19/05/2011 - Comportamento
Alunos da quinta série estudam história do Haiti durante as aulas na Royal Caribbean New School
Foto: The New York Times
Num morro coberto de mato, cerca de 25 alunos do jardim de infância cantavam músicas em crioulo numa sala de aula reluzente, o teto estava todo enfeitado com "varais" de borboletas de papel. Após o almoço, elas se juntaram no pátio e correram sobre o cascalho num borrão de uniformes azul e creme, todos bordados com uma âncora e um nome incomum para uma escola: ´Ecole Nouvelle Royal Caribbean´, ou Nova Escola Royal Caribbean.
Há anos, a Royal Caribbean Cruises Ltd., corporação de cruzeiros com sede em Miami, administra um resort particular num promontório nos arredores - um parquinho com espreguiçadeiras, bares e até um "alpine coaster", espécie de montanha-russa que arremessa os hóspedes pela floresta.
Desde 1986, a empresa arrenda do governo 105 hectares de frente para a praia, a cerca de 145 quilômetros a norte da capital, Porto Príncipe. Várias vezes por semana, até sete mil pessoas chegam para passar o dia quando navios gigantescos atracam no novo píer de US$ 34 milhões, oferecendo um contraste atordoante com a pobreza além dos portões.
Mas na esteira do terremoto de janeiro de 2010 que devastou a capital, a linha de cruzeiros recebeu críticas pesadas por voltar a aportar seus navios no resort trazendo veranistas brincalhões - apenas seis depois do tremor que matou 300 mil pessoas, segundo os números oficiais, desabrigando mais de um milhão de pessoas.
Foi então que, em outubro, a empresa abriu o complexo escolar num tom de cor cítrica alegre ao lado das cercas de arame fortemente guardadas do resort. Segundo representantes da Royal Caribbean, a decisão já estava em consideração antes do desastre e da pressão severa que recebeu depois dele.
"Estamos lá há muito tempo e, lógico, os problemas do Haiti são enormes, é difícil para qualquer um fazer um progresso significativo de verdade", disse Richard D. Fain, presidente e CEO da empresa. "Achamos que um dos lugares para começarmos seria pela educação." Ainda assim, a ajuda foi "modesta", acrescentou. "Somos uma empresa, não uma organização de caridade".
Outros projetos incluem um sistema de distribuição de água no vilarejo de Labadie, disse John Weis, vice-presidente associado. Depois do terremoto, a companhia doou cerca de US$ 2 milhões e ajudou a importar suprimentos emergenciais. "Não digo que estamos fazendo isto por uma motivação completamente altruísta, mas acho que nossa gerência sente que temos a responsabilidade de fazer a diferença aqui".
Se os moradores concordam que a escola é uma bênção para a comunidade, o elogio é pontuado com dúvidas. Localizada num morro, ela fica longe das cidades que atende e, como não fornece refeições - deixando muitas crianças com fome durante o dia, os críticos se perguntam por que a empresa não fez mais.
O Programa Alimentar Mundial deu alguma comida, mas empresa parou de fornecer almoço faz alguns meses, alegando questões sanitárias de preparo. Uma cozinha está sendo planejada, mas por enquanto somente alguns pais conseguem dar o almoço para os filhos, como vários professores falaram.
A grande parte dos 200 alunos não come nada de manhã cedo até voltarem para casa depois da aula, segundo os professores. Alguns alunos dormem nas carteiras de fadiga. "A escola foi construída para crianças pobres, mas ela funciona como se fosse para burguesas", disse Paul Herns, 29 anos, professor da quinta série. Ele expressou um sentimento comum: gratidão misturada à impressão de que a empresa, que teve um faturamento de US$ 6,8 bilhões ano passado, poderia ter feito muito melhor.
"A Royal prometeu uma escola que seria diferente das outras no Haiti, parecida com as escolas no exterior, onde as crianças são alimentadas e têm acesso a atividades esportivas e aprendem os rudimentos do inglês para falar com estrangeiros. E onde podem navegar na internet. Esses serviços ainda não foram providenciados", disse Herns.
