quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Para professores, protestos dão visibilidade aos problemas da Educação

Sindicatos afirmam que movimento é positivo e pedem atenção para temas como o PNE

 
Para professores, protestos dão visibilidade aos problemas da Educação
 
Marcelo Camargo/ABr


Do Todos Pela Educação

As manifestações que tomaram as ruas, avenidas e rodovias de todo o Brasil nas últimas semanas trouxeram à tona a insatisfação da população com a qualidade de grande parte dos serviços públicos prestados no País. A Educação pública não ficou de fora das motivações. Foi comum encontrar, entre palavras de ordem, cartazes e faixas, pedidos por melhorias na infraestrutura das escolas, nos níveis de aprendizagem e na valorização dos educadores.

Para saber a opinião e o posicionamento dos professores das redes públicas de ensino em relação à onda de manifestações, o Todos Pela Educação ouviu entidades, associações e sindicatos que os representam.

A opinião geral é unânime: os protestos são positivos e geraram nova energia política e cidadã para a sociedade brasileira. “As manifestações são absolutamente justas. Temos um problema coletivo nos serviços públicos prestados pelos municípios, estados e governo federal. É o que ocorre com a Educação, que se divide nessas três esferas”, pontua Roberto Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). “Acredito que os professores de todo o Brasil estão vendo tudo isso dessa maneira.
A democracia representativa não basta: é preciso que se ouça a sociedade."

Leão afirma que algumas conquistas, frutos das mobilizações recentes, já podem ser destacadas. “No caso dos royalties para a Educação, vemos que o processo foi apressado. A tendência é de que o PNE (Plano Nacional de Educação) também seja pautado rapidamente. No entanto, um debate aligeirado não resolve – o plano não pode ser votado de qualquer jeito”, completa.

Em nota pública, a CNTE declarou que se solidariza com “a pauta justa e urgente apresentada pela maioria dos integrantes desses movimentos de protesto”. A entidade também repudia atos de vandalismo, violência, saques e depredações ao patrimônio público (para ler a nota, clique aqui).

O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) também divulgou comunicado em seu site, afirmando que reconhece a “legitimidade das mobilizações que tomaram as ruas da cidade de São Paulo” e que “os movimentos sociais (...) são os legítimos portadores das mudanças” (leia o texto completo aqui).

Energia

Os educadores destacam que as múltiplas manifestações criaram um clima de debate político e social como há muito o Brasil não via. Para eles, houve uma incorporação de lutas históricas no País. “A questão do transporte público foi apenas a gota d’água, um símbolo dos desmandos de sucessivos governos”, opina Gesa Linhares Corrêa, coordenadora geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ). “Toda essa mobilização foi extremamente positiva por discutir, em cada Estado, questões importantes, como os 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a Educação que estão no PNE, os royalties do petróleo e os processos de gratificação e de meritocracia que existem nas carreiras dos docentes de várias redes.”

Para o professor José Maria Concelliero, presidente do Centro do Professorado Paulista (CPP), o movimento que tomou o País foi uma surpresa. “É um reclamo da juventude – de uma juventude que nós, professores, ajudamos a formar. Fazia tempo que o nosso País não mostrava esse ânimo – a brasilidade aflorou em todos”, afirma. “Toda a movimentação, que se deu especialmente nas redes sociais, foi uma lição para todos nós.”

O gigante acordou?

Uma das frases mais usadas pelos manifestantes, nas ruas e nas redes sociais, foi “O gigante acordou”, em referência à população do Brasil ter finalmente despertado para temas políticos importantes e do interesse de todos. Apesar de ter ganhado a atenção da população, os sindicatos ponderam que não se pode deixar de lado todo o trabalho que as entidades e movimentos sociais vêm fazendo no Brasil há anos.
“Não podemos achar que o mundo começou agora. A pauta da Educação se arrasta há décadas e tem muitos atores e organizações envolvidas”, explica Leão, da CNTE: “Não se pode jogar fora os ganhos políticos que os movimentos e organizações vêm acumulando nos últimos anos. Existe muita luta. Os sindicatos não são desacreditados”.

Pauta focada

As entidades chamam a atenção para o fato de que os protestos que não têm um objetivo específico parecem atrair muito mais pessoas do que aqueles que são focados. “A Educação é um discurso de todos, mas quando a pauta é formada somente por ela, a adesão não é tão grande. Já vimos isso acontecer”, diz Rosilene Corrêa, professora e uma das diretoras do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF).

Segundo ela, é preciso que a sociedade se aproprie da Educação como pauta. “As pessoas precisam perceber que é responsabilidade de todos. Eu estive presente na votação dos royalties na Câmara e, logo após a votação da PEC 37 (Proposta de Emenda à Constituição 37), a sessão se esvaziou. Permaneceram apenas poucos professores e estudantes – até o Ministério Público se retirou”, lembra a professora.

Já para Claudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação do Ensino Municipal (Sinpeem), o próprio fato de a Educação ter aparecido como um dos temas dos reclames sociais já é um foco. “Pedir mais qualidade de ensino é um objetivo e mostra que a discussão extrapolou os limites da corporação. Não se vê manifestação popular em defesa da Educação – ela só aparece como tema quando existe greve ou quando é dia dos professores”, diz.

Como palco para discutir soluções aos problemas educacionais do Brasil, Rosilene lembra a realização da Conferência Nacional de Educação (Conae), integrada por gestores públicos, entidades representativas e os mais diversos atores da Educação do País. “Na conferência, a sociedade pode participar para definir o que quer”, afirma.

Falta informação

Apesar dos pedidos por melhorias na Educação brasileira vindos da população que foi às ruas, os professores afirmam que falta informação para a maior parte dela. “Muita gente não sabe o que é o PNE, por exemplo. Não conhecem nem a sigla”, afirma Rosilene. “O PNE é bastante amplo – todos os seus itens farão diferença na Educação brasileira. É preciso que o plano seja votado o mais rápido possível e que a grande mídia demonstre interesse por ele, para que seja divulgado.”

A falta de informação, segundo as entidades, pode ser inclusive perigosa para a movimentação política. “As pessoas devem estar esclarecidas para saber ouvir a opinião dos outros”, lembra Leão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário