Wanda Camargo - assessoria@unibrasil.com.br
Presidente da Comissão Central de Processo Seletivo da UniBrasil.
Presidente da Comissão Central de Processo Seletivo da UniBrasil.
Assim como o caminho - na bela poesia de António Machado - se faz ao
caminhar, a língua falada se faz ao falar. E está em permanente construção. Não
faz muito sentido pretender estabelecer regras rígidas para a comunicação oral.
O essencial é que falantes e ouvintes se entendam - e que esse entendimento
possa ser estendido aos circunstantes. Ressalvam-se aí as gírias de grupos que
não querem mesmo ser entendidos por “alienígenas”, e os jargões
profissionais.
Existe, evidentemente, o chamado preconceito linguístico - a atitude discriminatória assumida por pessoas, supostamente mais esclarecidas, contra o modo de falar de outras, geralmente menos privilegiadas. Em que pese o que há de odioso em qualquer discriminação, lamentavelmente o modo de falar é uma das primeiras características consideradas sobre um ser humano - talvez nem tanto pelo que diz sobre sua origem social, mas pelo que revela sobre seu extrato cultural.
A linguagem escrita também está em mutação constante. Porém, suas alterações formais se processam em períodos de décadas - e é dessa forma que deve ser. Ao contrário da língua falada, que é natural, a escrita é uma criação artificial - e necessita de regras que a organizem, perenizem e garantam sua universalidade, sem o que não poderia uma geração transmitir seus conhecimentos à próxima, não poderia ampliar-se a cultura, ciência e tecnologia.
Embora os meios atuais de comunicação propiciem certa uniformização da linguagem no país inteiro, em regiões diferentes fala-se de maneiras diversas. Não se pode dizer o mesmo da forma como se escreve - ou, pelo menos, não da forma como se deveria escrever.
Professores levam sustos terríveis ao corrigir trabalhos de seus alunos, com os coloquialismos descabidos, erros infantis de ortografia, flexões verbais absurdas, concordâncias inexistentes e, agora, com o uso indiscriminado de abreviações - comuns na comunicação eletrônica, mas não adequadas em atividades escolares.
A literatura é uma arte e, como tal, não se submete a regras. Um texto literário de vanguarda provavelmente não obteria boa nota, talvez sequer aprovação, em um concurso público. Mas o objetivo da literatura de vanguarda não é participar de concursos públicos. Em provas com grande número de candidatos, a correção das redações obedece a critérios muito objetivos - única maneira de garantir justiça e equanimidade para os concorrentes. A criatividade e a originalidade não têm grande peso. Não se trata de avaliar se o candidato é um bom escritor - e sim se consegue desenvolver um tema proposto com clareza e pertinência, obedecendo à norma culta da língua portuguesa.
Mas tanto no ensino fundamental quanto no médio, significativa parcela de docentes está desestimulada, descrente do próprio processo educativo – e, provavelmente, parte do desinteresse se deve à baixa remuneração, acrescida de precárias condições de trabalho e ausência de infraestrutura adequada ao ensino -, não sendo, portanto, estranhos os maus resultados do sistema obtidos pelo sistema educacional brasileiro em grandes avaliações internacionais.
Da negligência, pessoal e institucional, advém um nefasto circulo vicioso, em que o professor releva o mau desempenho do aluno - e este não espera nenhum empenho de seu professor. Então, nas provas de redação do ENEM, além das habituais incorreções gramaticais e ortográficas, na novidade dos textos enxertados - uma receita de macarrão instantâneo, o hino de um time de futebol -, certamente podemos ver uma declaração explícita: a de que candidatos não esperavam que suas redações fossem corrigidas, provavelmente (e infelizmente) em função de trabalhos escolares anteriormente não avaliados - ou sequer lidos - por professores que já não acreditam mais no magistério.
Educação de qualidade, em todos os níveis, requer o bom professor, valorizado e orgulhoso de sua profissão.
Existe, evidentemente, o chamado preconceito linguístico - a atitude discriminatória assumida por pessoas, supostamente mais esclarecidas, contra o modo de falar de outras, geralmente menos privilegiadas. Em que pese o que há de odioso em qualquer discriminação, lamentavelmente o modo de falar é uma das primeiras características consideradas sobre um ser humano - talvez nem tanto pelo que diz sobre sua origem social, mas pelo que revela sobre seu extrato cultural.
A linguagem escrita também está em mutação constante. Porém, suas alterações formais se processam em períodos de décadas - e é dessa forma que deve ser. Ao contrário da língua falada, que é natural, a escrita é uma criação artificial - e necessita de regras que a organizem, perenizem e garantam sua universalidade, sem o que não poderia uma geração transmitir seus conhecimentos à próxima, não poderia ampliar-se a cultura, ciência e tecnologia.
Embora os meios atuais de comunicação propiciem certa uniformização da linguagem no país inteiro, em regiões diferentes fala-se de maneiras diversas. Não se pode dizer o mesmo da forma como se escreve - ou, pelo menos, não da forma como se deveria escrever.
Professores levam sustos terríveis ao corrigir trabalhos de seus alunos, com os coloquialismos descabidos, erros infantis de ortografia, flexões verbais absurdas, concordâncias inexistentes e, agora, com o uso indiscriminado de abreviações - comuns na comunicação eletrônica, mas não adequadas em atividades escolares.
A literatura é uma arte e, como tal, não se submete a regras. Um texto literário de vanguarda provavelmente não obteria boa nota, talvez sequer aprovação, em um concurso público. Mas o objetivo da literatura de vanguarda não é participar de concursos públicos. Em provas com grande número de candidatos, a correção das redações obedece a critérios muito objetivos - única maneira de garantir justiça e equanimidade para os concorrentes. A criatividade e a originalidade não têm grande peso. Não se trata de avaliar se o candidato é um bom escritor - e sim se consegue desenvolver um tema proposto com clareza e pertinência, obedecendo à norma culta da língua portuguesa.
Mas tanto no ensino fundamental quanto no médio, significativa parcela de docentes está desestimulada, descrente do próprio processo educativo – e, provavelmente, parte do desinteresse se deve à baixa remuneração, acrescida de precárias condições de trabalho e ausência de infraestrutura adequada ao ensino -, não sendo, portanto, estranhos os maus resultados do sistema obtidos pelo sistema educacional brasileiro em grandes avaliações internacionais.
Da negligência, pessoal e institucional, advém um nefasto circulo vicioso, em que o professor releva o mau desempenho do aluno - e este não espera nenhum empenho de seu professor. Então, nas provas de redação do ENEM, além das habituais incorreções gramaticais e ortográficas, na novidade dos textos enxertados - uma receita de macarrão instantâneo, o hino de um time de futebol -, certamente podemos ver uma declaração explícita: a de que candidatos não esperavam que suas redações fossem corrigidas, provavelmente (e infelizmente) em função de trabalhos escolares anteriormente não avaliados - ou sequer lidos - por professores que já não acreditam mais no magistério.
Educação de qualidade, em todos os níveis, requer o bom professor, valorizado e orgulhoso de sua profissão.
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