CÍNTIA MURUSSI SILVEIRA, Professora Estadual
A educação brasileira já passou por inúmeras transformações, umas para melhor e outras nem tanto. Para melhor para alguns e nem tanto para outros. Se decidíssemos aprofundar a questão na discussão das pessoas com deficiência, certamente depararíamos com diversos tipos de realidades. Por certo, veríamos pessoas ainda na beira da pura miséria e analfabetas, apenas sobrevivendo de doações, de caridade de familiares e de outros que não as conhecem, mas sentem que precisam fazer algo. De maneira um pouco diferente, encontraríamos pessoas com deficiência e, aqui me dedico às que são deficientes visuais (as pessoas cegas ou com baixa visão), com sua vida em ascensão, com sua família, com seu trabalho. Tudo bem, o Brasil é um país de dimensões continentais, quem não sabe disso, mas a questão é: as políticas públicas não são feitas para todos?
Ao tentar responder a esta questão, surgem em reflexão os anos de experiência em educação e mais precisamente na educação das pessoas com deficiência visual. No Rio Grande do Sul, a situação vem se modificando, melhorando e posso acrescentar, sem sombra de dúvida, somos responsáveis por muitas mudanças no comportamento de colegas, alunos, familiares e comunidade em geral. Só que, ainda, o conhecimento mais específico fica em poucas mãos, precisamos compartilhá-los de forma eficiente e que tenha sempre um objetivo maior, a melhor qualificação dos alunos com deficiência visual.
Contudo, o que realmente queremos ver? Uma educação que favoreça o conhecimento a todos os alunos sem qualquer discriminação? Me parece que essas reflexões já passaram da criação de condições, da preparação dos profissionais, do acompanhamento dos pais, mas resta um obstáculo que parece persistir no dia-a-dia escolar, que são as barreiras atitudinais. São aquelas que por vezes nem sabemos que temos, mas são demonstradas diretamente ao aluno com um simples gesto, com uma palavra mal ou bem colocada, com a disposição do ensinar seja para quem. Bom, poderíamos enumerar uma série de situações que presenciei e que alunos relataram-me.
A diversidade dos alunos existentes na escola atual deve impulsionar-nos, os professores, a buscar novos conhecimentos. Agindo como verdadeiros curiosos e pesquisadores, teremos uma ampliação de conceitos sobre potencialidades e possibilidades, especialmente quando falamos de pessoas com deficiência visual. Ao tratarmos da pessoa, aceitamos diferenças que podem ser variadas considerando a nossa multiplicidade como seres humanos.
A escola, dentro de seus dilemas entre qualidade de ensino e democratização do mesmo, sem conseguir equivalência ainda, tenta resolver esse problema preocupante e não superado. No entanto, o processo de inclusão educacional é um processo dinâmico, onde há uma alteração de paradigma, pois a inclusão é vista como um direito humano, então não existe mais discussões se a inclusão é boa ou ruim, pode haver discussões nas formas que pensamos para agilizar o processo. Ou será que ainda existem profissionais na área da educação que não conseguem ver que há pessoas que enxergam de diferentes formas? Que a relatividade é um conceito mais atual que nunca? Que a escola deve priorizar a formação de valores humanos, para realmente melhorar as pessoas?
No início, a escola foi criada para poucos privilegiados, depois as mulheres e os negros puderam frequentá-la, hoje, este direito é estendido a todos os brasileiros, resta apenas que eles cheguem até a escola e lá permaneçam, sendo crianças quando são crianças, jovens quando quiserem mudar o mundo e adultos quando a resiliência permear seus pensamentos e atitudes.
Então, o que queremos ver? Igualdade, equidade e qualidade da escola pública.
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