sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Artigo - Professor: a construção de uma imagem

Derly Maciel de Camargoderly

Em uma tarde de domingo passeando com minha família, pude ouvir meus filhos e primos conversando, e uma frase que foi dita no meio daquela agitação típica de crianças me chamou a atenção: quem sabe faz, quem não sabe vira professor.

Confesso que fiquei chocado, principalmente porque vinha de crianças de cinco a nove anos! Controlei meu impulso de não intervir na conversa e deixei a coisa seguir seu curso natural. Logo em seguida veio outra frase que foi, no linguajar comum, “pra acabar”: “Vamos montar uma academia para ensinar tudo o que nós não conseguimos fazer”. Não me contendo, perguntei de onde teria vindo tais ensinamentos, obtive como resposta que foi no desenho denominado Academia de Gladiadores, que as crianças tinham assistido, o qual se propunha, dentre outras coisas transmitir conteúdo de comportamentos cooperativos, solidários e de ajuda ao próximo. Indaguei os pequeninos sobre o significavam aquelas frases, a resposta veio ainda mais bombástica: uma enganação pai!

Por mais que busque eficiência, eficácia e efetividade na gestão, excelência nos quesitos de material didático e estrutura de apoio, todos os esforços são acessórios, sendo a presença do professor o elemento aglutinador e maestro do processo como um todo. Não se concebe uma escola sem a presença do mestre. Elementos específicos de andragogia e heutagogia à parte, todo o ensino formal para a educação infantil, ensino fundamental e médio, passa pela batuta deste profissional.

Ouvimos muitas vezes sobre a necessidade de fomentar a educação brasileira e elevá-la a um nível equiparado aos dos países de ponta, por assim dizer. Melhoria de salários, condições de trabalho, plano de carreira, dentre outras situações emergentes. Mas infelizmente acredito que algo mais profundo deva ser pensado. A imagem apregoada por vários segmentos de um magistério incompetente, desatualização e pior ainda, descartável, deve ser seriamente repudiado.

Mas não um repúdio do discurso, mas da desconstrução, parafraseando Jacques Derrida, onde desmontaríamos todo o processo educacional brasileiro e colocaríamos escolas, públicas e privadas, professores, alunos, Estado, pais, mídia e empresas promotoras de materiais paradidáticos como a Academia de Gladiadores lado a lado em uma super produção que encheria os brasileiros de orgulho.

Um trabalho como este, seria materializado por investimentos estribados em uma métrica transparente e definida com a sociedade, por uma capacitação dos docentes proveitosa, desatrelada das ideologias partidárias apaixonantes que muitas vezes promovem a militância em detrimento da cidadania responsável, porque afinal de contas, a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte...

Derly Maciel de Camargoderly.maciel@gmail.comAssessor Teológico do Centro Educacional Evangélico, educador e representante do Sinepe no Conselho Estadual de Segurança Pública do Paraná.

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