G1
A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), órgão ligado ao Ministério da Educação, solicitou a retirada de uma cena de um beijo entre duas jovens no vídeo “Torpedo”, durante a produção do kit que estava sendo preparado para o programa “Escola sem homofobia. A presidente Dilma Rousseff suspendeu a produção e distribuição do material que seria entregue nas escolas para ajudar o professor de turmas do ensino médio (a partir de 15 anos) na orientação sobre como lidar com situações em que se evidencia o preconceito contra homossexuais. Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, os vídeos do kit anti-homofobia poderão ser integralmente refeitos.
“Todo o material foi submetido à análise da Secad. O beijo entre as meninas foi vetado no vídeo ‘Torpedo’. Tudo foi feito com muito cuidado e amplamente discutido”, afirmou a socióloga Sylvia Cavasin, fundadora da Ecos, responsável por desenvolver o material para o programa do MEC. O vídeo feito com sequência de fotos mostra duas estudantes adolescentes que se apaixonam e são discriminadas na escola. Elas se encontram no pátio e decidem assumir a relação na frente de todos os colegas. Elas se abraçam ao final. Não há beijo.
Os outros dois vídeos, “Probabilidade”, feito com desenhos para ilustrar a história de um estudante e a descoberta de sua bissexualidade, e “Encontrando Bianca”, sobre os conflitos de um aluno transexual sobre o uso do banheiro masculino ou feminino na escola, não sofreram grandes mudanças após a filmagem, segundo a socióloga. Os três filmes vazaram na internet.
O G1 teve acesso ao kit que foi preparado pela Ecos para o programa do MEC. Os três vídeos mencionados são reunidos em único DVD. Outros dois vídeos mais antigos, que já haviam sido produzidos anteriormente, fariam parte do kit do MEC: a animação “Medo de quê?” (2005) e o “Boneca na mochila” (1995). A orientação de como usar os vídeos nas propostas pedagógicas estão dentro do “Caderno do professor”, que acompanha o kit.O material está sob análise da Secad. Quem dá a palavra final, no entanto, é o Comitê de Publicação do MEC, que pode vetar ou sugerir novas alterações no vídeo.
O caderno foi distribuído a um grupo de multiplicadores no final do ano passado durante um processo de capacitação que faz parte do pacote do programa. O caderno está (ou estava) sob análise da Secad e, por não ter sido aprovado ainda, não tem nenhum logotipo que remeta ao MEC ou ao Governo Federal. Como não foi aprovado oficialmente, a direção da Ecos não permitiu ao G1 fazer fotos do caderno.
O caderno do professor tem poucas ilustrações e é dividido em três partes. A primeira fala sobre os conceitos de gênero, diversidade sexual, homofobia e a luta pela cidadania LGBT. A segunda trata de retratos da homofobia na escola, mostrando pesquisas sobre o tema, como enfrentar a homofobia e de que maneira o tema aparece no currículo escolar. A terceira parte fala sobre diversidade sexual na escola, mostra ao professor temas que podem ser expostos e debatidos em sala de aula e sugere um projeto de política pedagógica dentro da escola contra a homofobia.
Segundo a Ecos, a ideia central, nessa parte, é a de mobilizar a comunidade escolar para que a diversidade seja contemplada com as devidas extensão e responsabilidade nos currículos e nas práticas escolares, enfrentando os desafios cotidianos relacionados à orientação sexual e à identidade de gênero de estudantes, professores e toda a comunidade escolar. “Só com esta proposta a escola legitima o tema”, diz Sylvia. “Não adianta a iniciativa ficar só com o professor, é fundamental que a instituição assuma o projeto.”
Ela destaca ainda que, em vez de silenciar sobre práticas que acontecem nas escolas, é preciso trazer a discussão em sala de aula para as situações vividas no cotidiano escolar. Diante da suspensão do kit pela presidente Dilma, e da possibilidade de se refazer os vídeos criados sob a supervisão da Secad/MEC, a Ecos aguarda uma posição do MEC para saber o que fazer com todo o material produzido em três anos de trabalho.
DEM quer cobrar ressarcimento das despesas do MEC com o kit
O presidente nacional do DEM, senador José Agripino declarou nesta quinta-feira (26), na reunião da Executiva Nacional, que o partido vai propor ações judiciais com o objetivo de devolver à União os gastos correspondentes à elaboração e distribuição do kit anti-homofobia do Ministério da Educação. "Vamos acionar o Ministério para que sejam devolvidos aos cofres públicos todo dinheiro gasto com material que a própria presidente Dilma mandou recolher por impropriedade", anunciou o senador.
O kit anti-homofobia é uma parte de um projeto do MEC que teve o orçamento total de R$ 1,8 milhão aprovado por uma emenda parlamentar que inclui ainda a realização de seminários, capacitação de educadores e pesquisa sobre homofobia nas escolas.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
MEC cortou beijo em filme do kit anti-homofobia, diz coordenadora
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário