É tristemente baixa a capacidade de mobilização dos nossos jovens. Salvo exceções, perderam o nobre sentimento da indignação diante dos problemas sociais e políticos, em um país com milhões de estudantes bem nutridos, bem instruídos, com tempo disponível e, no entanto, consumistas, hedonistas e sem qualquer participação comunitária. Poucos são os jovens que conhecem a crua e nua realidade da periferia de sua cidade ou que movem alguma ação concreta para debelar a perversa condição de miserabilidade de 19 milhões de brasileiros.
Em uma pesquisa que realizamos com 1900 alunos de três escolas de Curitiba, constatamos que apenas 8% participam sistematicamente de ações voluntárias. No entanto, 71% gostariam de participar, mas não sabem como. Assim, estamos muito aquém dos países da Europa e da América do Norte, onde a inserção dos jovens em projetos comunitários é relevante: de 40% a 62%.
Mesmo com a mídia concedendo espaços generosos a temas como justiça social, corrupção, impunidade, mais vagas nas escolas técnicas, qualidade do ensino público, poucos são os jovens que se apresentam. Cadê o frenesi que está no DNA da juventude, a exemplo das campanhas dos movimentos estudantis de 1968, das Diretas Já, dos caras pintadas pró-impeachment do Collor? Depois disso, duas décadas de tibieza e inércia, em meio a uma profusão de boas causas. Os lídimos aglutinadores dos anseios da sociedade, como a UNE, UBES, UPE, DCE, Grêmios, etc., pouco ou nada se manifestam. Falta-lhes representatividade, capacidade de mobilização e, comumente, se desgastaram com suas participações político-partidárias.
Mundialmente, vivemos duas realidades distintas: intensa participação estudantil, na denominada primavera árabe, fornecendo músculos aos legítimos e populares movimentos em prol da democracia; e, em contrapartida, o que se vê no Ocidente? Violência, quebra-quebras, saques, como os que eclodiram nas ruas de Los Angeles em 1992, de Paris em 2005, de Santiago, Londres, Madri e quase uma dezena de outras cidades em 2011. É a fúria das ruas. Não há causas, apenas caos.
Especialmente em relação aos recentes vandalismos em Londres, Zygmunt Bauman, 85 anos, professor universitário, autor de dezenas de livros e um dos mais respeitados sociólogos da atualidade, é enfático: “É uma revolta motivada pelo desejo de consumir, não por qualquer preocupação maior com mudanças na ordem social. Foi um motim de consumidores excluídos e frustrados. Todos nós fomos seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida”.
Aos sábados, a Gazeta do Povo nos brinda com as deliciosas e afetivas crônicas da jornalista Marleth Silva. Há duas semanas, discorreu sobre os jovens ingleses que fizeram quatro noites de quebra-quebras e só pouparam as livrarias. A nossa jornalista indaga e já em seguida palpita: “Que livro essa rapaziada deveria escolher?
Eu arriscaria O Apanhador no Campo do Centeio, do Salinger.”
Realmente, uma ótima sugestão. Porém, nós, os sessentões remanescentes dos movimentos estudantis de 1968, líamos Sartre, Marcuse, Platão, Darcy Ribeiro, Celso Furtado. Pouco entendíamos dos dois primeiros, pois eram densos e maçantes, mas estavam na moda. E não nos faltava pilhéria e presunção quando afixamos um cartaz na parede da pensão da rua Riachuelo, onde morávamos em quatro: “Há muito mais filosofia numa república da Riachuelo, que em toda a República de Platão.”
Sempre atentos aos riscos iminentes, cantávamos as músicas de protesto de Vandré. Chico, Gil e Caetano. Hoje, um quase hino à apatia, a maioria dos jovens pratica o refrão de Zeca Pagodinho: “deixa a vida me levar.” No entanto, essa bela música tem um estribilho reparador: “mas meu coração é nobre.”
Jacir José Venturi
jacirventuri@hotmail.com
Diretor de escola, foi professor do Ensino Fundamental, Ensino Médio, Pré-vestibular, da UFPR e PUCPR.
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