quarta-feira, 3 de abril de 2013

Diretora transforma a escola onde foi alfabetizada

A EMEF Dr. Carlos Guimarães, uma escola na periferia de Belém (Pará), não chama atenção pela fachada, mas uma estação de coleta de material reciclável bem na frente do portão de entrada, desperta curiosidade.
A responsável pela estação e por muitos outros projetos que envolvem Educação e Sustentabilidade é a diretora Cristina Arruda. Quase trinta anos depois de ser alfabetizada na mesma escola, a professora de Ciências tornou-se diretora e começou um movimento que está transformando a Dr. Carlos Guimarães em uma referência em sustentabilidade na rede estadual.
Cheguei mais cedo para o encontro com a diretora. A escola estava vazia porque as aulas da rede estadual começaram apenas no dia 18 de março. No pátio, seis pessoas trabalhavam na lavagem do chão utilizando água da chuva coletada por cisternas e um banner gigante ocupava a parede do refeitório explicando as ações sustentáveis da escola.
Fui convidado a aguardar Cristina em sua sala. Nela, várias figuras religiosas, adesivos com a mensagem “Pense Verde” nas gavetas e uma matéria de jornal local com a chamada “Consciência ambiental é baixa no Norte”. Enquanto esperava, conversei com a servente Delcy Guimarães, que trabalha há 32 anos na escola, e ouvi que a diretora foi a principal responsável por criar e priorizar as ações ligadas à sustentabilidade e também pelo bom estado da infraestrutura da instituição.
Como tudo começou
Cristina entrou na EMEF Dr. Carlos Guimarães como professora em 2008. Sempre trabalhando com ensino baseado em projetos e com Sustentabilidade, ela criou uma horta com os alunos de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Com o apoio da gestão da época, conseguiu firmar uma parceria com o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para formação dos alunos em olericultura básica e buscou envolver toda a comunidade escolar no projeto. 
No final do mesmo ano, a atuação de Cristina no projeto da horta escolar teve tanto destaque que ela foi convidada a assumir a diretoria. “No ano seguinte, a escola passou por uma reforma geral e foi realizada uma jornada pedagógica intensa com a Educação Ambiental como eixo norteador”, contou. Além disso, a receita do projeto da horta continuou a ser replicada em muitas outras iniciativas sustentáveis adotadas pela escola: envolvimento da escola e da comunidade, firmação de parcerias com empresas e ONGs, capacitação dos atores envolvidos e resultados concretos em curto e médio prazo.
O dia a dia de uma escola sustentável
Hoje, a estrutura é relativamente bem conservada e sustentável. Todo ano, a instituição compra materiais e a comunidade faz um mutirão para manter o prédio agradável. As carteiras são novas e as classes e jardins são bem cuidados. 
Além disso, as águas das chuvas diárias de Belém são captadas por cisternas para uso da limpeza da instituição, há o processo completo de coleta seletiva de lixo (em parceria com a ONG Noolhar), os alunos depositam os resíduos nas cestas corretas, aprenderam sobre o processo de reciclagem e vêem os produtos finais desta reciclagem, como poofs feitos de garrafa PET). Professores e alunos também cuidam das árvores que são plantadas nos jardins da escola e também de uma horta que rende uma economia de mais de R$1.200 por ano na área da merenda escolar. 
Sustentabilidade no currículo escolar
No currículo, os temas Meio Ambiente e Sustentabilidade realmente foram priorizados. Esta iniciativa seguiu um dos Parâmetros Curriculares Nacionais estabeleci
dos pelo Ministério da Educação, que incentiva o trabalho com o tema Meio Ambiente. “Depois que assumi a direção, a escola iniciou um trabalho em que a educação ambientar deve refletir na rotina de vida do aluno”, explicou Cristina.
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O tema norteador é trabalhado dentro e fora de sala de aula a partir de        projetos interdisciplinares. Em 2012, por exemplo, os alunos realizaram   um amplo mapeamento da cidade de Belém com o tema "Belém 400 anos: cidade flutuabili". Os estudantes pesquisaram a importância e os diversos usos da água na metrópole. Um dos subprojetos deste mapeamento chamava-se "As flores de Guimarães que não são rosas" e envolvia as disciplinas de Ciências, Artes e Português. Nele, os alunos debateram a importância da água na flora, além de estudarem os conceitos das plantas, tiraram fotos das flores da escola e depois pintaram quadros com suas fotos prediletas. Em Português, leram obras de Guimarães Rosa. 
Durante o ano, também foram realizadas diversas capacitações de alunos, professores, funcionários e comunidade do entorno que ensinavam processos práticos – como criar papel reciclado ou sabão a partir do óleo de cozinha usado – e também debates sobre sustentabilidade e educação inclusiva com palestrantes convidados, já que há uma sala exclusiva para inclusão de váriostipos de deficientes.
Resultados
A melhoria na infraestrutura e uma proposta pedagógica mais objetiva e debatida com a comunidade escolar fez a escola economizar recursos em seu dia-a-dia e aumentar sua nota no Ideb. Mais do que isto, está tornando o processo de ensino-aprendizagem muito mais humanizado e formando jovens atuantes na sociedade.

Cristina Arruda entrará de licença para concluir dois cursos de pós-graduação, mas continuará atuando como parte da força comunitária que auxilia o desenvolvimento da EMEF Dr. Carlos Guimarães.

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