sábado, 23 de abril de 2011

Aula- O que é Hipertexto?

Por Regina Verdin

1. O que é Hipertexto?

Geralmente ouvimos a palavra Hipertexto quando estamos lidando com a Internet. Entendemos que o utilizamos no contexto de “navegação” nas páginas da WEB. Encontramos links que ligam as páginas umas com as outras proporcionando uma leitura diferenciada de texto. Lemos (2002) nos apresenta uma possível definição de hipertexto:

Os hipertextos, seja online ou offline são informações textuais combinadas com imagens, sons, organizadas de forma a promover uma leitura (ou navegação) não-linear, baseada em indexações e associações de idéias e conceitos, sob a forma de links. Os links funcionam como portas virtuais que abrem caminhos para outras informações. O hipertexto é uma obra com várias entradas, onde o leitor/navegador escolhe seu percurso pelos links. Lemos (2002, pag. 130 apud Aquino, online)

A característica de marcante especificada por Lemos, como também de outros autores, pode não conter o significado exato do idealizador do termo. Você sabe quem foi o idealizador/criador do termo? Isto nos provoca a pensar que não é sempre que, os termos que circulam entre nós por autores, são os termos que traduzem a transformação que está ocorrendo na Sociedade da Informação. Devemos estar atentos para não cair em processos de simplificação e banalizar os termos inconseqüentemente aceitando qualquer caracterização. O sentido tem que ser coerente ao modelo de Sociedade que estamos vivendo. Neste sentido, também devemos cuidar quando entramos no fluxo de informações veiculado pela Internet.
Foi Ted Nelson o idealizador e criador do termo Hipertexto.

Segundo Nelson a World Web Wide com suas páginas estruturadas com hiperlinks não configuram uma rede hipertextual. Para Nelson uma rede hipertextual apresenta links bidirecionais. Os links da Internet são unidirecionais, pré-determinados por um autor, cuja interligação não permite inclusão de novos links

Alguns autores (Lévy, 1993) denotam o caráter associativo do hipertexto como similar ao funcionamento do cérebro humano:
o hipertexto conecta palavras e frases cujos significados ligam-se uns aos outros, ou seja, o texto, na verdade, é sempre um hipertexto, já que estabelece na mente do leitor uma rede de associações. (Lévy, 1993 apud Aquino, online, pg. 3).
.
O que é bilateriaridade? Como exemplo, a bilateriaridade distinguida por Nelson na rede hipertextual, pode ser detectada em alguns exemplos na Europa Moderna: os manuscritos (“textos menos fixos e mais maleáveis do que os impressos” (Aquino online), ou seja outras pessoas além do autor podiam acrescentar ou tirar algo do que copiavam. Portanto, a bilateriaridade se mostrava nos manuscritos, pois oportunizava para quem copiava e lia modificar os seus conteúdos.

Outro exemplo na História de escrita hipertextual encontra-se na idade média com Leonardo da Vinci (Aquino)

Leornado anotava nas margens das páginas de seus escritos. Nos séculos XVI e XVII haviam as chamadas “marginálias”, ou seja, anotações feitas à mão nas margens dos livros impressos da época

Em forma de índices pessoais, citações de textos e remissões a outras partes ou outros textos, as marginálias eram transpostas para um caderno de “lugares comuns” para posteriores consultas (Aquino, online pag. 4).
Os rodapés dos nossos livros impressos não poderiam ser um hipertexto, embora similar às anotações às margens dos textos pelos leitores, não proporcionam modificações dos mesmos, ou seja, a bidirecionabilidade.

Os sites da Internet, ainda não permitem participação ativa do usuário na construção dos seus textos. No entanto, a ferramenta Blog, pode auxiliar na modificação de sites, uma vez que os blogs permitem postagem de comentários sobre os textos postados e podem estar conectados aos sites.
Entendemos um site como um local na web que representa uma pessoa ou entidade, e possui um endereço virtual chamado URL (Uniform Resource Location).

Como já dito anteriormente, a rede hipertextual nos remete ao modo similar ao funcionamento da mente: por associações. Nós vamos de uma representação a outra ao longo da rede. As diversas mídias estão disponíveis para nós conectá-las seguindo nossa própria rota. Mas na realidade os textos digitais com hiperlinks não nos permite traçar nossa própria rota, apenas podemos escolher que hiperlinks desejamos clicar.

Alguns autores criticam esse modo de navegar em textos digitais constatando que esse “tipo” de interação fragmenta o pensamento de quem o lê. No entanto, alguns argumentam que este modo é dinâmico, ao contrário do fixo e linear. Precisamos refletir o que acontece na organização do pensamento na navegação por hiperlinks em textos na web.

