Ao pensarmos em consumo, lembramonos do ato de comprar, de despender dinheiro para algo. Mas consumir vai muito além das compras. Estas representam apenas uma etapa do processo que engloba a decisão do que consumir, as razões, o modo e origem do produto ou serviço. Só após essa primeira etapa tem-se a compra e, ainda, o uso. No caso de bens perecíveis, também envolve o descarte.
Como podemos perceber, consumir não é um ato simplista, que se encerra em comprar algo. O consumo faz parte da sociedade contemporânea e se apresenta de maneira tal que nem sempre percebemos quando o fazemos. Ao estarmos numa sala de aula, por exemplo, consumimos a eletricidade que move os aparelhos elétricos, as cadeiras em que sentamos, a lousa que o professor usa etc. A diversidade de consumo nos acompanha da hora que acordamos ao momento em que dormimos.
Marcas do capitalismo
Existe uma lógica que rege a sociedade pautada no consumismo. E poucas pessoas refletem sobre os impulsos que conduzem suas atividades. À medida que a economia passa a girar em torno da acumulação do capital e o trabalho passa a ser dirigido para a produção de mercadorias, a sociedade caminha por valores que a induzem ao consumo de produtos, produzidos no intuito de manter o ciclo de reprodução do capital.
A acumulação do capital só se processa a partir da venda da mercadoria, que a transforma em um capital maior do que foi investido na sua produção. Esse ciclo só é possível se houver consumidores que garantam o consumo do que foi produzido. Por isso, numa análise um pouco mais aprofundada, chegaremos à ideologia do sistema produtivo em vigor que será disseminada pelos capitalistas: a ideologia do consumo. Ela é a base de sustentação do lucro das vendas. Quanto mais se consome, mais rápido e em maior quantidade o capital gira e é produzido.
Nesse aspecto, interessa ao capital que um produto seja consumido o mais rápido possível, para que seja substituído por outro com a mesma peculiaridade. É a obsolescência programada. Na fase atual do capitalismo, não interessa a produção de bens duráveis, pois freiam a rápida substituição, tornando o ciclo do capital mais lento e longo. Os avanços tecnológicos, então, tornam-se os principais aliados do processo produtivo, fornecendo-lhe inovações que permitem a constante produção de bens inovadores. É preciso considerar que, sob os moldes pelos quais se processam o referido sistema, há implicação sobre nós, a sociedade e a natureza.
O papel de cada um
O nosso comportamento e os nossos valores são direcionados por uma lógica maior, na qual estamos inseridos. Constantemente somos induzidos através das propagandas em massa a adquirir os produtos disponíveis no mercado para atender a necessidades criadas para tal. E, ao mesmo tempo, somos convencidos da obsolescência dos produtos que possuímos. O necessário é algo efêmero e que está sendo constantemente reinventado. Além disso, tudo tem um dono, tudo tem um valor. Subsistir não nos basta. É preciso ser dono para também valer. Somos impelidos a ser individuais e o outro se torna indiferente para nós - a menos que nos valha para algo.
Os impactos sobre a natureza são irremissíveis, afinal, é ela que nos fornece as matérias-primas de que necessitamos para produzir as mercadorias que consumimos. E o caótico quadro ambiental que vivenciamos reside no fato da desproporcionalidade da disposição dos recursos em relação à sua exploração. Retiramos do ambiente as matérias que produzem os bens para a nossa insaciável sede de consumo, múltiplas vezes mais do que ele é capaz de repor, deixando a natureza sempre com um déficit.
Já que não podemos fugir do consumo, reflitamos sobre a lógica que nos mantém consumidores e sobre as posturas que podemos adotar frente ao sistema que nos move. Compreender os reflexos e os impactos desse consumo diz respeito a um consumidor consciente. É preciso pensar nas possibilidades de adotar uma atitude de consciência frente aos nossos atos, visando a minimizar os efeitos nocivos na natureza que se revertem em males ao próprio ser humano. Convido, também, a repensar os nossos valores enquanto humanos, dotados de sentimentos e emoções que não podem ser contabilizados.
Atividade Mapa de consumo Objetivo:
Contribuir para a reflexão de que é possível nos comprometermos com o ato de consumir conscientemente.
Atividade:
Dividir os jovens em grupo e sugerir que construam um mapa, identificando quais são os bens de consumo que mais adquiriram no último mês. É impor tante que sejam registrados bens de consumo alimentar, eletrônico, vestuário etc.
Após o registro, o grupo pode debater: O que compramos era realmente necessário? Por que escolhemos estes bens e não outros? Qual a origem dos produtos? Quem são os trabalhadores que os produziram? Em que condições de trabalho? Onde descar tamos o que consumimos?
As conclusões do grupo podem ser apresentadas a par tir da perspectiva do consumo consciente, indicando o que é possível mudar na nossa sociedade, em nossa vida e na natureza.
Sugestão de Leitura:
BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. O sociólogo Zygmunt Bauman dá uma interessante e coerente contribuição no sentido de desvelar essa lógica do consumo que dirige a sociedade da economia de mercado.
Edilene Alves Rodrigues,
geógrafa, docente de Geografia da Rede Pública de Ensino,
com especialização em Análise do Espaço Geográfico,
Vitória da Conquista, BA.
Endereço eletrônico: geo_edilene@hotmail.com
Artigo da edição nº 412, jornal Mundo Jovem, novembro de 2010, página 9.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Consumo: a lógica que rege a sociedade
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