sábado, 23 de julho de 2011

Faces da desqualificação

Autor: Luiz Gonzaga Bertelli


Quando se analisa a falta de mão de obra qualificada e o impacto desse gargalo na economia nada é mais flagrante do que o que está ocorrendo com os engenheiros, como pudemos tratar em artigo da semana passada. Porém, a escassez de capital humano de ponta assume várias faces e nem sempre é reconhecida quando deflagrada, provocando debates que raras vezes levam à proposição de solução para essa terrível chaga nacional.

A recente divulgação do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é um grande exemplo. Ao se detectar que 9 em cada 10 bacharéis foram reprovados, o mais alto índice em toda a história da avaliação, houve quem questionasse a constitucionalidade de aplicação de tal exame; houve quem pedisse revisão na média e quem constatasse o óbvio: as instituições de ensino estão defasadas – 90 escolas não aprovaram ninguém, sendo que 17 delas ficam em São Paulo – à exceção da USP e da Unesp, que passaram mais da metade dos seus futuros advogados.

Entretanto, ninguém observou o quadro geral – sim, se trata de uma não tão nova manifestação do gradativo processo de perda de qualificação da mão de obra brasileira – e uma das mais eficientes soluções ao problema ficou relegada a breves notas de rodapé nas reportagens sobre o assunto. Segundo dados do Conselho Federal da OAB, 116 mil candidatos se inscreveram no exame, sendo que nesse contingente também foram incluídos os treineiros – estudantes do último ano da graduação que se submetem à prova para se testar e conhecer o ambiente da avaliação.

Aqueles que acompanham de perto a vida dos universitários não se surpreenderam com o fato de os treineiros terem obtido desempenho superior ao dos diplomados. Vale ressaltar que de longe o ramo do Direito é o que historicamente mais abre vagas de estágio. Ou seja, a probabalidade de os bem-sucedidos universitários serem também estagiários é extremamente alta. Ora é nessa fase de treinamento que os jovens têm a oportunidade de colocar conhecimentos teóricos em prática, de conhecer expedientes em Fóruns e de averiguar as mais diversas possibilidades de atuação no setor empresarial. É quando se afina com as demandas do mercado de trabalho e se aprimora para que seu currículo se sobressaia aos olhos mais exigentes – como os dos examinadores da Ordem.

Afinal de contas, não é desse tipo de talento que o país mais carece? Estimular a promoção de estágios é o que vai sanar a baixa qualificação do capital humano brasileiro. A boa notícia é que a contratação de estagiários segue em ritmo aquecido em 2011: as vagas estão sendo abertas em ritmo superior à média de anos anteriores tanto para estudantes de Direito quanto para todos os outros cursos dos ensinos médio, técnico e superior.


*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.


SOBRE O CIEE

Fundado há 47 anos, o Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE é uma organização não governamental (ONG), filantrópica e sem fins lucrativos, que tem como finalidade principal a inclusão profissional de jovens estudantes no mercado de trabalho, por meio de programas estágio e de aprendizagem, contando com a parceria de 250 mil empresas e órgãos públicos de todo o País. Mantido pelo empresariado, sua atuação se pauta pela legislação específica: a Lei 11.788/2008 para o estágio e a Lei 10.097/2000 para a aprendizagem

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