Venâncio D. Vicente
Ensinar – uma atividade extraordinária dos seres vivos. É edificante ver como os animais adultos ensinam a seus filhotes a sobrevivência. Ensinar é dar uma forcinha à genética. Os animais irracionais têm geneticamente um alto grau de conhecimento natural a que chamamos de instinto, porque a inteligência deles - pensam os humanos - é mais limitada.
Os seres humanos nascem indefesos, do pouco instinto, e vagarosos na aquisição da autonomia para a sobrevivência. Em compensação, têm um equipamento extraordinário, um cérebro muito desenvolvido.
O aprender é o resultado do ensinar. Tudo o ser humano precisa aprender, do pôr-se em pé ao comer. Nos primeiros anos, o ser humano aprende com os pais e assim deveria continuar sendo. Então o ensinar é uma tarefa materno-paterna. É uma necessidade da espécie: ensinar. Preparar o novo ser humano para a vida na selva. Selva lembra perigos e perigos lembram armas de defesa.
Os seres humanos se desenvolveram cientificamente; criaram um complexo mecanismo de sobrevivência, que se tornou impossível de transmitir a partir da família. A tecnologia para a sobrevivência vai ser buscada fora da família: nas escolas e outras instituições tecnicamente preparadas para esse fim.
Se pensarmos apenas nesse sentido, o ser humano transformar-se-á, rapidamente num robô. É necessário ensinar também as virtudes humanas. E aqui é que está o impasse. As virtudes humanas continuarão a ser aprendidas no seio da família. Mas, para complicar, também essa competência parece que a família está exportando para a escola. Por quê? Porque os mecanismos de sobrevivência, hoje, exigem pai e mãe fora do lar, na “selva”, lutando com as armas possíveis que os tempos modernos exigem de todo cidadão.
E a escola vê-se mergulhada numa atividade que não lhe é peculiar, não lhe é natural: a de construir o templo sagrado que é cada pessoa humana. O ser humano é uma criatura especial dentro do universo do seres vivos. A preparação tecnológica para conseguir sobreviver, é tarefa de conhecedores da tecnologia. E a tarefa de construir o arcabouço ético-moral não é competência de técnicos. É uma tarefa inalienável dos pais. Mas ficou difícil, quase impossível.
Nesse contexto é que se insere o professor, o agente da educação, não o Instrutor. Isso exige um preparo especial para esse fim. Não pode ser trabalhador (o que luta na selva para a sobrevivência).
Sempre lutei para mostrar que ser instrutor é fácil; ser professor é complicado, mas é sublime. O Instrutor usa seu conhecimento e o transmite. Ponto final! O professor usa sua vocação para a formação do adolescente e o conhecimento que tem e apenas pré-requisito.
O instrutor termina sua obra quando termina de repassar o conjunto de conhecimentos, habilidade e competências. O professor termina sua obra quando o homem está construído; e como isso leva a vida inteira, a missão do professor não termina nunca, porque ele deve deixar plantado, no jovem, a diretriz para todo seu futuro: a ética e a moral.
O instrutor tem como objeto a tecnologia, enquanto o professor tem como pano de fundo a convivência dos seres humanos. Isso é fundamental. É por isso que o ensino de primeiro e segundo graus é fundamental. Pressupõe-se que ele coloque os alicerces do ser humano como cidadão, mesmo porque ainda é cedo para ele ir à “selva” lutar pela sobrevivência. Embora ele já tenha alguns elementos de tecnologia.
Cumpre ainda lembrar que a melhor tecnologia que um ser humano pode ter é a mente desenvolvida, organizada e aberta para o futuro. A inteligência nos projeta para o futuro; a ética e a moral nos dão a diretriz segura. Com a inteligência, o cidadão pode criar as próprias ferramentas para lutar na “selva” dos tempos modernos, mas a ética e a moral lhe dão a estabilidade humana da convivência harmônica no seu habitat.
Venâncio D. Vicente apade@apade.com.br2.º presidente da Associação Paranaense de Administradores Escolares (Apade).
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