sábado, 6 de abril de 2013

A fragilidade do amor moderno

op

Olga Lustosa

   O amor líquido é um livro impactante, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que explora as relações humanas, quando as pessoas envolvidas num relacionamento enfrentam o dilema de precisar do outro, mas ao mesmo tempo temem que um relacionamento mais profundo possa deixá-los imobilizados em um mundo de movimento frenético, um mundo onde não há limites para a ilusão humana, para a futilidade dos sonhos. A sensível narração é mais que uma constatação do mundo líquido em que vivemos, da fragilidade dos laços que nos unem, e como esse homem sem vínculos, personagem do nosso tempo moderno, estabelece suas conexões e realiza suas ambições.
    Há reflexões por vezes conservadora, mas o tom é de angústia pelos sentimentos humanos, uma emoção confusa, despertada pela pressa de encontrar o par perfeito, mas contraditoriamente, viver relacionamentos com amplas portas de saída para novos encontros, porque a insatisfação está mais presente nos relacionamentos que a afetividade. São coisas muito diferentes, ter parceiro, trocar afeto e comprometer-se. É sobre esse universo marcado por laços que não permanecem, não se estreitam, a ausência de consistência, que derrete a estrutura do relacionamento e torna o amor um sentimento líquido, que escorre por entre os dedos, que Bauman está falando.

   É dentro desse contexto moderno que nossos laços, principalmente os antes duradouros, estão se desatando e nos condenando a viver numa sociedade sem raízes. As pessoas, nessa sociedade moderna e líquida não se vale nem mesmo dos laços de parentesco, preferem constituir laços de amizade ou relacionamento de amor provisórios, soltos o suficiente para não sufocar, mas firmes o suficiente para dar um certo consolo momentâneo, porém não confiável. Ao priorizarmos os relacionamentos artificiais , que podem ser tecidos ou deletados com igual facilidade, não conseguimos mais manter laços duradouros, o que afeta as relações amorosas e os vínculos familiares. Contudo, seria ingenuidade culpar as facilidades tecnológicas pelo recuo da proximidade contínua, do face a face nas relações humanas, que tornaram-se muito frouxas.

   Homens e mulheres movimentam-se em várias direções, entram e saem de casos amorosos, tentando acreditar que o próximo passo será o melhor, por isso nunca houve tanta procura em relacionar-se. O moderno mundo líquido é repleto de sinais confusos, frases abreviadas, que mudam muito rápido e de forma imprevisível e substitui a qualidade dos relacionamentos pela quantidade, o que é fatal para nossa capacidade de amar.

   Com mais de 80 anos, vivendo em Londres, Zygmunt Bauman é um dos mais respeitados sociólogos da atualidade, e declara não mais acreditar que possa existir algo como uma sociedade perfeita, diz que a vida é como um lençol curto, quando se cobre o nariz os pés ficam frios, e quando se cobrem os pés o nariz fica gelado.

   Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e acadêmica de Ciências Sociais pela UFMT e escreve exclusivamente neste blog toda terça-feira - olga@terra.com.br

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