quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Querida professora

Ines Martins

A maturidade tem também suas vantagens, pois além de nos fazer contemplar o passado, às vezes com certa nostalgia, também nos dá mais credibilidade em nossas opiniões já que são alimentadas pela nossa experiência de vida. E essa, não se encontra a venda em nenhum lugar. É como o DNA, cada um tem o seu e é único.

Foi no dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à educadora Santa Tereza D’Ávila), que D. Pedro I baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, “todas as cidades, vilas e lugarejos teriam que ter suas escolas de primeiras letras”. Esse decreto falava da: descentralização do ensino, do salário dos professores, das matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados. No entanto, a ideia, inovadora e revolucionária, só entrou em prática em 1947, 120 anos depois.

E a verdade que dói, é que em todo o Brasil, o quadro que se mostra, ainda é de descaso para com os professores. Além da corrupção que é responsável pelo desvio de milhões de reais, os baixos salários e os níveis de investimentos na qualidade da educação pública, são os principais responsáveis pelo caos vivido historicamente pela educação.

A mídia também tem mostrado através das propagandas um perfil construído ao longo de dezenas de anos: um professor dócil, que trabalha por amor e por paixão cuja opção política e pedagógica muitas vezes os silenciam sobre os reais problemas que enfrentam no dia a dia. Abordo esse assunto porque agora no dia do professor lembrei-me da minha primeira mestra. Aquela, que me alfabetizou, dona Lurdes. Houve um dia em que a mesma não compareceu à aula. Logo ela, que era tão querida e dedicada.

Depois foi mais um dia, outro dia, até que a professora substituta nos pediu com uma voz embargada pela emoção para que escrevêssemos uma frase de carinho para essa nossa professora, pois a mesma estava muito doente e talvez não voltasse mais para nos dar aulas.

Assim, nós, sem entendermos bem a gravidade da doença, escrevemos cada uma a sua frase num papelzinho e colocamos numa caixa. Passaram-se alguns dias e foi formada uma comissão para visitá-la. Fui uma das escolhidas para essa visita. Passe o tempo que passar, jamais esquecerei esse dia. Entramos em seu quarto e lá estava ela, linda e delicada. Fez questão de se pintar para nos receber. Na cabeça, um lindo turbante branco, encobria sua cabeça e adornava os belos traços do seu rosto. Ela jamais nos mostraria que não tinha mais seus lindos cabelos.

Na mesa ao lado, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e um terço eram testemunhos de sua fé. Na parede, bem em frente a sua cama, uma cartolina rosa colada na parede exibia em letras grandes a frase que escrevi a ela: - “Querida professora, a senhora é a luz que clareia meu caminho, por isso, volte logo. Eu amo muito a senhora e todo mundo aqui da classe também. Desculpe o dia que não estudei a tabuada, mas agora eu já sei”. Da aluna do seu coração, Inês

Uma semana depois, ela voltou, mas, para o céu...

Inês Martins é produtora cultura, escritora, autora do concurso literário "Casos Lembrados, Casos Contados", direcionado às pessoas com idade acima de 60, poetiza, palestrante da maturidade, vovó blogueira e escreve neste espaço toda quarta-feira (www.vovoantenada.com.br)

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