sexta-feira, 27 de maio de 2011

Consumo: a lógica que rege a sociedade

Ao pensarmos em consumo, lembramonos do ato de comprar, de despender dinheiro para algo. Mas consumir vai muito além das compras. Estas representam apenas uma etapa do processo que engloba a decisão do que consumir, as razões, o modo e origem do produto ou serviço. Só após essa primeira etapa tem-se a compra e, ainda, o uso. No caso de bens perecíveis, também envolve o descarte.

Como podemos perceber, consumir não é um ato simplista, que se encerra em comprar algo. O consumo faz parte da sociedade contemporânea e se apresenta de maneira tal que nem sempre percebemos quando o fazemos. Ao estarmos numa sala de aula, por exemplo, consumimos a eletricidade que move os aparelhos elétricos, as cadeiras em que sentamos, a lousa que o professor usa etc. A diversidade de consumo nos acompanha da hora que acordamos ao momento em que dormimos.

Marcas do capitalismo

Existe uma lógica que rege a sociedade pautada no consumismo. E poucas pessoas refletem sobre os impulsos que conduzem suas atividades. À medida que a economia passa a girar em torno da acumulação do capital e o trabalho passa a ser dirigido para a produção de mercadorias, a sociedade caminha por valores que a induzem ao consumo de produtos, produzidos no intuito de manter o ciclo de reprodução do capital.

A acumulação do capital só se processa a partir da venda da mercadoria, que a transforma em um capital maior do que foi investido na sua produção. Esse ciclo só é possível se houver consumidores que garantam o consumo do que foi produzido. Por isso, numa análise um pouco mais aprofundada, chegaremos à ideologia do sistema produtivo em vigor que será disseminada pelos capitalistas: a ideologia do consumo. Ela é a base de sustentação do lucro das vendas. Quanto mais se consome, mais rápido e em maior quantidade o capital gira e é produzido.

Nesse aspecto, interessa ao capital que um produto seja consumido o mais rápido possível, para que seja substituído por outro com a mesma peculiaridade. É a obsolescência programada. Na fase atual do capitalismo, não interessa a produção de bens duráveis, pois freiam a rápida substituição, tornando o ciclo do capital mais lento e longo. Os avanços tecnológicos, então, tornam-se os principais aliados do processo produtivo, fornecendo-lhe inovações que permitem a constante produção de bens inovadores. É preciso considerar que, sob os moldes pelos quais se processam o referido sistema, há implicação sobre nós, a sociedade e a natureza.

O papel de cada um

O nosso comportamento e os nossos valores são direcionados por uma lógica maior, na qual estamos inseridos. Constantemente somos induzidos através das propagandas em massa a adquirir os produtos disponíveis no mercado para atender a necessidades criadas para tal. E, ao mesmo tempo, somos convencidos da obsolescência dos produtos que possuímos. O necessário é algo efêmero e que está sendo constantemente reinventado. Além disso, tudo tem um dono, tudo tem um valor. Subsistir não nos basta. É preciso ser dono para também valer. Somos impelidos a ser individuais e o outro se torna indiferente para nós - a menos que nos valha para algo.

Os impactos sobre a natureza são irremissíveis, afinal, é ela que nos fornece as matérias-primas de que necessitamos para produzir as mercadorias que consumimos. E o caótico quadro ambiental que vivenciamos reside no fato da desproporcionalidade da disposição dos recursos em relação à sua exploração. Retiramos do ambiente as matérias que produzem os bens para a nossa insaciável sede de consumo, múltiplas vezes mais do que ele é capaz de repor, deixando a natureza sempre com um déficit.

Já que não podemos fugir do consumo, reflitamos sobre a lógica que nos mantém consumidores e sobre as posturas que podemos adotar frente ao sistema que nos move. Compreender os reflexos e os impactos desse consumo diz respeito a um consumidor consciente. É preciso pensar nas possibilidades de adotar uma atitude de consciência frente aos nossos atos, visando a minimizar os efeitos nocivos na natureza que se revertem em males ao próprio ser humano. Convido, também, a repensar os nossos valores enquanto humanos, dotados de sentimentos e emoções que não podem ser contabilizados.

Atividade Mapa de consumo Objetivo:

Contribuir para a reflexão de que é possível nos comprometermos com o ato de consumir conscientemente.

Atividade:

Dividir os jovens em grupo e sugerir que construam um mapa, identificando quais são os bens de consumo que mais adquiriram no último mês. É impor tante que sejam registrados bens de consumo alimentar, eletrônico, vestuário etc.

Após o registro, o grupo pode debater: O que compramos era realmente necessário? Por que escolhemos estes bens e não outros? Qual a origem dos produtos? Quem são os trabalhadores que os produziram? Em que condições de trabalho? Onde descar tamos o que consumimos?

As conclusões do grupo podem ser apresentadas a par tir da perspectiva do consumo consciente, indicando o que é possível mudar na nossa sociedade, em nossa vida e na natureza.
Sugestão de Leitura:
BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. O sociólogo Zygmunt Bauman dá uma interessante e coerente contribuição no sentido de desvelar essa lógica do consumo que dirige a sociedade da economia de mercado.
Edilene Alves Rodrigues,
geógrafa, docente de Geografia da Rede Pública de Ensino,
com especialização em Análise do Espaço Geográfico,
Vitória da Conquista, BA.
Endereço eletrônico: geo_edilene@hotmail.com
Artigo da edição nº 412, jornal Mundo Jovem, novembro de 2010, página 9.

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