quinta-feira, 4 de abril de 2013

Fale agora ou cale-se para sempre

Para um educador nada é mais gratificante do que saber que o futuro do país está em suas mãos. Esse é o sentimento inicial que temos quando optamos por uma licenciatura, contamos ponto para contrato ou quando fazemos um concurso público para trabalharmos



JELDER POMPEO


Para um educador nada é mais gratificante do que saber que o futuro do país está em suas mãos. Esse é o sentimento inicial que temos quando optamos por uma licenciatura, contamos ponto para contrato ou quando fazemos um concurso público, para trabalharmos nas mais diversas funções nas escolas e nas creches de nossa cidade.


No entanto, esse sentimento é liquidado assim que nos deparamos com a realidade das unidades escolares e com as políticas educacionais que nos estão sendo impostas.

Os fatores que tem levado o ensino público à decadência são inúmeros, mas raros, são os que fogem da responsabilidade do Estado.

A priori, quando falamos em educação pública e no seu desprestígio, muitos apontarão de imediato, dois segmentos como principais responsáveis pela baixa qualidade no ensino. O primeiro seria os educadores - que por algum motivo – seja pela falta de vontade, acomodação, despreparo, não estariam ensinando adequadamente os estudantes. O segundo seria os próprios estudantes que não estariam dando atenção adequada aos estudos, se comportando ou prestando atenção nas aulas, etc.

Tanto um, como noutro caso, o peso da responsabilidade cai sobre indivíduos, mesmo quando se atribui a responsabilidade aos dois segmentos conjuntamente.

Se a responsabilidade sobre a qualidade do ensino público paira apenas sobre esses dois segmentos, por que esse fato ocorre, de maneira generalizada, nos diversos bairros e nas mais diversas regiões do país?

Seria, então, o caso de uma “epidemia” de falta de interesse, despreparo, desrespeito?  Talvez seja. Mas como teria se alastrado essa “epidemia”?

Como não punimos esses “culpados” por termos uma educação pública que tem ido “de mal a pior”? São muitas as perguntas, porém, uma mesma resposta. Se a educação pública chegou ao nível em que esta, em toda parte do país, quer dizer que, não foi algo deliberado pelos segmentos aqui apontados.

Antes disso, foi um efeito de uma série de políticas educacionais, econômicas e sociais, que nos trouxeram ao patamar em quem estamos.

A começar pelos estudantes. Muitos não têm sequer um referencial educacional em casa. Na maioria das vezes, suas famílias são desestruturadas, os pais não tem estudo e quando tem, não tem tempo para ajudar e acompanhar o estudo do filho.

Na maioria dos casos o referencial cultural da família é uma TV, livro (quando tem, no máximo é de autoajuda). Dessa forma, não podemos esperar uma iniciativa educacional e cultural satisfatória desse aluno.

A localidade em que essa criança ou adolescente mora, muitas vezes, não contribui para um ambiente adequado para o aprendizado.

Já no caso dos educadores, além de enfrentar a dura realidade dos alunos, estes, ainda enfrentam seus problemas pessoais, tentando não transparecê-los nas aulas (isso mesmo, educador também é gente, e também tem problemas pessoais). Além dos problemas privados, eles têm que lidar com estruturas escolares precárias, total desvalorização da profissão e do profissional, políticas educacionais problemáticas, sobrecarga de trabalho, tendo em vista que, com os salários baixos, muitos são obrigados a desempenhar até mesmo dois empregos para complementar o salário e poder sustentar sua família, entre outros problemas do gênero.

Levando em conta todos os fatores mencionados, ou seja, econômicos, sociais, culturais e educacionais, podemos ter uma maior clareza sobre alguns motivos da precariedade do ensino público do país.

Além disso, com uma análise mais ampla e abrangente, temos a possibilidade de verificar que, os problemas da educação não residem apenas nela mesma. Podemos ainda constatar que a manutenção da educação, tal como está, tem colaborado com outros problemas como a violência, gravidez na adolescência, mas principalmente, estamos criando uma população acrítica, que não se levanta contra os mandos e desmandos dos governantes.

Portanto, não podemos esperar uma mudança dos que mais se beneficiam com essa realidade para mudá-la. Ou nos organizamos na sociedade civil e mudamos isso, ou esperamos que a ignorância reine, logo, não teremos mais a capacidade de análise, crítica e formulação. Assim, seremos contentes ignorantes e os que estão no poder, estarão livres de qualquer questionamento e manifestação.

(*) JELDER POMPEO DE CERQUEIRA é Cientista Social, formado pela UFMT, Técnico Administrativo Educacional, Ex-Técnico em Nutrição Escolar (merendeiro) no município de Cuiabá, e Militante da INTERSINDICAL.

Nenhum comentário:

Postar um comentário