domingo, 17 de julho de 2011

Educação para todos, respeitando as diferenças

Texto: Luan Santos

A educação é para todos. Esta é uma frase que reflete um estado ideal da educação. Mas será que na prática ela é para todos mesmo? Esta questão esbarra num leque de variadas conclusões, mas a resposta sempre será “não”. E por inúmeras razões, como diferença de classes sociais e tantas outras diferenças que são tão manifestas na sociedade brasileira. Apesar disso, esforços estão sendo feitos no intuito de, a cada dia mais, levar a educação para todos que têm direito a ela, ou seja, toda a sociedade, independente de classe, cor, etnia, religião, ou qualquer outras diferenças.

No caso baiano, existe o Atendimento Educacional Especializado (AEE), proposto pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia (Sec), que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no AEE diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e/ou fora dela.

Para realização deste trabalho, alguns locais são utilizados. Exemplos são as Salas de Apoio e as Salas Multifuncionais, que são espaços organizados em escolas da rede pública de ensino que atendem, também, às escolas do entorno. As salas de apoio destinam-se ao atendimento de uma deficiência, oferecendo serviços e recursos da Educação Especial, enquanto que as Multifuncionais atendem a mais de uma deficiência.

Existe também o Centro de Apoio Pedagógico (CAP), que atende às pessoas com deficiência visual. É um centro com salas equipadas com computadores, impressora Braille e laser, fotocopiadora, gravador, circuito interno de TV, máquina de escrever em Braille e também tem como objetivo produzir materiais didáticos e pedagógicos adequados aos alunos cegos e com baixa visão.

Além das Salas de Apoio e Multifuncionais e do CAP, ainda há o Núcleo de Atividades Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) e os Centros de Apoio. Eles Realizam atendimento pedagógico a educandos com altas habilidades e deficiências. O núcleo e os centros possuem equipe multidisciplinar determinadas.

Na Bahia, 21 cidade são atendidas com centros de Atendimento Educacional Especializado. Estas cidades possuem salas de atendimento, que podem ser especializadas em pessoas com deficiência auditiva, deficiência visual, deficiência mental, altas habilidades ou superdotadas ou multifuncionais, que agrega mais de uma dessas funções.

Preconceito

Educação para pessoas especiais. Este é um tema ainda carregado de preconceito, mas algumas instituições trabalham com a intenção de mudar este quadro. É o caso da Associação de Amigos do Autista da Bahia (Ama), em Pituaçu.

A Ama atende, atualmente, cerca de 112 autistas, entre crianças, adolescentes e adultos, sendo que maior atendimento é voltado para crianças de 2 a 6 anos, dando assim uma atenção especial para que possam crescer e viver o mais normalpossível.

Esta instituição possui ainda um centro em que oferece educação para as pessoas autistas. Trata-se do Centro Educacional Especializado Para Pessoas com Espectro Autista, que visa, por métodos específicos para os autistas, educá-los de maneira que a sua inserção nas escolas tradicionais seja facilitada, de maneira que tanto eles se adaptem, quanto as escolas e os colegas. Além de oferecer apoio aos próprios autistas, a Ama auxilia também os pais e aos profissionais da educação das escolas tradicionais, para que aprendam a lidar com os autistas.

A presidente da Ama, Rita Brasil, destaca a exclusão que sofrem os autistas. “Os autistas são as pessoas que menos oportunidades de inclusão. E isto devido a eles apresentarem três características básicas: dificuldade de comunicação, dificuldade de interação social e condutas sociais diferenciadas”, relata. Rita ainda destaca a necessidade de um trabalho especial com estes alunos. “Precisamos trabalhar com eles (autistas) no sentido de que a inclusão deles nas escolas tradicionais seja a melhor possível. Precisamos minimizar aquelas três características para que eles tenham uma excelente adaptação na escola”, ressalta.

Apesar de afirmar que o trabalho traz resultados muito positivos, Rita reconhece que há muito a ser feito, “pois o preconceito ainda é muito grande”. “Há uma rejeição muito grande, muito porque os professores das escolas tradicionais não sabem lidar com eles. Falta preparo. Muitos sofrem bullying dos colegas e não querem voltar para a escola”, relata. Contudo, ela garante que “o trabalho de inserção dos autistas nas escolas tradicionais continuará sendo feito e o preconceito continuará sendo combatido”.

Família

Para os autistas o apoio da família é muito importante, pois o preconceito social ainda é muito grande, como afirma acima a presidente da Ama, Rita Brasil. E todo este preconceito faz com que muitos pais tenham medo de se mostrarem publicamente, mas não por vergonha, e sim por recearem que esta exposição pública gere ainda mais preconceito contra seus filhos.
Este é o caso de uma mãe, que se autodefine como “a mãe do vencedor”, e não quis se identificar, por temer que seu filho, que tem 6 anos, a quem chama, simplesmente, de “vencedor”, sofra maior preconceito do que já sofre.

