sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Criança, escuridão e esperança

Onde reside a esperança? Na capacidade impressionante que o ser humano tem para sobreviver e superar todas as adversidades e em milhões de crianças que não são clientes exclusivamente da semana da criança e de suas campanhas solidárias, porque são amadas


JANETE GARCIA
Divulgação


“As ações em prol da criança devem ser implementadas durante todo o ano e não só no mês de outubro”

Estamos na semana da criança. Já perceberam como todos se sensibilizam quando o assunto é criança? Ela é presença na humanidade porque é parte natural da existência. É lembrada sempre. Está na bíblia com o famoso versículo “vinde a mim as criancinhas porque delas é o reino do céu”. Está na literatura, na arte e na música. Está na Constituição Federal em seu art. 227 quando diz que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Tudo muito lindo e interessante e não sejamos tão pessimistas porque a regra geral é amar e proteger as crianças já que são indefesas e vêm ao mundo por vontade do outro. O certo, então, é dar a luz no sentido amplo, com responsabilidade. Limitar-se a mostrar a luz do sol ao rebento e deixá-lo ardendo no fogo do abandono é desumano.

Sabemos onde está a criança bem cuidada e protegida E onde mais podemos encontrá-la? Não é difícil localizá-la. Está nas ruas, na miséria, na fome, na educação de má qualidade, no desamor, no descaso daqueles que têm o dever legal de protegê-la e está, acima de tudo, na mais catastrófica das posições: a de vítima. Nascem inocentes, puras, indefesas e acabam manchetes diárias por terem sido espancadas, abusadas sexualmente, torturadas, abandonadas, jogadas ao lixo, vendidas. É uma realidade covarde e cruel. E o que acontece na semana na criança? Afloram as campanhas para arrecadação de brinquedos novos e usados e junto com elas o discurso: temos que cuidar das crianças hoje porque elas são o futuro do país. Mas que futuro sombrio esse, hein?. Se o dispositivo constitucional não for efetivamente colocado em prática e cada um assumir o seu papel podemos nos preparar para a escuridão porque a situação da criança no Brasil é caótica. E a tendência é piorar, porque nascem “em pencas” e a sensação é de que, em muitos casos, passam a ser um estorvo para os adultos. Há as que já são rejeitadas no útero e, quando não abortadas, são lançadas no vazio. E se têm o “perfil de adoção” ainda terão chance de ter uma vida mais digna, caso contrário serão sobreviventes do sistema.

A pobreza ainda é a sentença mais dura. Somente o amor materno não traz saúde, educação escolar, lazer, moradia e garantia de uma vida digna. Na pobreza tendem a crescer com condições péssimas de vida, enfrentando a fila do SUS, dependendo de “bolsa miséria” para sobrevivência e formarão uma massa facilmente dominada, ou pelos interesseiros em votos ou pelo narcotráfico, hoje o maior adotante de nossas crianças. O certo é que as conseqüências são trágicas em qualquer situação.

Onde reside a esperança? Na capacidade impressionante que o ser humano tem para sobreviver e superar todas as adversidades e em milhões de crianças que não são clientes exclusivamente da semana da criança e de suas campanhas solidárias, porque são respeitadas, amadas, valorizadas e educadas durante todos os dias de sua vida. Elas trarão, com certeza, a luz para a escuridão e é preciso ações ininterruptas, eficientes e eficazes que garantam a todas, indistintamente, o crescimento saudável e digno.

(*) JANETE GARCIA DE OLIVEIRA VALDEZ é advogada atuante na comarcade Pontes e Lacerda, Licenciada em Letras e colaboradora do HiperNoticias. E-mail: janetegar@hotmail.com

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