Por Ismar Jovita Maciel
A transvaloração dos valores morais e éticos torna os móveis, fluídos, maleáveis.
Há algo irredutível, imutável e único; esse algo, segundo Nietzsche é o ser, a essência e a verdade.
Nietzsche pensa a história dos valores como um processo de constituição e desenvolvimento do niilismo, como busca de substituição da vida pela ideia.
A linguagem é a matriz do Niilismo, sendo a própria transvaloração dos valores, ou seja, redução ao nada; doutrina que nega as verdades morais e a hierarquia dos valores.
O mundo, tal como se apresenta aos seres humanos, é pura transformação, e nenhum conceito capta tal maneira de existir. É, portanto, um duplo esquecimento—o da forma de construção do conceito e o do objetivo utilitário do conhecimento produzido—que faz o homem ir além da vida, sempre contingente, para imaginar, de forma delirante, que está falando de entidades abstratas, metafísicas, que se referem à essência última de todas as coisas.
A linguagem é produto da necessidade psicológica de exclusão das diferenças, da vontade de nivelamento, e redução do medo da pluralidade e do conflito.
A genealogia para Nietzsche é uma rede de signos, produzidos pela linguagem, que dão significados às invenções do homem.
Filosofar com o martelo—dupla função=destruição e criação.
A verdade é uma ideia, uma construção do pensamento, tem história.
Toda coisa produzida é imediatamente vazada por interpretações, sendo que um interpretar é um modo novo, um ajustamento da coisa a novos fins.
A vida é uma vontade de potência porque todo ser vivente busca por expansão, ampliação, crescimento e para isso requer forças, é uma relação de guerra, de força sem munição. “Algo vivo quer extravasar a sua força”.
A vida é constante mudança, transformação, configuração provisória, pois o caráter intrínseco a toda manifestação de vida é a luta, o confronto, choque produzido por um movimento de expansão e resistência.
“Todo corpo específico aspira a tornar-se totalmente senhor do espaço e a estender sua força ( vontade de potência), a repelir tudo que resiste à sua expansão. Mas incessantemente choca-se com as aspirações semelhantes de outros corpos e termina por arranjar-se (“combinar-se”) com os que lhe são suficientes homogêneos: então conspiram juntos para conquistar a potência e o processo continua....”
A mudança, o vi-a-ser implica dor. A dor é uma constitutiva do processo de materialização das forças.Toda manifestação da vida implica uma dose de dor, toda tentativa metafísica de estabelecer um mundo sem dor é uma luta contra a vida.
Signos=possibilidade de representar, de simplificar a pluralidade que o homem encontrou o seu primeiro refúgio, sua morada, “seu outro mundo”.
A consciência é formada por duas faculdades: memória e esquecimento.
O signo gregário deve ter o mesmo significado para todos dentro de uma coletividade, comunidade. Sendo que a linguagem é o signo de comunicação do rebanho.
O esquecimento compõe-se de uma atividade como um mecanismo colocado em ação pela necessidade. Necessário para a sobrevivência do homem.
A função da palavra é esquecer, esconder a pluralidade ao contrário de dizer, a sua função é mascarar, ocultar. Isso significa a impossibilidade de fixação e sentido, de ser e de verdade.
Platão dizia, na obra Fédon, que a linguagem, a qual foi classificada como um pharmacon, palavra grega que significa remédio, mas que muitas vezes é um veneno devido ao seu poder de persuadir as pessoas.
O sistema de códigos da linguagem nasce com a necessidade de comunicação imposta pela vida em grupo, é fundamento de toda metafísica.
O homem, por tédio e por necessidade simultaneamente, diz Nietzsche, quer existir socialmente e gregariamente.
Verdade, para esse grande filósofo, é utilizar corretamente os códigos, é obedecer a esta convenção, pois quando o homem cria os primeiros códigos de linguagem, funda, a princípio, as primeiras leis da verdade. Eis porque a verdade depende da sua origem.
A figura de linguagem metáfora é muita utilizada no livro porque está a serviço da eloqüência, é uma forma de vida inanimada, um jogo com as palavras.
A arte é uma positividade: um prazer legítimo do homem, dada não pela ilusão da verdade, mas pela afirmação da verdade da ilusão. Ressalta-se que o homem tem necessidade da ilusão e devido a isso cria a razão. Parece-me que a vida, segundo a leitura e o pensamento nietzschiano, sem a ilusão é como se fosse uma utopia, lugar nenhum.
“A verdade é uma ilusão que não explicita que é ilusão, então a verdade é uma “mentira”.
“Então o que é a verdade? (...) as verdades são ilusões que esquecemos que o são, metáforas que foram usadas e perderam a sua força sensível, moedas que perderam o seu cunho e que a partir de então entram em consideração, já não como moeda, apenas como metal.”
Acreditamos tomar posse, através dos signos, de uma massa enorme e em certa medida, disforme, de fatos. O poder do intelecto não está em dominar, todavia acreditar que domina.
Toda interpretação é produto de um jogo de forças, de uma luta por domínios, que Nietzsche chama de vontade de potência, como citado no decorrer do substract.
Saber não é reconhecer, mas esquematizar, simplificar, traduzir a pluralidade e a função do conhecimento é traduzir o desconhecido em conhecido.
A razão é a órbita capaz de fazer o pensamento girar em torno da mesma idéia; a identidade, a causalidade, a não-contradição do ser. É a linguagem quem advoga a fazer do erro metafísico do ser, raciocinar é submeter o pensamento a este sistema.
O homem projeta nas coisas que ele gostaria ou imagina ser. É como se fosse a relação objeto/sujeito, ontognoseologicamente falando.
O que define o homem é capacidade de produzir conceitos a partir da esquematização das impressões, ou seja, a linguagem. A linguagem é o instrumento que sustenta todos os sistemas, principalmente o sistema de leis: ordem piramidal de castas e graus de privilégios e subordinações.
A verdadeira realidade é o mundo fixo, idêntico a si mesmo, enquanto a vida é vista como aparência, como engano, como ilusão. É esta inversão que Nietzsche busca desfazer da sua transvaloração dos valores: o lugar por excelência desta inversão é a lógica.
Os acontecimentos na natureza são inexplicáveis para nós. O que marca a busca humana por conhecimento é a impossibilidade do conhecimento verdadeiro, próprio de um mundo marcado pelo devir. Esta impossibilidade que leva a criação da rede de fixações e sentidos, esta rede de ficções chamada legião.
O que sustenta a busca por conhecimento é a crença de que, também, exista uma coisa irredutível, idêntica a si mesma, e que essa coisa é a essência da vida, o ser, a verdade.
A identidade é uma crença nascida do medo do caráter absolutamente transitório de tudo que vive.
A questão da antropomorfizaçao é bem refutada por Nietzsche, que o fenômeno do homem ser visto como medida de todas as coisas.
A subjetividade é produzida pela vontade, consciência e sujeito do conhecimento, que será a criação de causa.
O surgimento da linguagem é uma música, não uma música na essência da palavra, mas melodia original dos afetos. Uma língua dos afetos, puramente sonora, impossível de ser simbolizada, que seria o fundo de todas as coisas, segundo Nietzsche.
A linguagem das palavras é uma analogia apolínea, formal, coesa, clara; a música é uma analogia dionisíaca noturna.
Moisé, Viviane. Nietszche e a Grande Política da Linguagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
Fonte: http://www.webartigos.com
sábado, 23 de abril de 2011
Artigo - Nietzsche e a grande política da linguagem.
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