Camila Maciel | de São Paulo
Mais da metade das bebidas alcoólicas comercializadas no país (54%) são
consumidas por 20% das pessoas que bebem. O dado consta do 2° Levantamento
Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) divulgado nesta quarta-feira, 10, pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em termos gerais, o estudo estima
que 11,7 milhões de brasileiros são dependentes de álcool.
Para o professor Ronaldo Laranjeira, organizador da pesquisa, essa
proporção demonstra o padrão de consumo de álcool no Brasil. "Apesar de 50% [da
população brasileira] não consumirem bebida alcoólica, os que bebem, bebem de
maneira abusiva", disse.
O 2º Lenad foi feito em 149 municípios em todas regiões do país. Foram
entrevistadas 4.607 pessoas com acima de 14 anos de idade. De acordo com os
pesquisadores da Unidade de Pesquisas em Álcool e Droga (Uniad) da Unifesp, a
mostra é representativa da população brasileira. O primeiro levantamento foi
feito em 2006.
O estudo constatou que houve um aumento de 20% na quantidade de brasileiros
que consomem álcool uma vez ou mais por semana. Também houve aumento no número
de pessoas que ingerem grandes quantidades de álcool (quatro unidades para
mulheres e cinco para homens) em um curto período de tempo (duas horas). Entre
esses consumidores, essa forma de beber passou de 45%, em 2006, para 59% no ano
passado.
A pesquisa destaca o aumento do consumo de álcool abusivo entre as
mulheres. A proporção das que passaram a beber uma vez ou mais por semana
cresceu 34,5% em seis anos, passando de 29% para 39%. Outro indicador que
demonstra esse comportamento nocivo é o que avalia o consumo de álcool em
relação ao tempo. As que ingerem quatro doses em até duas horas passaram de 36%,
em 2006, para 49% no ano passado.
De acordo com os pesquisadores, quando comparado a outros países, no
entanto, a taxa de pessoas que não bebem no Brasil é baixa, cerca de 50%. Na
Argentina, por exemplo, os bebedores chegam a 84% da população, informou a
pesquisadora Ilana Pinsky, que fez parte da comissão organizadora da pesquisa.
"Apesar dessa diferença, o índice dos argentinos que bebem abusivamente é
parecido com o nosso. Essa é uma característica do nosso país", explicou.
Entre os fatores que podem explicar o crescimento desse modo nocivo de
beber, está a ascensão econômica da população nos últimos anos. "A grande
mudança de 2006 para cá foi o aumento da renda, especialmente nas classes C e D.
Quem não bebia continua não bebendo. Por isso não tivemos aumento do número de
bebedores. Agora, quem já bebia vai ter a tendência de poder investir mais",
apontou.
Laranjeira destaca ainda, como explicação para o aumento do consumo
abusivo, a falta de política pública que desincentivem a ingestão de bebidas
alcoólicas. "O mercado do álcool permanece intocado. Temos 1 milhão de pontos de
venda que são estimulados a aumentar cada vez mais o consumo. Além do baixo
preço de bebidas e as propagandas que estimulam os mais jovens a beber",
ressaltou.
O professor avalia que as mudanças alcançadas no comportamento de beber e
dirigir são exemplos de como as políticas orientadas nesse sentido podem gerar
resultado. "Hoje, a única medida que existe em relação ao álcool em termos de
fiscalização é a Lei Seca", disse. O levantamento mostra que houve redução de
21% na proporção de pessoas que relatam ter dirigido após consumir álcool. A
maior queda ocorreu na Região Nordeste, com uma diminuição de 43%. Somente no
Centro-Oeste houve aumento, de 37% para 40%.
O estudo traz ainda dados que relacionam violência ao consumo de bebidas
alcoólicas. Em relação à violência na infância, por exemplo, das pessoas que
foram agredidas fisicamente quando crianças, 20% delas apontaram que o agressor
estava alcoolizado. Nos casos de violência doméstica, a presença do álcool foi
apontada em 50% das respostas. Em termos estatísticos, isso representa 3,4
milhões de pessoas agredidas em casa por alguém alcoolizado.
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