Maioria dos
colégios possui apenas condições elementares de funcionamento. Pior situação é
das escolas municipais. No lado oposto, apenas 0,6% tem infraestrutura
avançada.
Grande parte das escolas brasileiras possui
apenas condições mínimas de funcionamento e não oferece sequer televisores ou
computadores a professores e alunos. O resultado faz parte de um estudo inédito
realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
Com base nos dados disponíveis no Censo Escolar
2011 sobre estrutura e equipamentos dos colégios, pesquisadores criaram uma
escala de avaliação da infraestrutura escolar das redes pública e privada do
País. Os resultados revelam que 44% das 194.932 escolas analisadas possuem
apenas condições elementares de funcionamento.
Segundo os parâmetros propostos pelos
pesquisadores, isso significa que 86.739 colégios oferecem apenas água,
sanitários, cozinha, energia elétrica e esgoto aos funcionários e alunos que os
frequentam. Não há salas para diretores, TV, DVD, computadores ou impressoras
nesses ambientes.
Aliás, essas características já colocariam
essas escolas em outra categoria do estudo: a de quem possui uma infraestrutura
básica. Nesse caso, encontram-se outras 78.047 escolas brasileiras (40%). Apenas
14,9% das unidades escolares do País (29.026) oferecem um ambiente considerado
adequado para o ensino e a aprendizagem.
No estudo, a categoria adequada foi dada a quem
oferece também sala de professores, biblioteca, laboratório de informática,
quadra esportiva, parque infantil, acesso à internet. Em condições “avançadas”,
estão somente 0,6% das escolas. São 1.120 unidades que possuem a mais
laboratório de ciências e ambientes para atender alunos com necessidades
especiais.
Desigualdades
Os dados também revelam grande desigualdade nas
condições das escolas. A primeira é geográfica. Das 24.079 escolas da região
Norte, 71% (17.090) têm infraestrutura elementar. No Nordeste, a proporção é de
65,1% (49.338) do total. Nas outras regiões, o nível básico é o que possui os
maiores percentuais: 51,7% no Centro-Oeste, 57% no Sudeste e 49,8% no Sul.
O outro lado da desigualdade aparece entre as
diferentes redes de ensino. A pior situação da infraestrutura escolar está na
rede municipal. Das 124.614 escolas municipais avaliadas, 61,8% têm
infraestrutura elementar; 31,6% básica; 6,4% adequada e só 0,2% avançada. Entre
as estaduais, a maior parte está na categoria básica (51,3% de 32.316) e 33,3%
na adequada.
A rede privada oferece condições piores que as
duas redes. De seus 37.551 colégios, 13,9% oferecem condições elementares; 58,4%
condições básicas; 26,8% adequada e somente 0,9% avançada. A melhor situação é
das escolas federais, mas poucas têm estrutura avançada (4,4%). A maior parte
(58,1%) é considerada adequada e apenas 5,1% é elementar.
Para os responsáveis pela pesquisa – Joaquim
José Soares Neto, Girlene Ribeiro de Jesus e Camila Akemi Karino (todos da UnB)
e Dalton Francisco de Andrade, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
–, os resultados demonstram que “é preciso avançar para garantir aos estudantes
um ambiente escolar com infraestrutura adequada a educação de qualidade”.
“O que mais me chamou a atenção foi a enorme
diferença entre as escolas, especialmente entre as urbanas e rurais. Tomamos
muito cuidado para não valorizar demais uma categoria ou outra e causar
distorções, mas a situação é muito diferente”, afirma Soares Neto. Quase todas
as escolas rurais são elementares (85,2%). Nas urbanas, o número cai para
18,3%.
Escala para avaliação
Os pesquisadores criaram uma escala de
avaliação a partir da Teoria de Resposta ao Item (TRI), mesma metodologia
estatística em que se baseia o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com isso,
será possível avaliar a evolução da infraestrutura ano a ano e também conseguir
medir o impacto dessas diferentes estruturas no aprendizado do aluno.
“Esse ainda é um tema pouco pesquisado no
mundo. Passamos boa parte do tempo testando para ver se a TRI poderia ser usada
para fazer avaliação e ficamos satisfeitos com o resultado”, diz Soares Neto.
Ele conta que, de todas as informações disponíveis no Censo Escolar, algumas
tiveram de ser desconsideradas para criar a escala.
Ao todo, 22 itens foram analisados:
abastecimento de água, energia elétrica, esgoto sanitário, sala de diretoria,
sala de professor, laboratório de informática, laboratório de ciências, sala de
atendimento especial, quadra de esportes, cozinha, biblioteca, parque infantil,
sanitário (inclusive para educação infantil e deficientes físicos), dependências
para deficientes físicos, TV, DVD, copiadora, computadores, impressora e
internet.
A partir deles, as quatro categorias
(elementar, básica, adequada e avançada) foram criadas. Os itens mais raros nos
colégios são os ambientes específicos para atendimento especial, laboratório de
ciências, quadra esportiva e biblioteca. “A escala é objetiva e nos mostra que
estamos distantes da equidade e da garantia de um padrão mínimo de qualidade”,
diz Neto.
Ao todo, 194.932 escolas foram analisadas. No
Censo, havia dados sobre 263.833, mas as que estavam com atividades paralisadas
ou inativas e as que não haviam preenchido corretamente o censo foram excluídas
da amostra.
Fonte: Último Segundo
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