domingo, 17 de julho de 2011

Escola e tecnologia: muitas dúvidas e uma certeza

Antonio Sérgio Martins de Castro

O discurso sobre o uso da tecnologia na educação é recheado de lugares comuns: fala-se a todo o tempo da rapidez das mudanças, da importância de se formar o usuário crítico, do desafio da formação continuada, das revoluções que se aproximam, das possibilidades abertas pela web 2.0 (e 3.0), das tecnologias móveis, entre outros.

Há um oceano de incertezas com as quais rapidamente os educadores se habituaram a conviver – principalmente porque, na maior parte das vezes, nossa escola ainda está em um estágio bastante aquém desses dilemas. É como se alguém que ainda está no mundo das bicicletas passasse a alimentar preocupações com os avanços tecnológicos dos automóveis.

Contudo, é justamente aqui que se encontra o coração do problema que nós, educadores, vivemos no que tange à tecnologia.

É verdade que a tecnologia ainda pouco mudou a escola. Mas isso não acontece por questões técnicas, por hardwares, softwares ou mesmo pela aclamada resistência do professor. O ponto de viragem do uso da tecnologia vale tanto para um PC quanto para a aurora anunciada dos livros digitais: chama-se projeto pedagógico.

Sim, o projeto pedagógico continua. As experiências mais bem-sucedidas da assimilação dos recursos tecnológicos são, comprovadamente, aquelas em que a escola se organizou de uma forma diferente para atender às demandas do mundo contemporâneo. Nessas escolas são menos importantes as discussões sobre o que fazer com este ou aquele recurso (sejam lousas eletrônicas, celulares, tablets etc).

Entram em jogo outros fatores muito mais desestabilizadores para a escola de hoje: elas tratam do tempo escolar, da organização da aprendizagem, do currículo, do papel do professor.

Nessas escolas, a tecnologia não detonou as mudanças. Ela foi naturalmente incorporada em um projeto de ensino que não se conforma mais com as estruturas seculares que herdamos. E foram assimiladas como aquilo que são: ferramentas.

Assim como um dia o foram o livro, a lousa e o giz, por exemplo. A boa notícia é que não são necessárias revoluções. Trata-se mais de uma tomada de consciência, da qual o projeto político-pedagógico é a plena expressão.

Por isso, temos pela frente um desafio mais sério do que introduzir à força as últimas novidades do mercado. Precisamos, de uma vez por todas, rever coletivamente o projeto pedagógico a fim de alinhar a escola com um tempo que não aceita mais as mesmas respostas – porque vive de novas perguntas.

Antonio Sérgio Martins de Castroanacarolina@libris.com.brCoordenador Pedagógico e Gerente de Mídias Digitais de Sistemas de Ensino da Editora Saraiva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário