quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O sentido do socioeducador

É preciso ter sempre em mente o paradoxo socrático: “ninguém faz o mal voluntariamente, mas por ignorância, pois a sabedoria e a virtude são inseparáveis”. E, segundo a logoterapia, nossos assistidos não devem ser tratados como são, mas como deveriam ser

MANOEL RESENDE
MPE

O sentido da vida, segundo a Logoterapia, é visto como orientação fundamental do ser humano. Numa dialética da orientação ao prazer (Freud) e orientação ao sentido (Viktor Frankl), se verifica que aquele entende que a motivação fundamental do ser humano seria a satisfação das necessidades (que acarreta prazer). Mas Viktor Frankl entende que a motivação fundamental do ser humano é a busca de sentido da vida e que a felicidade nem pode ser objeto de uma busca direta – ela só pode ser alcançada indiretamente, quando realizamos algo que tenha sentido (e o que tem sentido e o que não tem sentido a nossa consciência nos diz);

O sentido da vida pode ser encontrado no cumprimento de uma missão aqui na Terra. – As tarefas que realizamos na vida podem ser encaradas como ocasião de participar da “modelação de um plano divino”. É nesse aspecto que gostaria de propor uma reflexão sobre o sentido do cumprimento da medida socioeducativa de internação.

O que dizer aos nossos socioeducadores? É necessário procurar desobsessionar os adolescentes quanto a busca de prazer (satisfação das necessidades), que é uma função decorrente da dimensão psíquica, e centrar a atenção na busca do sentido da vida, que é função decorrente da dimensão espiritual do ser humano (o homem não é constituído somente das dimensões corporal e psíquica, como viu Freud, mas possui também a dimensão da liberdade espiritual, como afirma Viktor Frankl);

A Unidade de Internação deve ser vista como “Oficina de Conserto”, semelhante ao sonho de Dom Bosco (carneiros encardidos que se transformavam em carneiros alvos), levando este educador a cuidar das crianças e adolescentes, centrado no objetivo de transformar crianças e adolescentes “perdidos” em honestos cidadãos e bons cristãos.

Importante ainda estimular os adolescentes em conflito com a lei a aproveitar todas as atividades que a Unidade oferece (valorizar as aulas, leituras, cursos profissionalizantes, jogos, natação, mais educação, etc.). Os adolescentes precisam ser ajudados a, durante os espaços livres, elaborar projetos concretos em relação ao que fazer quando sair da internação (p. ex.: elaborar currículos para distribuir nas empresas ...). Segundo a Logoterapia em cada situação de vida é possível vislumbrar um sentido, aproveitá-lo e realizá-lo. Cogitar também de realizar trabalho voluntário, ou trabalho manual, enquanto se prepara melhor profissionalmente ou se espera a oportunidade desejada, mas evitar ficar parado;

Outro aspecto que precisa ser trabalhado refere-se ao desenvolvimento da capacidade de crítica dos adolescentes sobre o ato infracional de que foram autores. É necessário ajudá-los a lidar com a culpa mediante a utilização da liberdade para realizar, propositadamente, ações que tenham sentido com o objetivo de reparar, retroativamente, a culpa;

O incentivo ao bom comportamento (disciplina) também precisa ser priorizado – aprender a “engolir sapos”, perdoar ...; fazer ver que todos temos que nos auto educar (superação dos potenciais agressivos e das tendências egoístas) – Exemplo dos chamados santos (da igreja católica), os quais se auto educaram de maneira exemplar, mas tiveram como ponto de partida suas naturezas precárias e foram se aperfeiçoando aos poucos;

Em relação aos problemas de drogadicção, os socioeducadores precisam orientar os envolvidos a confiar mais na vida e realizar renúncias em vista de valores superiores, como a sobriedade, a liberdade (não ser escravo do vício) e o verdadeiro sentido da vida. Também fortalecer a força de vontade (fazer, cotidianamente, algo que não apetece – p. ex.: comer jiló, ou dispensar algo prazeroso como um pudim, um chocolate ...). E investir, com garra, na realização de valores criativos, valores de vivências sociais e valores de atitude (ser vencedor, através da superação dos sofrimentos inevitáveis).

Para concluir, é preciso ter sempre em mente o paradoxo socrático: “ninguém faz o mal voluntariamente, mas por ignorância, pois a sabedoria e a virtude são inseparáveis”. E, segundo a logoterapia, os nossos assistidos devem ser tratados, não como eles são, mas como eles devem ser.

(*) MANOEL RESENDE RODRIGUES é Promotor de Justiça que atua na Defesa da Infância e Juventude em Cuiabá.

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