quarta-feira, 3 de abril de 2013

Cuiabá em versos públicos

Cuiabá do bagre ensopado com pirão. Cuiabá no verso de um sertão metropolitano em falsetes. Cuiabá no verso de um palácio dividido em palacetes. Cuiabá no verso de uma ladeira superficialmente asfaltada. Cuiabá no verso de bandeira hasteada em pavilhão



AIRTON REIS
Divulgação

Cuiabá do rio piscoso de outrora. Cuiabá da modernidade sem demora. Cuiabá da criança sem creche e sem escola. Cuiabá da criança pedinte no sinal. Cuiabá da criança aprendiz de marginal. Cuiabá da mangueira sem quintal. Cuiabá do rio em agonia mais que ambiental. Cuiabá da periferia mais que marginal. Cuiabá do Centro Geodésico da América do Sul. Cuiabá do Centro Oeste do Brasil. Cuiabá das lavras de uma aluvião de abril. Cuiabá do bandeirante Miguel Sutil. Cuiabá da forquilha em arraial populoso. Cuiabá da quadrilha em mais de um bando perigoso.


Cuiabá da copa e da cozinha. Cuiabá da varanda e da sala. Cuiabá do quarto e do banheiro. Cuiabá do povo hospitaleiro. Cuiabá do povo miscigenado. Cuiabá do povo cristão. Cuiabá do povo sem representação política e social. Cuiabá do povo sem voz no Congresso Nacional. Cuiabá do povo pedinte de cidadania. Cuiabá do povo enganado pela falsa democracia. Cuiabá do povo sem circo e sem pão. Cuiabá do povo figurante de eleição em eleição. Cuiabá do povo aglomerado em expansão urbana.

Cuiabá do povo papa-bananas. Cuiabá do povo papa-léguas. Cuiabá do povo papa-capim. Cuiabá do povo papa-cupim. Cuiabá do povo tomador de guaraná ralado na mão. Cuiabá do povo comedor da paçoca de pilão. Cuiabá do povo sem integração nacional. Cuiabá do povo sem navegação fluvial. Cuiabá do povo sem vagão comercial. Cuiabá do povo sem rodovia federal. Cuiabá do povo guardião do Pantanal em cheia e vazante alterada. Cuiabá do povo sem água tratada. Cuiabá do povo sem rua iluminada. Cuiabá do povo vítima da violência banalizada. Cuiabá do povo órfão em assistência social. Cuiabá do povo sem educação ambiental. Cuiabá do povo sem vaga no pronto socorro municipal.

Cuiabá enferma no quesito institucional. Cuiabá combalida no traçado original. Cuiabá sem porta e sem janela estadual. Cuiabá assolada pelo crescimento vertical. Cuiabá habitada por mais de um infante marginal. Cuiabá sem retoque de cal. Cuiabá sem azul colonial. Cuiabá sem azul celestial. Cuiabá sem azul anil no firmamento. Cuiabá sem azul de parlamento em parlamento. Cuiabá no esquecimento de quem foi majestade mesmo sem reinado.

Cuiabá do bagre ensopado com pirão. Cuiabá no verso de um sertão metropolitano em falsetes. Cuiabá no verso de um palácio dividido em palacetes. Cuiabá no verso de uma ladeira superficialmente asfaltada. Cuiabá no verso de uma bandeira hasteada em pavilhão. Cuiabá no verso de um rio contaminado de poluição em poluição. Cuiabá no verso de uma avenida sem conclusão. Cuiabá no verso de uma rua negociada na madrugada. Cuiabá no verso de uma praça abandonada. Cuiabá em versos públicos redigidos numa mesma folha mais do que ilustrada. Leiamos a lei!

(*) AIRTON REIS é poeta em Cuiabá-MT e  colaborador de HiperNoticias. E-mail: airtonreis.poeta@gmail.com

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