sábado, 23 de abril de 2011

Formação - Eja

Alfabetização de Jovens e Adultos nos centros de atenção psicossocial


Cícera Maria Mamede Santos


Para que tenhamos bem-estar físico, social e mental, faz-se necessário que possamos conviver em sociedade, buscando respeitar as diferenças existentes, em relação ao gênero, etnia, opção religiosa, classe social etc. Esta forma de convivência nos faz mais solidários e colabora para o nosso crescimento pessoal e social. Neste contexto, os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, existentes em nosso país devem servir como referência para o tratamento de pessoas com transtornos mentais ou sofrimento psíquico (psicose, neurose, etc.). Estes centros são classificados de acordo com a clientela atendida. Esta divisão é realizada para otimização dos serviços prestados e segundo critérios do Ministério da Saúde, dentre os quais estão o número de habitantes e a necessidade local. Esta classificação é a seguinte:

• CAPS I E II – tem atendimento diário de adultos;
• CAPS III – atendimento diário e noturno de adultos;
• CAPSi – atendimento diário de crianças e adolescentes;
• CAPSad – atendimento diário para pessoas com dependência de álcool e drogas.
• Residência Terapêutica – moradia, inserida na comunidade, destinada a cuidar de pessoas com transtornos mentais, que passaram muito tempo em internações psiquiátricas, e não possuem suporte social ou laços familiares.

Quando uma cidade dispõe de toda essa infraestrutura, dizemos, então, que ela possui uma rede de atenção à saúde mental. Quem ganha com isso? Sem dúvida, a população, principalmente aquela que depende exclusivamente do SUS.

O trabalho realizado, em cada um desses centros, é feito através de equipe multiprofissional, onde a presença de cada um tem sua importância para o êxito do tratamento. Esta equipe é basicamente formada pelos seguintes profissionais: médico(a) psiquiatra, enfermeiro(a), assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo(a), professor(a) de Educação Física, assistentes e auxiliares (que colaboram para a efetiva concretização das atividades desenvolvidas). Dessa forma, cada profissional tem sua especificidade, sendo que as metas traçadas devem levar a um objetivo comum, ou seja: estimular a integração social e familiar, para que os clientes atendidos possam conviver com seus familiares de forma mais feliz e com maior autonomia. Isto é, sem dúvida, exercício da cidadania.

É importante enfatizar, também que, além do tratamento medicamentoso, realizado com remédios chamados psicoativos ou psicofármacos, existem diversas atividades realizadas diariamente, como por exemplo:
- Atendimento individual, em grupo e familiar;
- Atividades comunitárias, assembleias ou reuniões;
- Psicoterapia individual ou em grupo;
- Oficinas terapêuticas;
- Atividades artísticas;
- Atendimento domiciliar;

Convém mencionar ainda que a função desenvolvida pelo pedagogo(a) é imprescindível para que os clientes possam usufruir de uma terapia onde sintam-se co-participantes do processo. Dentre as atividades propostas, existe a oficina de alfabetização. Ela nos auxilia para que possamos utilizar o espaço de tratamento como lugar de reflexão, buscando democratizar o saber. Oportunizando às crianças, jovens e adultos sua inserção ou aprimoramento no mundo letrado. Dessa forma, alia-se aos medicamentos e terapias a luta constante pelos direitos de cidadão. A maioria das pessoas que frequenta os CAPS não teve oportunidade de ir à escola. Através dos avanços obtidos na área de saúde mental temos consciência de que muitos têm condições de progredir, de frequentar salas de aula do ensino regular. Pois segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 9394/96, a inclusão deve estar presente preferencialmente nos estabelecimentos educacionais (ensino regular). Embora tenhamos consciência de que ela tem que ser efetivada precisamos de muito apoio. Faz-se necessário uma melhoria na infraestrutura escolar: salas de aula com maior espaço, rampas de acesso: Capacitação continuada dos professores; diminuição do número de alunos e, sem dúvida, apoio técnico. O professor sozinho não tem como desenvolver bem o seu trabalho. Eu fico às vezes me questiono quando escuto algumas pessoas dizendo: professor hoje em dia tem que ser psicólogo, pai, mãe etc. Refiro-me a algumas questões em relação à indisciplina, falta de apoio familiar. Questiono-me porque: professor é professor, não é psicólogo, terapeuta, assistente social etc. A exigência em relação ao seu trabalho pedagógico é muito grande. A escola deve buscar uma maior integração com a família, para que esta exerça com mais responsabilidade seu papel, colaborando para o sucesso do processo educativo.

Temos registrado que alguns dos nossos clientes estão conseguindo conciliar o tratamento com o estudo, no ensino regular. Este fato nos deixa, sinceramente, com o coração cheio de felicidade, pois é o resultado do trabalho realizado em equipe. Portanto a grande função social do CAPS é, sem dúvidas: fazer com que as pessoas que o frequentam possam estar em contato com seus familiares, ampliando também, a convivência na sociedade. E a Educação de Jovens e Adultos é uma grande aliada neste processo que enriquece e fortalece os laços de cidadania. Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia, descreve como o professor, através de sua ação dialógica, pode conduzir o processo educacional como um ato de luta e respeito às diferenças.

Questões para debate:
- No município que você mora, existe CAPS? Você já teve oportunidade de conhecer os serviços oferecidos nesta unidade de saúde mental?
- Para você, de que forma a Educação de Jovens e Adultos pode proporcionar a inserção na sociedade?
Música:
Balada do Louco - Ney Matogrosso
Composição: Arnaldo Baptista / Rita Lee

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz

• Após ouvir a música, abrir espaço para debate.Cícera Maria Mamede Santos

Fonte:Jornal Mundo Jovem
Cícera Maria Mamede Santos
Pedagoga. CAPS, Barbalha - CE.

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