quinta-feira, 26 de maio de 2011

Suspensão do kit anti-homofobia é "retrocesso", dizem especialistas

Letícia Mendes
Em São Paulo

A suspensão do kit anti-homofobia do MEC (Ministério da Educação) é um "retrocesso" na opinião dos especialistas ouvidos pelo UOL Educação. Para Jaqueline Gomes de Jesus, professora da UnB (Universidade de Brasília), esse tipo de material sobre a diversidade é "fundamental".

“Como as crianças vão conhecer a realidade se não houver material que leve a elas essa informação?”, questiona a psicóloga e doutora em Psicologia Social pela UnB. Ela aponta que em outros países, como nos Estados Unidos, são utilizadas apostilas sobre o assunto e que este é um modo de “atingir as pessoas em um aspecto afetivo”.

Na manhã desta quarta-feira (25), o governo suspendeu a produção e a distribuição do kit anti-homofobia, que estava em planejamento no MEC, após pressão da bancada evangélica e de grupos católicos do Congresso. Alguns parlamentares ameaçaram apoiar investigações sobre o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, porém o governo nega que esse tenha sido o motivo da suspensão.

Para Evaldo Amorim, presidente da ONG Elos LGBT-DF, impedir a divulgação do kit anti-homofobia é um "retrocesso da sociedade". “A informação é necessária no espaço escolar. É um material didático, responsável, adequado para a faixa etária do ensino médio”, afirmou.

Amorim conta que já foi proibido por alguns pais de alunos de dar palestras sobre orientação sexual em escolas. “Alguns jovens se suicidam por falta de diálogo com os pais, outros são agredidos na escola por falta de esclarecimento, até por parte dos professores que não sabem lidar com os estudantes por falta de informação”, argumenta a favor do kit.

Falta esclarecimento Sobre os parlamentares da bancada religiosa que alegaram que o material fazia apologia da homossexualidade, Amorim diz que são poucos, “mas estes estão tentando destruir um trabalho que está sendo pensando há um bom tempo”.

Amorim ainda afirma que o kit anti-homofobia fala de todas as orientações sexuais e que trata de questões importantes tanto para os estudantes quanto para o corpo docente. “Os jovens têm suas dúvidas e, em nenhum momento, o material os condicionará, mas esclarecerá e colaborará em sua própria construção de vida”.

Frente LGBT O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) criticou a suspensão do kit anti-homofobia pelo governo na tarde desta quarta (25). Segundo o líder da Frente LGBT na Câmara, não basta que a presidente Dilma seja "sensível à violação de Direitos Humanos em terras estrangeiras, essa proteção precisa ser feita, antes, aqui".

Ele apela, ainda, à "inteligência" da presidente para que ela não ceda às pressões dos grupos religiosos. E conclui: "Se a presidenta optar por ceder à chantagem - não há outro nome - dos inimigos da cidadania plena fazendo de seu mandato um lamentável estelionato eleitoral, só me resta esperar que, na próxima eleição, os LGBTs e pessoas de bom senso despertem sua consciência política e lhe apresentem também sua fatura: não voto!".

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