A mãe conta que quando pensou em colocar seu filho na escola, logo aos 2 anos, encontrou muitas dificuldades. “Pesquisei algumas escolas e escolhi aquela que seria ideal, mas a diretora pediu para ver meu filho e quando o viu, não permitiu que fosse matriculado”, relata. Desistir? Este nunca foi um verbo presente no vocabulário desta mãe.

Ela continuou procurando, até que achou uma escola que aceitasse seu filho. O garoto frequenta o grupo 6 de uma instituição de ensino, que a mãe também pediu para não ser identificada, também para preservar seu filho. Ela contratou um profissional especializado em autismo para acompanhar seu filho na escola, a pedido da própria instituição. Hoje, a situação do garoto na escola é classificada pela mãe como “boa”, mas isso nem sempre foi assim.

No começo, ela conta, “era de cortar o coração”. “Quando eu o levava à escola, ele não ia para a sala de aula, mas para a biblioteca. Não queria socializar com seus colegas, ficava sozinho no canto lendo e os professores não faziam nada, preferiam que ele ficasse lá, sozinho, e não cumpriam o verdadeiro papel da escola que é educar”, afirma. Ela não culpa os professores, mas as escolas de um modo geral, que não se preparam para receber alunos como o seu pequeno “vencedor”. “Os professores não estava preparados, pois a escola não os preparou. É papel da escola receber todos os alunos, não deixá-los de lado”, ressalta.

Ela relata ainda a importância de sua maior participação na vida escolar de seu filho. “Os professores não estava preparados, pois a escola não lhes dava o devido treinamento. O empenho da família foi fundamental para as conquistas que temos hoje. É dever da escola fazer com as crianças interajam, brinquem com seus colegas”, destaca.

O garoto não é considerado autista, mas tem o que se chama de “espectro do autismo”, ou os traços da doença. Este espectro pode ser revestido até os 7 anos e “o vencedor” está no caminho da saída do espectro.

Hoje, o garoto está enturmado com os colegas e tem, apenas, pequena dificuldade na fala. “Ele está interagindo e brincando mais com seus coleguinhas. Termina o dever sempre antes de todos e tem uma professora que é bastante preparada para ajudá-lo. A escola parece estar ganhando consciência”, desabafa a mãe. Ela destaca ainda que sonha com conquistas maiores. “Tudo que conquistamos hoje em termos de evolução do quadro de meu filho se deve ao esforço conjunto, a escola fez apenas o mínimo. Esperamos incentivar outros pais a entrarem nesta luta em busca da igualdade de direitos. Os méritos desta conquista são nossos e dele, que é um vencedor”, afirma, esta mãe que, por seu esforço e dedicação, também pode ser chamada de vencedora.

Privadas

A educação para crianças especiais não fica apenas na discussão das escolas públicas, como direito do governo. Mas chega também às privadas, que também desempenham uma importante função na educação, independente da condição financeira, são instituições responsáveis pela educação das crianças.

A Escola Nova Nossa Infância, na Pituba, é uma instituição que realiza trabalhos voltados para atender aos alunos especiais. A coordenadora pedagógica da instituição Renata Torzillo define melhor a conceito de “diferentes” que é utilizado pela escola. “Em seus princípios, ideias e crenças aparece muito forte a imagem de uma criança potente, capaz, detentora de diferentes linguagens, um sujeito de direitos e não apenas de necessidades. Sendo assim, a Escola, acredita que todas as crianças são especiais e únicas”.

Para outra coordenadora pedagógica da instituição, Priscila Gordilho, o preconceito existe e quando ele acontece, é preciso que toda a sociedade (estudantes, educadores, famílias) se engaje na questão, de maneira a minimizar ou extinguir o problema. “Isto é necessário para que todos os envolvidos compreendam que conviver com as diferenças é inevitável e benéfico, principalmente, porque desenvolve desde muito cedo nas crianças o senso de solidariedade, além da autoafirmação, estruturação da personalidade, lhes permitindo acolher melhor os desafios e viver plenamente nesse mundo tão diverso”, ressalta.

Renata destaca ainda que é importante promover estudos e debates entre os educadores, famílias e demais especialistas, aprofundando-se na história de vida dos estudantes, buscando caminhos para melhor apoiá-los. “Ações são executadas cotidianamente, como o trabalho em pequenos grupos, propostas individualizadas, além da formação continuada dos professores e participação ativa em seminários e conferências”, ressalta.

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