quinta-feira, 4 de abril de 2013

Ensino às traças e desempenho pífio em MT

Ser um aluno da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) parece um sonho distante demais para os alunos do ensino médio da Escola Estadual Maria Macedo, no bairro Mapim, em Várzea Grande. Não é por falta de vontade, nem pela capacidade profissional dos educadores, mas devido à falta de condições de concorrer em igualdade pela falta de estrutura física imposta pelo poder público.
 
Em todo o Estado, alunos estudam em escolas sem ar-condicionado – num calor absurdo – em que pese a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) ter adquirido 2 mil equipamentos que não foram instalados por precariedade da rede elétrica das unidades.
 
São fatores que colocam o Estado com desempenho pífio no Enem. Em 2011, das 20 escolas que obtiveram as melhores médias, 18 são particulares e duas são federais. Enquanto isso, milhões são distribuídos em incentivos fiscais para empresas que apresentam número irrisório de empregos gerados e a Assembleia Legislativa consome R$300 milhões por ano dos cofres públicos.
 
O senador Pedro Taques (PDT) e o secretário estadual de Educação, Ságuas Moraes (PT), vivem um embate sobre o assunto. Taques criticou, no Senado Federal, a qualidade do ensino público de Mato Grosso. Segundo o senador, os elevados índices de analfabetismo, evasão escolar e a baixa qualidade do ensino, que acabam tendo reflexos desanimadores no Enem, são resultado da falta de planejamento e má gestão dos recursos públicos. 
 
“Senhor governador Silval Barbosa: não é possível ingressar num ciclo de desenvolvimento social e econômico sustentável quando se possui os piores resultados nos indicadores de educação do país. Os erros da gestão estão deixando rastros cada vez mais difíceis de serem escondidos e marcas profundas de desrespeito em uma geração inteira de mato-grossenses”, afirmou Pedro Taques, na tribuna do Senado.
 
O custo médio anual de um aluno da rede estadual em 2011 foi de R$ 2.632,00. Para o mesmo período, o custo médio de um reeducando foi de R$ 9.652,20. “Não é possível falar de futuro quando se investe o quádruplo de recursos em um reeducando do sistema penitenciário daquilo que se investe em um aluno da rede estadual de ensino. Estamos acolhendo mais detentos nas prisões do que alunos nas escolas”, contestou.
 
Conforme relatou o senador, os resultados “vergonhosos” são piores quando o ensino médio é avaliado. O abandono no ensino médio é 11,5 vezes maior que no ensino fundamental. Em 2008, por exemplo, a taxa de reprovação no ensino médio era de 5,3% e explodiu para 18,2%. A taxa de abandono, por sua vez, aumentou em mais de 4,3%, com pico de quase 50% em 2009.
 
Alunos estudam na área ou sob árvores
 
Os 830 alunos da Escola Estadual Maria Macedo, em Várzea Grande – a segunda maior cidade do Estado, separada apenas por uma ponte de Cuiabá – se revezam em estudar sob a sombra das árvores, algumas turmas ficam sem aula, outras estudam em uma área e outros se juntam mesmo sendo de séries diferentes. Este foi o jeito encontrado pela direção para não prejudicar ainda mais os estudantes.
 
Apesar de estar em uma área grande, suficiente para receber investimentos em mais salas de aula, laboratórios e quadra coberta, o local não recebeu nenhuma atenção da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) desde que a unidade foi construída. O local foi construído na década de 80 como uma creche para atender crianças do bairro.
 
Em junho de 1990, o local deixou de ser creche e passou a ser Escola Estadual. Apenas no passado, a Seduc escriturou a área, que em todo esse tempo não foi contemplada com reforma e ampliação.
 
Em fevereiro deste ano, um temporal colocou a estrutura da escola à prova e um bloco inteiro foi interditado, deixando quatro salas de aula sem funcionar. O telhado cedeu e antes que desabasse na cabeça de algum estudante ou professor, a direção da escola pediu um recurso emergencial à Seduc de R$16 mil para reformar o local. Para não ficar esperando a burocracia da máquina estatal, o diretor da unidade decidiu comprar os materiais de construção fiado e espera o recurso cair na conta da escola para pagar os fornecedores.
 
“Tivemos que fazer alguma coisa para agilizar a obra da reforma do telhado, para que os estudantes possam voltar para a sala de aula. A forma mais rápida foi comprar fiado, mas e se não fizesse isso?”, questiona uma das coordenadoras da escola, Vera Luiza da Silva Costa.

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