quarta-feira, 10 de abril de 2013

Escola digital desafia "professor analógico"

Além de diferença de gerações entre alunos e professores, formação de docente não contempla a tecnologia na sala de aula

A ideia de "Professores analó­gicos" em Escolas com "alu­nos digitais" sempre volta à tona quando o debate é a che­gada da tecnologia na sala de aula. A diferença de gerações é essencial nessa relação, mas há uma crise que cabe princi­palmente ao poder público re­solver: a formação dos docen­tes ainda não contempla essa nova realidade e desafios.

As lacunas de formação que faz com que Professores che­guem às Escolas já defasados em relação ao uso da tecnologia são sentidas pelas secretarias de Educação. "Graduações e licen­ciaturas atualmente em seu cur­rículo tratam a tecnologia e seus recursos de maneira superficial, pois aformação desses profissio­nais dá-se a partir de embasa­mentos teóricos, não relacionan­do a prática com a real função das tecnologias na Educação", diz a presidente do Conselho Na­cional de Secretários de Educa­ção, Maria Nilene da Costa.

A Educadora ressalta que a presença de recursos digitais vem avançando nas Escolas do País, com projetos do Ministério da Educação (MEC) e também das esferas estaduais - o que pressio­na o Professor. "O Docente que está iniciando a carreira ainda se depara com dificuldades de inse­rir o uso das tecnologias e recur­sos midiáticos de maneira interdisciplinar, reproduzindo ainda as aulas tradicionais."

O maior desafio, para a presi­dente da União Nacionais dos Di­rigentes Municipais de Educa­ção (Undime), Cleusa Repulho, é incorporar a tecnologia desde a formação inicial. "A tecnologia não está integradas nas faculda­des e na sala de aula, é notória a angústia dos Professores", diz ela. "O segredo é fazer com que todos os Professores entendam que isso é importante." Cleusa lembra que cabe ao MEC induzir de políticas públicas. A pasta in­formou que pretende oferecer capacitação a todos os cerca de 500 mil Professores do Ensino médio nos tablets que está distri­buindo. Os cursos, voluntários, têm duração de quatro a seis me­ses e são semipresenciais.

Apesar de receber críticas so­bre a distribuição de tablets sem que houvesse uma plataforma específica para seu uso, o ministro Aloizio Mercadante tem mostra­do preocupação com a formação. Em entrevista ao Estado pu­blicada ontem - quando se reve­lou que o ministério trabalha na criação dessa plataforma -, Mercadante reafirmou que a capacitação dos Professores é a prioridade. O ministro já repetiu algu­mas vezes que os estudantes es­tão no século XXI, enquanto pro­fessores, no século XX.

Diferenças. Além de achar acomparação infeliz, o Professor Nelson Pretto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ressalta que a diferença de gerações entre Professor e Aluno sempre existiu e não é tão problemática. "O Aluno é jovem e por naturezatraz a novidade, o desafio. Se um dia for muito diferente é que tere­mos de nos preocupar."

Especialista em Educação e comunicação, Pretto concorda que a formação inicial precisa ser transformada, para que não se dependa tanto da capacitação em serviço. "Necessitamos de uma revolução na formação, mas ela tem de ser acompanha­da por uma revolução nas condi­ções de trabalho e salário. Não é possível termos tantas expectati­vas com a Educação sabendo as condições dos Professores."

Professor da Escola municipal Guiomar Cabral, de Pirituba, zo­na oeste de São Paulo, André Bas­tos, de 41 anos, lembra que apren­deu mexer no Power Point, pro­grama de apresentações, porque um Aluno o Ensinou. Mas para ele, isso só pode ser positivo. "A Educação é uma via de mão du­pla, eu tenho de tirar vantagem disso. O bom é que o Aluno fica ainda mais protagonista", diz ele, Professor de português há 20 anos. "E esse é um desafio per­manente do Professor. Ele sem­pre entra na sala sem saber onde uma pergunta vai levar a aula."

Fonte: O Estado de S. Paulo 03/04/2013

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