sábado, 23 de abril de 2011

Artigo - Diálogo como pressuposto educativo

Luiz Etevaldo da Silva,
Professor da rede pública do Estado do RS, atua em escolas na cidade de Ijuí.
Especialista em Humanidades.


O ser humano se humaniza através do diálogo. Por seu intermédio ele apropria-se da cultura do meio social em que vive. Como ser antropológico, o Homem necessita dos outros para constituir sua humanidade. Ele é um ser de relações, aprende a viver em sociedade por meio da partilha de experiências e das reflexões. Através da dialogicidade compreende a condição humana, entende suas dimensões sociológica, filosófica e psicológica. Ela é uma das características que diferencia o animal homem dos demais. A capacidade de pensar, enquanto ser racional, se configura com a comunicação. Neste caso, a linguagem é um traço distintivo entre as espécies, que permite a troca de conhecimentos e saberes, construir e reconstruir conceitos, ou seja, aprender a pensar.

Paulo Freire foi um educador que nos legou o conceito de dialogicidade, como categoria fundamental do processo educativo. Sem ela, segundo ele, não acontece efetivamente a educação. Em Pedagogia do Oprimido encontramos, por exemplo, reflexões acerca da dimensão do diálogo como construção cultural de humanização. Pensa-o pedagógica e filosoficamente numa perspectiva crítica, como condição para libertação.

O pensar crítico

Através do diálogo aprendemos a pensar, a construir conceitos, a questionar, a perguntar, a duvidar, a argumentar, isto é, a codificar e decodificar os processos culturais. O diálogo é constituidor da visão crítica, da busca de justificativas para nossos princípios e concepções. Na troca de ideias vamos ampliando nosso repertório de experiências, compreendendo melhor a sociedade e o mundo, em suas diversas dimensões. Ouvindo e falando vamos nos inserindo no contexto cultural, político e social. Ser crítico, neste caso, é formar um leque de possibilidades, de hipóteses prováveis, para fazer uma leitura da realidade levando em consideração as múltiplas facetas que a constitui dinâmica e dialeticamente. É não se contentar com respostas simplificadas, baseadas no senso comum; é ir além das aparências e descobrir as dimensões ocultas ou veladas da realidade.

Aprender a penar é condição de humanidade. O Homem, através da postura crítica, vai criando formas de expressar entendimentos e encontrar caminhos para chegar às respostas. Vai elaborando questionamentos, assumindo a práxis como meio de construir conhecimentos. O diálogo oportuniza perceber nossas possibilidades e limites, a revelar nossas incoerências e nos desafia a reconstruir nosso pensamento. Ele implica ver o mundo em movimento, como devir. Por meio da criticidade, então, vamos qualificando nossa perspectiva filosófica, definindo nosso imaginário e desenvolvendo nossa criatividade.

A dialogicidade é uma postura diante do outro e do mundo. É uma relação com o diferente ou com o igual, que nos provoca a dizer a palavra para nos constituir como ser político, que busca, através da crítica defender seu modelo de sociedade. O diálogo crítico-reflexivo cria possibilidades de novas formas de sociabilidades, com alteridade e equidade. A democracia não se consolida sem relações dialógicas. É por meio dela que buscamos os entendimentos, o consenso ou a discussão para chegar à decisão da maioria. Ser crítico é necessário para constituir nossa racionalidade e nos preparar para tomar decisões com menos incertezas. É condição de inteligência.

Educação e diálogo

Não é possível se pensar o processo educativo desprovido do diálogo. A apreensão dos conteúdos cognitivos, atitudinais ou procedimentais se dá por meio dele. Aprendemos a pensar quando entramos em contato com o outro. Os entendimentos se dão com ideias, que são construções culturais. Precisamos do outro para nos constituir como sujeito. Tudo que sabemos aprendemos com os outros.

O Homem dialoga para definir sua ética, questionar a moral, para explicar a ciência, para buscar a sobrevivência, fazer comércio, organizar-se politicamente e na conversação cotidiana. Educar, portanto, é ensinar esta condição, pois assim estamos ensinando a dinâmica dos processos culturais, os conhecimentos historicamente construídos, a interpretar o mundo, a buscar o equilíbrio entre racionalidade e emoção. Vamos aprendendo a dizer o que queremos, o que não queremos, por que, como, a denunciar e anunciar formas de construir sociabilidades.

Dialogando nos transformamos dia a dia, encontramos sentidos e significação para os dilemas existenciais, para agir de acordo com as circunstâncias, construímos consciência do mundo que nos cerca e nos colocamos na condição de sujeito. Segundo Paulo Freire, a relação dialógica é o fundamento primordial do processo libertador. Assim, nas interações nos espaços educativos ela é indispensável, é, na sua visão, um encontro amoroso dos homens que mediatizados pelo mundo o pronunciam.

Questões para debate: 1 - As relações entre educadores e educandos em sua escola propiciam relações dialógicas?
2 - Que situações evidenciam dificuldade das pessoas dialogarem democraticamente?
3 - Qual a importância do diálogo no mundo contemporâneo?

Fonte:Mundo Jovem

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