terça-feira, 30 de novembro de 2010

Educação empreendedora passa noções de respeito às diferenças e sustentabilidade

FABIANA REWALD
DE SÃO PAULO


Felipe Rossatti, 20, usou experiência de curso em sua loja
A vivência de marketing, recursos humanos, produção e finanças da fabricante de brigadeiros criada por Felipe e seus colegas está sendo utilizada agora na loja de vinhos que ele abriu.

Aplicado pela organização Junior Achievement no mundo todo, o Miniempresa chegou ao Brasil em 1983, como uma experiência pioneira de educação empreendedora.

De lá para cá, tanto redes públicas quanto colégios particulares brasileiros passaram a tratar do assunto em sala de aula, seja em uma disciplina específica, em um curso extracurricular ou em projetos interdisciplinares.

No entanto, mais do que ensinar como funciona uma empresa, a principal preocupação hoje é usar a experiência corporativa para passar noções de respeito às diferenças, sustentabilidade e organização do tempo.

"Não queremos que o aluno saia apenas como um possível bom empreendedor, mas que saiba lidar com o outro", diz Atílio Monteiro Júnior, coordenador pedagógico da 2ª série do ensino médio do São Luís (centro).

Em Curitiba, a rede Dom Bosco mudou radicalmente o ensino do tema. Criado em 2004, o projeto Dom Empreendedor "incentivava um grau de consumismo exagerado", diz Celia Bitencourt, diretora da unidade Batel.
Até 2009, o programa focava no desenvolvimento de um produto. Agora, prioriza a construção da postura empreendedora, e criar um produto passou a ser opcional.

OUTRAS MATÉRIAS

Outra função da educação empreendedora é despertar o interesse pelas disciplinas obrigatórias, diz Fernando Dolabela, criador de uma pedagogia implantada em 126 cidades do país.

"Os adolescentes que abrem uma empresa melhoram muito o rendimento escolar. Eles entendem que têm de falar um bom português para entender os contratos e que têm de estudar matemática para calcular juros."

Ricardo de Paula Rocha, 16, aluno do Consa (zona sul), percebeu isso ao estudar um plano de negócios.

Escrevendo relatórios semanais sobre uma cantina italiana fictícia, Ricardo e os colegas melhoraram a escrita.

"[O tema] faz os alunos estabelecerem melhor as relações entre as disciplinas e a prática", diz Steevens Beringhs, professor da Escola Internacional de Alphaville (Grande SP). "As competências trabalhadas -analisar, criar, trabalhar em um projeto- são importante para todas as matérias", diz Bernhard Beutler, diretor da Suíço-Brasileira (zona sul).

MARKETING

Para a professora de pedagogia da USP Silvia Colello, quando essas iniciativas estão afinadas com o projeto pedagógico da escola, elas são muito válidas. Mas ela alerta: "Às vezes, as escolas usam [as atividades não obrigatórias] como marketing".

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