Weiss disse que as refeições não foram prometidas. A escola em si é formidável e serena, um refúgio limpo em relação às várias cidades vizinhas de onde provêm os alunos, onde as ruas estão atulhadas com lixo e a fumaça de garrafas plásticas queimando. As turmas vão do jardim da infância à quinta série e a administração fica a cargo de uma organização sem fins lucrativos fundada e dirigida por Maryse Penette-Kedar, ex-ministra do turismo e presidente das operações da Royal Caribbean no Haiti.
Os alunos são escolhidos por sorteio e cerca de 20 por cento deles são filhos dos funcionários locais da empresa. "A ideia é conectarmos educação e empregos", declarou Weis. "Teremos um fornecimento contínuo de pessoas instruídas, que estarão preparadas para trabalhar a bordo do navio".
Foram investidos quase US$ 550 mil para construir e equipar a escola, segundo Weiss, e a Royal Caribbean gasta perto de US$ 200 mil por ano para administrá-la. A escola cobra uma taxa mensal de US$ 5, valor que os organizadores dizem ter imposto para criar uma noção de administração entre as famílias.
Certamente, há uma diferença brutal na comparação com escolas locais como a L´Ecole Nationale Mixte, na vizinha Fort Bourgeois, onde carteiras em péssimas condições cambaleiam no chão sujo atrás de portas de chapas metálicas corrugadas e enferrujadas, e a chuva passa pelo telhado, cancelando as aulas. Contudo, como se decidiu construir a escola num morro controlado pela empresa em vez de restaurar as antigas ou construir novas dentro da comunidade, ela também é afastada.
Muitos alunos vão estudar espremidos na traseira de picapes, ou "tap-taps", veículos caindo aos pedaços que funcionam como táxis locais, que a empresa diz subsidiar, embora os pais afirmem pagar com dinheiro do próprio bolso. A companhia oferecia ônibus escolar, mas cancelou porque o custo chegou a US$ 15 mil, os veículos eram ruins e estradas sulcadas pela montanha, perigosas.
A companhia pretende recomeçar e melhor o serviço
Alguns estudantes como Rodman Decius, 13 anos, cuja mãe, Immacula Caprice, 39 anos, precisou amputar o pé direito por causa de uma infecção e não pode trabalhar, disse que nem sempre conseguem pagar o transporte subsidiado. Em março passado, depois da escola, Rodman mostrou a um repórter sua caminhada de uma hora de volta para casa, passando por picadas na mata, em alguns momentos escalando um penhasco com uma face íngreme para o mar. Na jornada, ele passa por várias escolas. O aluno disse que comeu pela última vez há dez horas.
Moradores como o taxista Eddy Hippolyte dizem que, para algumas pessoas, em vez de construir uma vitrine, a empresa deveria ter reformado as escolas existentes. Já outros como Jacques Renelle, 37 anos, que dá aula no jardim de infância, são mais compreensivos. "O bem maior supera essas irregularidades".
Weis está irritado com o que considera uma atitude de "dar uma mão e querem um braço" que sente ter sido criada pelo trabalho de filantropia da empresa.
"Temos uma responsabilidade para com a comunidade onde estamos, mas tudo tem limite". Penette-Kedar concordou. "O Estado não oferece condições para seu povo, então você termina tendo de assumir a responsabilidade - não por completo porque isso não é possível. Essa não é a função da empresa, mas você está ali".
Para os alunos, que muitas vezes passam o recreio chutando uma garrafa plástica vazia ao redor das mesas externas da escola, o ambiente reluzente não é o único oásis que conhecem. O resort do cruzeiro fica ali embaixo, separado por uma cerca. "Eu queria poder brincar lá", disse Rodman, "mas não tenho dinheiro".
Fonte: Terra Educação
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Empresa constrói escola infantil no Haiti e recebe críticas
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e depois de usar os livros e os cadernos guardar tudo no lugar indiante são as regras da sala escola e depois do lancha todo o mundo guarda dentro da mochila para ir ao parque de diversão e obedecer a frofessora se ela deixar ao banheiro se pode lanchar ou não ten que obedecer
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