabalho, mas ao mesmo tempo formar cidadãos: éticos, justos, pessoas mais sensíveis ao mundo, críticas e solidárias. Para tanto, volto a insistir na ideia: precisamos nos humanizar, na sociedade atual precisamos ser mais irmãos e “menos brothers”.
Eleandro Carlos Rossatto,
Filósofo e Educador de Ciências Humanas no ProJovem Urbano de São Leopoldo.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Espaço do Professor A educação escolar em tempos de "Big Brother"
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