domingo, 17 de julho de 2011

Vinícius de Moraes Vinícius de Moraes - O talento nato

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

Soneto De Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Vinícius de Moraes

A princípio, torna-se interesante analisarmos o aspecto formal do poema, o qual é representado pela forma de soneto - dois quartetos e dois tercetos. Característica esta que o poeta prima-se por valorizar, assim como os moldes da estética Classicista, mais precisamente, Camões, onde a sonoridade, as rimas são bastante exploradas.

Quanto às figuras de linguagem, notamos a presença da antítese: riso/pranto; calma/vento; imóvel/drama; próximo/distante. Tal característica foi bastante cultuada durante a estética Barroca.

Percebe-se que o poeta transcende num lirismo erótico inimaginável, no qual a temática do amor é vista como algo materializado, viril. Todavia “ornamentada” por uma sutil nuance de misticismo, o que caracteriza bem o clima de instabilidade vivida pelo ser humano frente à realidade que o cerca: “E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama”.

Tal fragmento denota literalmente o maniqueísmo que norteia o nosso cotidiano.

Falando um pouco sobre a trajetória de vida desse importante poeta, compositor, cronista, jornalista, teatrólogo e diplomata; o mesmo nasceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913. Dos cinco aos dez anos viveu na Ilha do Governador, onde fez o primário, terminando os estudos secundários no Colégio Santo Inácio.

Em 1938 foi estudar Literatura Inglesa na Universidade de Oxford, mas teve que iterrompê-la em virtude do início da Segunda Guerra Mundial.

Em 1943 ingressou-se na carreira dipomática servindo no Estados Unidos, Espanha, Uruguai e França.
No final da década de 1950, em parceria com Tom Jobim e Gilbeto Gil, lançou o movimento que revolucionou a música popular brasileira: A Bossa Nova.

Vejamos agora a letra de uma canção de Tom Jobim e composição de Vinícius de Moraes:


Felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira.

Tristeza não tem fim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos de minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo por favor...
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor.

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

Felicidade sim...Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

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