Por: Francielle
Conceituar cultura é, com certeza, uma tarefa extremamente árdua, especialmente quando se considera que o termo pode ser definido e entendido a partir de várias perspectivas. Para o senso comum, cultura é sempre sinônimo de conhecimento, inteligência; assim, ela possui matiz individual e, pode ser fonte de preconceito e alienação, tanto para os que “a possuem”, quanto para os que “não a possuem”. Em uma perspectiva antropológica, a cultura pode ser entendida como o elemento diferenciador.
Ela ocupa relevante papel no que tange a explicitação das diferenças entre as sociedades, sobretudo, no que se refere aos modos de pensar, sentir e agir das mesmas. Neste sentido, cultura oferece uma visão de mundo, evidencia como um determinado grupo social enxerga as práticas de outros grupos. Partindo deste prisma, corre-se o sério risco de cair no erro de avaliar as práticas culturais de outrem, sem, contudo, respeitá-las. Tal fenômeno é denominado de etnocentrismo, Gustavo Lins Ribeiro afirma que este fenômeno pode ser entendido como “relativismo cultural”.
Ainda pensando na conceituação do que vem a ser cultura, o antropólogo Roque Laraia afirma que Tylor quem definiu “cultura” pela primeira vez, se tratando de todo o complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
É bem verdade que a audácia de interpretar o mundo a partir da própria cosmovisão pode ser fonte de discriminação, haja vista, a tendência em evidenciar as diferenças culturais como algo anormal. Seguindo essa direção, corre-se o risco de cair no equívoco de estigmatizar traços sociais presentes em outra cultura que não são recorrentes na sua própria. Esse pode ser o elemento fomentador do nascimento do preconceito discriminatório; que confere à cultura status de raça, que por sua vez, está embasada em elementos biológicos, já, a cultura, fundamenta-se em elementos étnicos e não biológicos, apontando para o fato que indubitável, que não existe cultura superior. Nessa perspectiva, as instituições em sua maioria são portadoras de cultura. No que tange as instituições escolares, sabe-se que elas representam uma cultura de uma determina sociedade em uma determinada época. O professor Demerval Saviani afirma que: “com a divisão dos homens em classes, a educação também resulta dividida; diferencia-se em conseqüência a educação destinada à classe dominante daquela a que tem acesso a classe dominada”.
Assim, convém destacar que a instituição escolar é porta voz de uma determinada cultura. Embora nosso país seja multicultural e, as políticas públicas para educação preconizem uma educação pautada no interculturalismo, onde o diferente deve ser aceito e respeitado, se contrapõe ao conceito pregado pelo Conselho Nacional de Educação que é o de interculturalismo, que trata da interação entre os sujeitos que se diferem no modo de agir e pensar estabelecendo uma relação mútua de troca, como salienta Mauss (1923) o bem estar do ser humano não está em outra parte que não na “dádiva” do dar e receber.
Considerando que o conhecimento nunca é neutro, desinteressado e imparcial, subtende-se que a instituição escolar, criada pelo homem, também não é neutra. Ela visa atender alguma necessidade humana, especialmente daquela parcela que a criou. Quanto à escola, a própria palavra encontra sua raiz etimológica no vocábulo grego que significa: lugar do ócio. Assim, os membros da classe que se dispõem do ócio, de lazer, de tempo livre passaram a organizar-se na forma escolar. Ora, sendo assim, vale salientar que a escola difundi a cultura da classe dominante, a burguesia; que por sua vez, possui caráter excludente. Uma vez portadora dessa cultura, a escola torna-se porta voz de uma tradição herdada da colonização portuguesa, que aconteceu por meio de um processo de assimilação. Deste modo, a instituição escolar defende uma cultura européia cristã, voltada para brancos, e, apesar das políticas educacionais versarem sobre uma educação de caráter intercultural, sua prática não é efetivada, o que se observa na escola enquanto instituição, é que ela veicula um discurso de educação multicultural o que ferozmente ratifica o preconceito que subjaz na mente da sociedade contemporânea.
Isso posto, faz-se urgente a produção de um modelo educacional que contemple o diferente. A educação escolar tem de ser pensada não para um grupo específico, mas deve ser elaborada para o todo, considerando suas práticas culturais. Há que se elaborar currículos que contemplem a diversidade cultural presente no país. Criar disciplinas que tratam sobre práticas interculturais, não apenas de outras etnias, mas também práticas que se refiram a grupos vulneráveis, marginalizados perante a cultura dominante e que são olvidados em meio o contexto escolar segragador.
Portanto, deve-se atinar para a diversidade presente no nosso país por meio de um viés sociológico e democrático, no qual todas as pessoas, independente de seus conhecimentos, crenças, valores morais, costumes, etnia ou hábitos possam ter seus direitos garantidos e preservados.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Práticas culturais e educação: a instituição escolar enquanto elemento difusor de uma cultura.
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