sexta-feira, 22 de abril de 2011

Entrevista - Com o ex-coordenador do Programa de Juventude e Meio Ambiente do Ministério da Educação

Educação ambiental é caminho para engajamento político de jovem

Sarah Fernandes



Conhecer a cadeia produtiva dos alimentos, descobrir de onde vem a água do seu bairro e articular pessoas em prol de campanhas pelo meio ambiente. Essas são algumas contribuições da educação ambiental para a formação de jovens, segundo o ex-coordenador do Programa de Juventude e Meio Ambiente do Ministério da Educação, Rangel Mohedano, que esteve no cargo até março deste ano.

Ele concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal Aprendiz sobre como a educação ambiental pode enriquecer o currículo das escolas. Confira.

Aprendiz – Qual a relação entre educação e meio ambiente? Como o tema pode contribuir para o aprendizado nas escolas e em espaços de educação não formal?

Rangel Mohedano – A ponte entre essas duas áreas é natural. O meio ambiente não é a Amazônia ou o lago Titicaca, mas, sim, onde você está. A relação do ser com o ambiente gera aprendizado, pois todo processo de interação é educativo.

A educação ambiental nos leva por uma linha mais experimental e menos teórica, que é de refletir qual meu papel no meio ambiente. Se eu compro carne, preciso saber se seu processo de produção destrói ou não a Amazônia. É uma questão de perceber como eu, indivíduo, tomo ações que repercutem no mundo.

Aprendiz – O termo educação ambiental parece estar um pouco esvaziado. Há ações do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério da Educação (MEC) para fortalecer essa área?

Mohedano – O Brasil é o primeiro país a ter uma politica nacional de educação ambiental. Ela é referência em legislação e execução. Pelas diretrizes, o MEC e MMA compõem um órgão gestor que trabalha junto com um comitê para chamar a sociedade para construir ações pela educação ambiental. Com ela, temos, à medida do possível, recursos disponíveis para contratar professores para a área. Neste trabalho de forminha conseguimos reverter o esvaziamento.

Aprendiz – Apesar disso, a participação de escolas nas Conferências Infanto-Juvenis de Meio Ambiente diminuiu.

Mohedano – Na primeira Conferência [Nacional] Infanto-Juvenil de Meio Ambiente [2003] participaram 17 mil escolas. Na última [2009], 11 mil. A participação diminuiu, mas a qualidade aumentou. O processo de qualificação das propostas e das diretrizes foi muito grande.

É notório que as pessoas se debruçaram sobre o tema e perceberam a proposta. Trata-se de uma vontade política. São crianças, adolescentes e jovens falando do mundo que queremos. É um processo participativo grande.
Aprendiz – O Meio Ambiente é um dos macro-campos do Programa Mais Educação. O que isso possibilita?

Mohedano – A educação integral e a educação ambiental têm conceitos que ambas as áreas pegam emprestado uma da outra e que são complementares, principalmente quando se fala em educação em espaços e em perspectiva integral.

Aprendiz – Quais elementos a educação ambiental apropria da integral e vice-versa?

Mohedano – Um deles é o de Bairro-Escola. O estudante precisa estudar seu espaço, como é o bairro, de onde vem a água, onde você pode comprar produtos e quem vive no bairro, tendo ele como um espaço educador. Na relação com esse espaço, eu me formo e me educo.

Meio ambiente é, por definição, aquilo que integra tudo. Não tem como falar de água sem falar do clima e do processo de civilização criado naquele espaço. Além disso, possibilita pensar como nossas ações hoje vão impactar daqui 20 ou 30 anos. Se eu formo uma geração para cuidar da água, no futuro teremos água para beber. Se não, não.

Aprendiz – A educação ambiental tem potencial para incentivar jovens a participarem de atividades políticas ou se articularem com outros grupos?
Mohedano – A bandeira ambiental é muito forte e está envolvendo cada vez mais gerações. A ideia é contribuir para ter um mundo saudável para próxima geração. Eu mesmo me envolvi com a causa com 14 anos, pois queria deixar um planeta melhor para os meus filhos. Hoje estou com 30 anos e vejo as gerações que vieram depois da minha com essa vontade mais forte. Então, se trata de uma bandeira mobilização do jovem.

É uma nova forma de fazer política, porque não posso decidir sobre o meio ambiente sozinho. Não importa minha vontade sobre a sua, porque todos têm que fazer sua parte para colaborar com a causa. Não adianta eu parar de jogar lixo no chão se você continua jogando, assim como não adianta São Paulo despoluir o Tietê se Salesópolis [SP] não participar. O ar e a água são de todo mundo. Isso joga a discussão política para um nível elevadíssimo.

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