Para Nelson (Aquino, online) na idéia de hipertexto, os links não quebram, ou seja, os documentos são modificados freqüentemente e se mantém conectados entre si. A prática hipertextual disseminada pela WWW não é exatamente o que Nelson pensou, como já vimos anteriormente.
Berns-Lee (Aquino, online) inventou o HTML , um formato para armazenar documentos no disco rígido de um computador com acesso permanente à internet. Cada computador teria localização específica denominada URL . Para acessar a URL é necessário um protocolo o HTPP .

Forma-se links que dependem das URL. Para poder lê-los precisa-se de um Browser . A criação de links é de acordo com a vontade do programador. Neste sentido, essa idéia de hipertexto se distancia da idéia de Nelson, pois configura a ausência da coletividade da prática hipertextual (Aquino, online).
A idéia básica, então, de hipertexto é a conexão entre documentos construídos coletivamente, permitindo a participação de escritores e leitores ativamente na elaboração dos textos.

A coletividade se faz presente na escrita hipertextual. Nos Wikis a coletividade se dá ao permitir que outras pessoas escrevam e incluam links na elaboração do texto. O exemplo desta escrita hipertextual é a Wikipedia. Os links bidirecionais propostos na idéia de Nelson de hipertexto podem ser modificados e a conectividade constante entre os documentos salientam a possibilidade de construção coletiva dos textos na Wikipedia.
Coletividade é um conceito ligado diretamente ao de interação e a Escola do Interacionismo Simbólico traz uma definição adequada de uma situação de comunicação efetivamente interativa (Aquino)

A interdependência entre os atores da comunicação na interação proporciona uma interatividade. A prática hipertextual da Web não é interativa, no sentido que aqui estamos colocando e como reforça Aquino:

De acordo com os preceitos do Interacionismo, não é possível considerar a prática hipertextual da Internet de hoje como efetivamente interativa. Isso porque o usuário da rede não interage totalmente nas páginas, ou seja, ele não possui a possibilidade de se manifestar criando novos links, mas age de forma limitada, somente escolhendo caminhos que o levarão a lugares pré-determinados pelos programadores das páginas (Aquino, online pag. 10)
A possibilidade da escrita hipertextual de forma coletiva, só é possível pelo hipertexto cooperativo. Uma situação de comunicação que possibilite a interação, ou seja, a atuação recíproca de seus atores, sem isso não se pode falar em cooperativo e coletividade.

Enfatizando a construção coletiva de conhecimento, a Wikipedia apresenta-se como uma real possibilidade dos usuários participarem da tessitura da teia de nós da internet como já afirmou anteriormente.

Criado em 1995, por Ward Cunningham, o sistema wiki (que significa “rápido” no Havaí) funciona através de um script instalado no servidor permitindo que qualquer usuário da Internet possa alterar/editar o conteúdo das páginas que funcionam dentro desse sistema, sem a prévia autorização do autor da página, o que acaba fazendo com que todos sejam autores e que o texto nunca tenha uma versão definitiva, mas que fique em constante modificação. Cada alteração realizada permanece salva dentro do sistema, podendo ser verificada retrospectivamente.

Em janeiro de 2001, Larry Sanger e Jimmy Wales lançam a Wikipédia, a qual acabaria se tornando o maior projeto wiki até hoje realizado. Anterior a esta criação, Sanger já trabalhava no projeto Nupedia (http://www.nupedia.com), criado por Wales, que consistia em uma enciclopédia online escrita por especialistas. Porém, diferente da Nupedia, que era construída por especialistas, a Wikipédia tinha como proposta ser redigida por internautas comuns, ou seja, não exigia nenhum pré-requisito, apenas a disposição do usuário para fazer parte do projeto.

A Wikipédia é estruturada em verbetes, os quais estão disponibilizados em diversos idiomas, entre eles até mesmo o latim e o esperanto. O sistema também possui uma versão em português (http://pt.wikipedia.com/wiki.cgi?HomePage). De acordo com Primo e Recuero (2003) convém lembrar que cada alteração, cada inclusão de link dentro de um verbete modifica toda a rede hipertextual da Wikipédia e dessa forma constrói-se um hipertexto do tipo cooperativo. Assim, o sistema condiz com a noção inicial de hipertexto, pois concede a plena atividade do usuário na construção da trilha hipertextual (Aquino online, pag. 13).

A web nos coloca numa fonte inesgotável de informação e num fluxo dessas informações, mas ainda não possibilita a escrita hipertextual conforme os parâmetros aqui expostos.

