Por Mariana Araguaia
Em muitos casos, a criança está somente imitando uma situação que viu, sem a malícia que nós, adultos, temos. Assim, sensatez e jogo de cintura são necessários para lidar com a situação.
Parece que, a cada ano que passa, as crianças se mostram mais espertas. Também pudera: assim como nós, adultos, elas também estão cercadas de informações, sejam elas vindas da TV, músicas, internet, ou mesmo de colegas e familiares; das mais diversas temáticas.
Freud, há quase um século, descreveu sobre a sexualidade infantil, provocando uma reação assustadora em muitos membros da sociedade. Graças a ele, hoje sabemos que o desenvolvimento da sexualidade humana começa com o contato físico, ou seja: quando ainda somos bebês, ao sermos segurados e acariciados; e que os atos de comer, urinar e defecar trazem grande prazer à criança.
Na atualidade, em muitas escolas, tal tema tem sido debatido, mas nem sempre educadores se sentem realmente seguros para direcioná-lo – ainda mais quando se trata de perguntas ou atitudes que exigem uma resposta ou intervenção rápida.
Diante do exposto, esse texto tem como objetivo auxiliar pais e professores quanto a isso. Uma justificativa adicional é o fato de que reprimir ou dar respostas erradas, provavelmente, fará com que a criança busque tais informações em outras fontes, o que pode fornecer respostas incorretas, ou mesmo expô-la a riscos desnecessários. Assim, criar um canal confiável de diálogo é fundamental e, para tal, pode ser interessante que pais e professores atuem em conjunto.
Provavelmente, a primeira dúvida manifestada será em relação aos órgãos genitais, como a diferença anatômica do pênis e da vagina. Utilizando os termos corretos, evitando apelidos, palavrões ou palavras de duplo sentido, farão com que as crianças percebam que se trata de algo sério e natural.
Não reprimir quando se tocam em tais regiões, mas, ao contrário, conduzi-las, sutilmente, a outras atividades, ou dizer que tal atitude incomoda o colega e/ou não é adequada àquele momento e lugar – assim como urinar ou defecar; são medidas mais sensatas do que simplesmente proibir. Até porque é inegável que, de fato, mesmo sendo crianças, são capazes de sentir prazer manipulando seus órgãos genitais. Assim, como explicar que algo que dá prazer é errado, ou feio? A malícia, na grande maioria dos casos, parte de nós, e não delas. Dessa forma, se se tratar de uma situação na qual a criança está se tocando, por exemplo, no banheiro, sozinha, a situação não deve ser reprimida e, tampouco, supervalorizada.
As respostas às perguntas devem ser feitas em uma linguagem acessível, de forma clara e objetiva, dizendo de forma simplificada exatamente o que a criança deseja saber, sem antecipar dúvidas. Caso não saiba a resposta (ou como responder), seja sincero, e busque o mais rápido possível dar esse retorno, ao invés de fingir que se esqueceu.
Quanto ao receio de estimular a criança de forma errônea, e antecipadamente, ao se trabalhar sobre a sexualidade, muitos estudos apontam que, na verdade, indivíduos bem esclarecidos tendem a adiar o início de sua vida sexual já que sua curiosidade já foi, em parte, saciada, e existe a ideia clara de que ir mais adiante requer responsabilidades e limites. Além disso, crianças esclarecidas tendem a ter risco significantemente menor de serem abusadas, já que sabem que troca de carícias e sexo deve ser algo consensual, entre pessoas mais velhas e, preferencialmente, envolvendo amor.
Outra atenção especial é quanto aos estereótipos atribuídos a homens e mulheres, ignorando o senso de diversidade. O foco deve ser dado nos aspectos que tangem as semelhanças e diferenças físicas, reforçando que ambos os gêneros devem ter oportunidades iguais, e respeito mútuo. Sobre isso, sugiro a leitura deste texto, de Lola Aronovich: uma produção muito interessante, que fala sobre uma campanha equatoriana contra o machismo, iniciada em 2008, e disponibiliza seus vídeos.
Sugestão adicional:
Outro material que poderá auxiliar os educadores é o livro “Mamãe Botou um Ovo”, de Babette Cole.
Por Mariana Araguaia
Bióloga, especialista em Educação Ambiental
Equipe Brasil Escola
domingo, 17 de julho de 2011
Como falar às crianças sobre sexualidade?
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