sábado, 4 de dezembro de 2010

Educação continua concentrando investimento social privado brasileiro

Desirèe Luíse

A educação é a área social em que os empresários mais investiram em 2010. Dos 102 associados do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), 82% têm o ensino como foco principal de suas ações. O dado faz parte do Censo 2009-2010, mapeamento bienal sobre o investimento social privado dos associados do grupo. O documento foi divulgado pela instituição na última semana.

“A questão temática da educação é histórica. Além de ser efetivamente uma área fundamental para a sociedade, a escolha pelo setor se deve, em parte, pela predominância de investidores empresariais em um campo que já está consolidado. É mais difícil empresas investirem em temas controversos”, explica o gerente de conhecimento do Gife, André Degenszajn.

Além da educação, juventude (60%) e cultura (60%) também recebem o maior número de investidores. Os dados não são por valor investido, mas por investidor.

Com um investimento estimado em cerca de R$ 2 bilhões, em 2010, as organizações que compõem a Rede Gife beneficiaram aproximadamente 24 milhões de brasileiros. Com relação aos beneficiados, o número corresponde às respostas de apenas 84 organizações do conjunto, não das 102. Esses 84 investidores são responsáveis por 66% do valor total investido pela rede.

No setor educacional, a pesquisa mostrou que a capacitação de professores é a principal linha de ação dos institutos e fundações, com 70% dos investimentos. Em seguida estão as oficinas de arte-educação, com 46%, e a instalação de bibliotecas e laboratórios, com 45% das ações.

Sobre o público-alvo, o destaque ficou para o ensino fundamental. Os projetos das organizações voltadas para a faixa etária dos 7 aos 14 anos atingem 83%. Em segundo lugar, o ensino médio (15 a 17 anos) com 75%, e depois o ensino profissionalizante, para o qual as ações do Gife somam 39%.

“Hoje, na educação, há uma tendência a aumentar o investimento das empresas no ensino médio, pois números mostram que representa uma parte problemática na área do ensino”, afirma Degenszajn.

Investimento em cultura

Um dossiê especial sobre o investimento da Rede Gife em cultura também faz parte do Censo 2009-2010. Por meio do estudo, foi constatado que apenas quatro instituições afirmam que a área de cultura é o seu principal foco de atuação. Para 37 organizações, é apenas mais uma das áreas das quais desenvolvem ações, sendo que para 25 delas, recebe apenas investimentos esporádicos.

“Podemos concluir que há uma fragilidade na área da cultura de forma específica”, analisa o gerente de conhecimento do Gife. “Muitas vezes a cultura aparece como elemento instrumental, por exemplo, quando são desenvolvidas oficinas de arte-educação. Então, funciona como meio para alcançar objetivos educacionais, não como finalidade da promoção da cultura ou produção de bens culturais”.

Segundo a instituição, também áreas como defesa de direitos e comunicação ainda recebem pouca atenção da Rede Gife.

Para o grupo, as informações sobre o perfil das organizações revelam os desafios para a atuação de empresas no terceiro setor. Um deles é a ampliação não apenas da diversidade de investidores, mas a abrangência temática e geográfica para além do eixo Sudeste-Sul, de acordo com as conclusões do estudo.

Aprimorar os sistemas de gestão e criar indicadores de governança também foram pontos citados como metas para os próximos dez anos.

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