Vamos abordar mais a frente os conceitos de interação e interatividade próprios da lógica comunicacional da Sociedade da informação.
Tratamos aqui sobre o que é o hipertexto e aspectos que o fundamenta. Concluímos que nem sempre o que é denominado a interatividade que ele proporciona com a singularidade de ser bidirecional e coletivo. Outro significado mais coerente para o que se apresenta na Web e que se traduzem em textos, hiperlinks que usamos para navegar nestes textos digitais e mídias digitais são os que podem ser denominados hiperdocumentos.

Fonte:
AQUINO, Maria Clara. O Hipertexto como Estrutura Editorial Básica da Internet: Construção Coletiva e Interatividade na Escrita Hipertextual. 2004.
1.1 Potencialidades educativas do Hipertexto para o espaço de aprendizagem
Estudos apontam que uma aprendizagem em cooperação através da interação social tem efeitos mais duradouros do que a aprendizagem competitiva e individual. A cooperação é decorrente do aspecto interativo da aprendizagem.

O Hipertexto é só uma tecnologia de acesso á informação, ao conhecimento ou existem vantagens reais em termos da aprendizagem com estes sistemas? Podemos falar de um lado através de uma perspectiva tecnológica, e, de outro, através de uma perspectiva educacional. O ponto-chave é: se o hipertexto, que possibilita a criação de ambientes em que o usuário tem uma autonomia enquanto navega na informação, ou interage com a informação, pode contribuir para que este utilize estratégias individuais de aprendizagem, e que seja sujeito responsável pelo seu próprio processo de aprendizagem. Nesta linha, há diferentes perspectivas: os que consideram o hipertexto como um sistema de aprendizagem em que ocorre algum tipo de aprendizagem, e que utilizam como um sistema de apresentação da informação (Mayes et. Al, 1990 a ; Duchastel, 1990); e aqueles que o definem como sistema de ensino, portanto ligado a contextos educacionais formais e a tarefas orientadas por objetivos (Whalley, 1990).

A seguir apresento uma tabela, onde identifico alguns resultados de pesquisas e algumas perspectivas relacionadas ao hipertexto e a aprendizagem nestes dois aspectos, implicadas em duas abordagens de aprendizagem. Essa síntese foi feita baseada no texto de Lina Morgado: O lugar do Hipertexto na aprendizagem: alguns princípios para sua concepção.





Sistema de Apresentação da Informação
Sistema de Ensino visto sob a perspectiva do aluno



Aprendizagem pela descoberta Num ambiente que se caracterize pela existência de uma rede de conhecimento interligado, que possibilite o movimento através desse espaço de informação conceptual, o utilizador aprenderá, sem dúvida, também de modo acidental enquanto explora este espaço, aprendendo peloa descoberta e experiência pessoal. O fato de navegar e pesquisar seguindo a intuição, trará sempre maiores benefícios do que estando limitado às características do ensino programado. Romiszowski (1990) afirma que só se processa aprendizagem pela descoberta se existirem ligações entre conhecimento prévio e a aprendizagem que pode ser realizada pelos alunos autonomamente. A exploração ativa no hiperespaço não é de forma alguma um processo semelhante a uma exploração ao nível conceitual, verificando-se que, em certos casos, os sujeitos se envolvem de tal modo na aprendizagem dos conteúdos apresentados que se “esquecem” de fazer a aprendizagem da utilização dos mecanismos de exploração.
O que se verifica nos primeiros contatos com o hipertexto, é que os sujeitos ou aprendem a navegar no hipertexto ou se centram nos conteúdos propriamente ditos, não o fazendo em simultâneo. Observa-se um aumento de uma utilização flexível do hipertexto.
Neste sentido, os sistemas devem ser concebidos para apoiar a aprendizagem, providenciando mecanismos de representação do espaço conceitual diferentes das ligações e nós do hiperespaço, e instrumentos para o aluno construir, modificar e interagir com o seu próprio mapa conceitual.


Aprendizagem Associativa A utilização do hipertexto em contextos de aprendizagem formal é problemática, dada a diferença estrutural e conceptual entre eles. É sobretudo no campo da aprendizagem informal, e potenciando os fatores de ordem motivacional, que ele oferece vantagens. O hipertexto não é adequado a tarefas com um grau de estruturação elevado, adaptando-se preferencialmente a uma aprendizagem associativa.



Fonte: http://www.webartigos.com/articles/63870/1/O-que-e-Hipertexto/pagina1.html#ixzz1JnbQXU5R

Nenhum comentário:

Postar um comentário