quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

90% saem do ensino médio sem aprender o esperado em matemática


Percentual dos alunos que aprendem o necessário fica entre 10% e 13% desde 1999 e foi de 11% em 2009

Cinthia Rodrigues, iG São Paulo


Mudar o tamanho da letra: A+ A- Compartilhar: De cada 100 alunos matriculados no último ano do ensino médio no Brasil, apenas 11 aprendem o que era esperado para essa fase. A pior situação é a do Maranhão, onde apenas 4,3% atingiram a nota mínima esperada. Já o melhor índice é o do Rio Grande do Sul, mesmo assim com apenas 19,4% do total de estudantes – somadas as redes pública e privada – com conhecimento compatível a concluintes do antigo colegial.



Porcentual que aprendeu o mínimo por Estado

O dado foi apresentado no relatório “De olho nas Metas”, feito anualmente pela Organização Não-Governamental Todos Pela Educação. O grupo acompanha cinco metas que tratam de acesso, alfabetização até os 8 anos de idade, aprendizado adequado à série, conclusão na idade correta e do financiamento e gestão da educação em todo o País. A terceira sugere que “até 2022, 70% ou mais dos alunos terão aprendido o que é adequado para a sua série”. Se a evolução atual for mantida, o Brasil só vai atingi-la em 2050.

Nenhuma série está perto de atingir o padrão estabelecido levando em conta o que o Ministério da Educação estabelece como básico para cada etapa, mas no 5º e no 9º ano do ensino fundamental houve melhora em comparação ao primeiro dado do Sistema de Educação Básica (Saeb), que é de 1999. Mesmo no ensino médio, quando se trata de língua portuguesa, atualmente 28,9% atingem o desejado para a etapa, enquanto eram 27,6% há 10 anos, mas em matemática eram 11,9%, e hoje são 11%. “Isso significa que 89% das nossas crianças estão concluindo a educação básica sem aprender o mínimo", explica Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação.

O sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Simon Schwartzman, acredita que o dado de matemática é mais revelador do trabalho da escola do que o de língua portuguesa. Segundo ele, o português está associado à educação familiar. “Se a família fala um pouco melhor, a criança aprende. Matemática depende da escola, o que significa que ela não está ensinando”, diz.

Evolução da Educação

A secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, admite o atraso no ensino médio e explica a avaliação pela herança histórica. “Não são só 10 anos que se perderam, são 500 anos perdidos. Muitas gerações foram desperdiçadas. O que fazemos hoje para tentar recuperar é o Prouni e a Educação de Jovens e Adultos”, afirma.

Menor investimento por aluno

Também é no ensino médio que está um dos menores investimentos do governo por aluno. Em geral, o Brasil parece caminhar para alcançar a meta número 5 da ONG: “até 2010 o investimento público em educação básica deverá ser de 5% ou mais do PIB”. Mas o investimento maior ainda é em educação superior (R$ 15,4 mil por ano por aluno), depois no ensino fundamental (R$ 3,2 mil) e só então no médio, com exatos R$ 2.317. O único aluno que recebeu investimento um pouco menor é o do ensino infantil, que custou R$ 60 a menos, em 2009, segundo dados do MEC compilados no relatório.

Entre as outras metas, o Brasil chegou perto da número um, que previa 92,7% das pessoas de 4 a 17 anos na escola em 2009 – o índice bateu em 91,9%. A taxa prevista pela ONG é necessária para que até 2022 se chegue a 98% dos alunos em sala de aula. "Não podemos cair na cilada de achar que este número é a universalização. Ainda temos 3,7 milhões fora da escola, algo igual a população do Uruguai", diz a diretora da ONG.

Os pobres continuam pior

O mais perverso é que, destes que estão fora da escola, 85% são da classe mais pobre. "A educação não está fazendo seu papel de criar mobilidade social", acrescenta Priscila.

Algo parecido ocorre em relação à meta número 4, que nos dados gerais está bem atendida, mas tem uma diferença entre resultados de diferentes classes sociais brutal. No objetivo “até 2022, 95% ou mais dos jovens brasileiros de 16 anos deverão ter completado o ensino fundamental e 90% ou mais dos jovens brasileiros de 19 anos deverão ter completado o ensino médio” o país conseguiu ficar dentro do “intervalo de confiança” – uma espécie de margem de erro – do esperado para 2009. Se formaram no ensino fundamental 63,4% dos adolescentes de até 16 anos (enquanto a meta era 64,5%) e 50,2% das pessoas com 19 anos no ensino médio (mais que a meta de 46,5%).

“É a meta que está melhor no geral. A má notícia é que na comparação entre quem tem menor e maior renda a diferença é de 59,5 pontos percentuais no ensino fundamental (96,8% atingem as metas entre os mais ricos e 37,3% entre os mais pobres) e 76,4 pontos no médio (93,6% contra 17,2%)", diz o presidente executivo do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos.

A ONG propõe ainda “que toda criança de 8 anos esteja alfabetizada”, mas ainda não há diagnósticos que possam verificar em que ponto o País está neste quesito. Para avaliar os alunos, no início do ano letivo de 2011, o Todos pela Educação em parceria com o Ibope e apoio do próprio MEC vai aplicar uma prova para alunos do quarto ano (terceira série antiga) e aos repetentes do terceiro ano (segunda série) que mensure quantos estavam alfabetizados no final deste ano.

Ao final da apresentação do relatório, a Todos pela Educação lançou cinco bandeiras para que as metas sejam atingidas. Veja abaixo:

As cinco metas defendidas pela "Todos pela Educação":

1 - Até 2022, 98% ou mais das crianças e jovens de 4 a 17 anos deverão estar matriculados e frequentando a escola

2 - Até 2010, 80% ou mais, e até 2022, 100% das crianças deverão apresentar as habilidades básicas de leitura e escrita até o final da 2ª série/3º ano do Ensino Fundamental

3 - Até 2022, 70% ou mais dos alunos terão aprendido o que é adequado para a sua série.

4 - Até 2022, 95% ou mais dos jovens brasileiros de 16 anos deverão ter completado o Ensino Fundamental e 90% ou mais dos jovens brasileiros de 19 anos deverão ter completado o Ensino Médio

5 - Até 2010, mantendo-se até 2022, o investimento público em Educação Básica deverá ser de 5% ou mais do PIB



As cinco bandeiras levantadas pelo movimento:

1 - Adoção de currículo nas escolas

2 - Valorização do professor

3 - Responsabilização dos gestores escolares

4 - Acompanhamento melhor das avaliações

5 - Melhores condições estruturais

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