É necessário avaliar mais cedo, para melhorar o aprendizado mais cedo', diz pesquisadora Para Gladys Rocha, da UFMG, as avaliações podem ser instrumentos a serviço da escola Reprodução/SXC
Carolina Vilaverde
Da Redação do Todos Pela Educação
A avaliação dos estudantes logo no início do Ensino Fundamental é uma ferramenta para que os profissionais da Educação possam intervir e ajudar as crianças a adquirirem as habilidades esperadas. “Os dados têm indicado que as crianças são capazes, desde muito cedo, de aprender a ler e a escrever (...). É necessário, assim, avaliar mais precocemente a fim de que se possa intervir, também, mais precocemente”, aponta a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Gladys Rocha.
Segundo ela, os resultados das avaliações devem ser um instrumento na mão dos professores e gestores: “A avaliação pode, efetivamente, converter-se em um instrumento a serviço da escola, dos professores e, sobretudo, da aprendizagem dos alunos”, diz.
Leia abaixo a entrevista que a educadora concedeu ao Todos Pela Educação.
Todos Pela Educação - Qual a importância de avaliar a alfabetização das crianças?
Gladys Rocha - Avaliar a alfabetização é importante porque permite, por um lado, identificar os níveis de aprendizagem dos alunos e, por outro, ao identificar esses níveis é possível ter subsídios para definir metas para o ensino. Um outro aspecto refere-se ao fato de que os dados têm indicado que as crianças são capazes, desde muito cedo, de aprender a ler e a escrever, o que ajuda a desmistificar a ideia de que sujeitos, em função de realidades contextuais desfavoráveis, não tenham essa capacidade. É necessário, assim, avaliar mais precocemente a fim de que se possa intervir, também, mais precocemente.
TPE - Em que ano escolar é melhor aplicar essa avaliação? Por quê?
Gladys - Essa questão não tem uma única resposta plausível. Se o que se deseja é, por exemplo, verificar o que uma escola acrescenta ao aluno em termos de aprendizagem média desde o início do Ensino Fundamental, deve-se aplicar avaliações de entrada e de saída desde o início do primeiro ano dessa modalidade de ensino. Se o que se deseja é obter dados que auxiliem a identificar alunos que demandam "discriminação diferenciada" [ensino diferenciado], a fim de que se garanta o processo de alfabetização, essa avaliação pode ser feita, por exemplo, ao final do 2º e 3º anos de escolaridade.
TPE - O que se espera que os alunos saibam ao final da etapa de alfabetização?
Gladys - Entendendo a "etapa de alfabetização" como um processo que deve ser consolidado no 3º ano do Ensino Fundamental de nove anos, pode-se dizer que o que se espera é um aluno capaz de ler frases e pequenos textos, recuperando seu significado. Essas habilidades devem ser consolidadas e ampliadas a partir do 3º ano.
É preciso que tenhamos a clareza de que o Ensino Fundamental de nove anos é um passo importante na afirmação do direito da criança de aprender a ler e a escrever, mas há, ainda, muito a ser feito. Épreciso que as crianças das escolas públicas tenham o direito, assim como os alunos da rede privada, por exemplo, de ter acesso à Educação Infantil e mais, a uma Educação Infantil de qualidade, que permita que as crianças, sem que se perca de vista a necessária dimensão lúdica dessa modalidade de ensino, possam "trabalhar" com a linguagem, inclusive em sua modalidade escrita.
TPE - A senhora acha que os alunos dessa etapa têm maturidade para responder avaliações?
Gladys - Crianças nas faixas etárias como as aqui mencionadas devem ser submetidas a processos de avaliações cuja estrutura organizacional, tanto do ponto de vista da construção do teste quanto de sua aplicação, seja diferenciada. Deve haver itens totalmente lidos e parcialmente lidos, além de itens não lidos pelo aplicador. Deve-se constituir um clima favorável à avaliação para que o aluno possa ver nela mais uma atividade desenvolvida em sala de aula. Deve-se, também, preparar materiais e equipes de apoio, já que os momentos de aprendizagem são diferenciados e os itens a serem respondidos pelos alunos, sem o auxílio do aplicador, demandam tempos também diferenciados.
TPE - Qual o efeito de avaliar a alfabetização para as escolas? E dentro da sala de aula? E para o aprendizado dos alunos?
Gladys - Uma das grandes limitações da avaliação externa à escola está na sua recepção pelos professores e demais profissionais da Educação. O mesmo se observa, em graus diferenciados, em relação às avaliações da alfabetização. No entanto, quando bem analisados e devidamente trabalhados com gestores do ensino e da Educação, os dados permitem identificar diferentes níveis de aprendizagem de leitura e mesmo e de escrita.
Com esses dados, os profissionais envolvidos têm a possibilidade de verificar níveis de aprendizagem e, a partir deles, podem construir propostas de trabalho diferenciadas, quer no âmbito da escola, da sala de aula ou mesmo, de um sistema. Se apropriada dessa forma, a avaliação pode, efetivamente, converter-se em um instrumento a serviço da escola, dos professores e, sobretudo, da aprendizagem dos alunos.
TPE - Em sua opinião, os brasileiros estão acostumados a avaliar a qualidade da Educação? Qual a importância de se criar uma “cultura de avaliação”?
Essas questões nos colocam num terreno de muitas divergências no campo da Educação. Embora estejamos, sim, construindo uma cultura de avaliação, há ainda muito a caminhar até que esse instrumento, suas reais potencialidades e limites sejam efetivamente compreendidos.
Na escola, muito temos ainda a avançar: não estamos habituados a termos nosso fazer avaliado, e costuma haver reservas. Elas se relacionam a um conjunto de fatores, como os modos como os resultados são divulgados, inclusive pela mídia, as expectativas muitas vezes centradas em termos de premiações de escolas, as diferenças estruturais entre escolas e entre turmas de uma mesma escola, a própria falta de cultura com a avaliação externa, entre outros.
TPE - Como os que concebem e coordenam as avaliações podem avançar?
Gladys - Há muito a caminhar no sentido de buscar mecanismos de coleta de dados, interpretação e obtenção de resultados que permitam aos profissionais da Educação o acesso efetivo a informações que o auxiliem na compreensão dos padrões de desempenho. Essas informações devem ser suficientemente qualificadas a fim de permitirem que os professores, gestores e demais profissionais da Educação possam fazer uso delas visando à ampliação das aprendizagens.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Entrevista - É necessário avaliar mais cedo
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