quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Entrevista com o educador português Domingos Fernandes tem como tema "Avaliação"

30/07/2013

Entrevista - Patricia Melo (Presença Comunicação Educacional) 

O educador português Domingos Fernandes estará no último dia do Congresso Internacional de Educação de Recife, ministrando a palestra “É possível tornar os alunos mais competentes através da avaliação?”. O encontro do educador com os participantes do evento ocorrerá no dia 3 de agosto, às 10h45. Com o objetivo de levar até você um pouco mais sobre o conteúdo que será debatido nessa atividade, a equipe de Comunicação da Futuro Eventos conversou com Fernandes sobre a sua temática. Confira!

É possível tornar os alunos mais competentes através da avaliação?

Para que os alunos aprendam mais e, sobretudo, melhor, a avaliação é com certeza uma condição necessária, mas não é suficiente. Na verdade, para que tal possa ser uma realidade, como todos nós desejamos, é indispensável que o processo de avaliação esteja fortemente articulado com os processos de ensino e de aprendizagem. Esta é uma afirmação que tem implicações muito profundas na organização e desenvolvimento do processo pedagógico porque exige, por exemplo, que a avaliação faça parte integrante das ações que são postas em prática pelos alunos e pelos professores. Concretizando, dir-se-ia que quando apresentamos uma tarefa aos alunos (uma composição, um problema, uma experiência, uma pesquisa bibliográfica) ela deve permitir que estes aprendam, que o professor ensine e que ambos avaliem. Só desta forma a avaliação poderá ser um processo que está a serviço da aprendizagem e do ensino. Isto é, um processo cujo principal propósito é o de contribuir para que alunos e professores aprendam e ensinem melhor, respectivamente. Obviamente que estou a referir-me a uma avaliação tendencialmente contínua, que ocorre dentro das salas de aula, e que se destina a recolher informação acerca do “estado” de cada aluno relativamente aos objetivos de aprendizagem previamente estabelecidos. Deste modo, quer o professor quer o aluno estarão mais preparados para regular e reorientar os processos de ensino e de aprendizagem. Por isso, é tão importante que os alunos tenham acesso a feedback de elevada qualidade que deve ser distribuído de forma sistemática por parte dos professores. A participação ativa dos alunos nas atividades das aulas, a utilização sistemática de feedback, a diversificação dos processos de recolha de informação acerca do que os alunos aprenderam e os processos de auto e de heteroavaliação, são algumas das “razões” que, de acordo com a pesquisa que se vem realizando um pouco por todo o mundo, explicam porque é que os alunos aprendem mais e melhor através de uma avaliação com aquelas características.

Qual é o significado da avaliação no processo de desenvolvimento do aluno?
 Todos nós temos que trabalhar muito para que a avaliação tenha um papel relevante no desenvolvimento das aprendizagens e competências de todos os alunos. A avaliação deveria ser um processo intrinsecamente associado aos processos de aprendizagem dos alunos, ajudando-os a compreender para onde têm que ir, em que ponto se encontram e que esforços têm que empreender para lá chegarem. A auto e a heteroavaliação podem ser processos determinantes na tomada de consciência dos alunos acerca das suas fragilidades e pontos fortes, ajudando-os a ganhar confiança em si mesmos e a elevarem a sua autoestima. Em suma, a avaliação eminentemente pedagógica, realizada nas salas de aula, pode ter um enorme significado para os alunos porque pode intervir positivamente na construção individual e social do seu conhecimento.

Quais as formas de avaliação que imperam no sistema educacional? E qual é a sua visão sobre elas?

A pesquisa mostra-nos que, em geral, a avaliação realizada nas salas de aula (e aqui só estou a referir-me a essa) tende a estar quase exclusivamente orientada para a produção de classificações. Ou seja, para a atribuição das chamadas notas aos alunos. Nestas condições, professores e alunos conhecem mal ou desconhecem completamente os enormes benefícios de uma avaliação orientada para ensinar e aprender melhor. Parte deste problema, de que padecem os sistemas educativos um pouco por todo o mundo, reside no facto de as pessoas terem dificuldade em compreender que avaliar os alunos para ajudá-los a apreender utilizando, por exemplo, uma avaliação de natureza formativa, não é incompatível com a recolha de informação destinada a atribuir classificações aos alunos. Além disso, existe a ideia de que a avaliação somativa e a avaliação formativa são dicotômicas e incompatíveis quando, na realidade, elas podem e devem ser complementares. Estes e outros problemas relacionados com as concepções e conhecimentos dos professores acerca da avaliação, têm que ser resolvidos através de uma formação continuada abrangente que apoie novas e inovadoras formas de organizar o espaço pedagógico. É necessário um esforço muito grande porque não é nada fácil interiorizar a ideia de que “avaliar serve para aprender mais e melhor” e, ao mesmo tempo, concretizar as ações pedagógicas que permitam que assim aconteça efetivamente. Temos que trabalhar muito para mudar o atual estado de coisas que, como sabemos, impede milhões de crianças e jovens em todo o mundo de aprender e de progredir normalmente nas suas vidas escolares. A avaliação é, com certeza, causa de muita discriminação e de muita exclusão nos sistemas educativos. Estranhamente, pensarão alguns, ela pode dar um contributo inestimável para melhorar a atual situação. Mas não é a solução mágica para os males dos sistemas educativos. É preciso agir ao nível das políticas, das teorias e das práticas.

É preciso mudar a avaliação? Quais seriam as razões e quais seriam as mudanças?
 É preciso mudar a avaliação que ainda prevalece nos sistemas educativos porque ela tende a discriminar, em vez de integrar, a excluir, em vez de incluir, a medir, em vez de procurar compreender... Porque não está orientada para ajudar a aprender. As mudanças necessárias são muitas e profundas e passam por algumas das ideias que já enunciei nesta entrevista.

Qual o envolvimento emocional dos alunos durante uma avaliação?

Os alunos podem demonstrar uma diversidade de reações em função das avaliações. Por exemplo, na prestação de provas, mesmo as que se realizam no contexto das suas salas de aula, há alunos que podem ver sensivelmente alterados os seus níveis de tranquilidade, medo e ansiedade. Mas, o que me parece ser importante sublinhar a este propósito é o fato de a existência de um clima de ensino/aprendizagem/avaliação orientado para que os alunos aprendam e uma relação pedagógica que favoreça a interação social, pode reduzir muito, ou mesmo eliminar, quaisquer reações menos agradáveis de natureza psicológica (ansiedade, medo, pânico).
Como este envolvimento pode ser decisivo para o processo avaliativo?Prefiro pensar pela positiva, referindo que uma avaliação pensada e organizada nos moldes atrás referidos pode ter um forte e positivo impacto na forma como os alunos se envolvem nos processos de aprendizagem. Isto porque a sua autoestima, o seu autoconceito e os seus níveis de motivação e empenho melhoram sensivelmente. Consequentemente, aprendem mais, melhor e com mais gosto.

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