Carlos Bernardo González Pecotche (RAUMSOL)
Entre os milhares de matizes pitorescos que contornam a psicologia humana, nenhum é tão curioso e extravagante como a impaciência, quando se manifesta o perfil da pressa.
A memória dos fatos observados faz recordar um personagem que vivia em constante agitação. Tomava café da manhã apressadamente, pondo-se intolerável se num instante não fosse servido satisfatoriamente, embora depois demorasse duas horas lendo o jornal. Saía de casa com invariável pressa, irritando-se com qualquer demora ou contratempo que lhe impedisse de chegar rapidamente ao seu serviço habitual. Mas não levava em conta o tempo que tardava para começar a trabalhar.
Andava pelas ruas como quem cumpre urgentes diligências, e, cada vez que encaminhava um assunto qualquer, sempre se referia à escassez de seu tempo, protestando com ira quando alguém demorava um minuto para atendê-lo.
Dava a impressão de sempre estar ocupado com assuntos importantes, embora nada lhe impusesse urgência para ter tais pressas; ao contrário, muitas vezes era visto perdendo lamentavelmente o tempo em coisas pueris ou em conversas intranscendentes.
Durante sua juventude, começou uma e mais vezes diferentes carreiras universitárias, sem conseguir nunca formar-se em nenhuma delas, pois que, tão logo começava seus estudos, apoderava-se dele uma voraz ansiedade por concluí-los quanto antes, de tal forma que, não podendo conter seu apressamento, decepcionava-se, deixando truncado seu propósito. De igual modo atuava, enfim, com tudo o mais, sendo sua vida, por causa dessa deficiência, uma constante sucessão de desventuras.
Alguém, certo dia, fez com que ele notasse sua lamentável falha, e com tanta clareza, tino e acerto, que, ante a visão mental do desafortunado personagem, rodou integralmente o filme monótono de sua vida, fugazmente vivida, penosamente desaproveitada, na qual sobressaíam projetos malogrados, lacunas sem preencher, anelos e esperanças sem satisfazer, ansiedade indefinida por coisas que jamais puderam ser concretizadas.
O pranto começou, então, a correr pelas linhas de sua face sombria. Mas a voz amiga convidou-o a contemplar quanto ainda ele tinha por viver, e, ao lhe indicar a forma de administrar seu tempo vindouro para recuperar o que jazia no passado, incitou-o a praticar durante alguns meses um novo método de vida e forjar uma nova concepção da existência: “Deve começar por estimá-la e valorizá-la como algo transcendente”, disse-lhe; “como uma oportunidade que terás de aproveitar até o último suspiro, procurando enriquecê-la cada dia com mais amplos e valiosos conhecimentos. Isso te proporcionará muitos momentos felizes, tonificará tuas energias com novos e fecundos entusiasmos, com estímulos precursores de férteis esforços que te aproximarão cada vez mais das fontes inesgotáveis da Vida Universal.”
Com essas reflexões, cuja extensão e profundo conteúdo contrastavam claramente com sua vida estéril e agitada, cheia de urgências vãs e carente de realizações concretas, o infeliz personagem, compreendendo seu erro, deciciu-se a frear seus arranques impulsivos e a começar uma vida nova, mais consciente, mais sensata, mais positiva.
Anos mais tarde, o ex-apressado comentava com verdadeiro prazer o episódio narrado, confessando que a mudança de compreensão sobre a vida, operada nele, fazia-o experimentar a sensação de estar aproveitando inteligentemente não só o tempo de toda uma vida, senão o de várias ao mesmo tempo.”
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