quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ulbra passará a ter fins lucrativos para pagar dívidas, diz reitor

G1

A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) anunciou nesta terça-feira (19) que deixará de ser filantrópica e passará a ter fins lucrativos para pagar dívidas com a União e com credores comerciais. A empresa criará um fundo de reserva, para depositar os valores devidos ao governo federal, segundo o reitor Marcos Fernando Ziemer. “Será, provavelmente, uma sociedade anônima”, disse ao G1. “Se tudo der certo, poderemos operar no formato a partir de agosto."

Ziemer afirmou que, nos últimos dois anos, zerou o déficit de caixa de R$ 15 milhões da Ulbra e, agora, partirá para o plano de reestruturação, para pagar as dívidas deixadas pela gestão passada. A nova administração reconhece parte dos R$ 2 milhões cobrados pela União.

“Não reconhecemos a integralidade da dívida. Reconhecemos mais ou menos R$ 400 (milhões) a R$ 500 milhões, oriundos de tributos retidos na fonte não pagos pela antiga administração. Não houve recolhimento durante 15 anos. O restante são multas, juros, que chegaram a esse número exorbitante. Vamos continuar discutindo administrativa e judicialmente. O valor da dívida ainda está em discussão em primeira instância”, disse Ziemer.

O ex-reitor da Ulbra, o pastor Ruben Becker, foi indiciado pela Polícia Federal pelo desvio de recursos da universidade. O inquérito apura os crimes de estelionato, fraude, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, além de falsificação de documento. A verba desviada da universidade passaria de R$ 63 milhões.

A Ulbra tem outros cerca de R$ 800 milhões em dívidas com bancos e credorse comerciais. “Os bancos serão chamados para propormos um acordo para pagamento da dívida em longo prazo”, afirmou Ziemer.

O plano foi aprovado pelo conselho gestor da mantenedora nesta semana e tem sido acompanhado, de acordo com o reitor, em reuniões com o Ministério da Educação, Advocacia Geral da União, Procuradoria da Fazenda Nacional no Rio Grande do Sul e da Justiça Federal.

Atualmente, a universidade tem cem mil alunos, 40 mil deles em cursos a distância, além de oito mil alunos em escolas de ensino fundamental e médio. A instituição tem sete mil funcionários em 15 campi de ensino presencial, 151 polos de educação a distância e em um hospital em Tramandaí, no Rio Grande do Sul. Desde 2009, dois mil funcionários foram demitidos. A universidade tem 327 cursos em vários campi. Outros 47 estão em processo de extinção. Dos 15 campi, seis ficam no Norte e Centro-Oeste e nove ficam no Rio Grande do Sul.

Dos outros três hospitais que eram da universidade, o Luterano e o Independência de Porto Alegre foram fechados em 2009. O Hospital Universitário, em Canoas, passou a ser gerido por uma empresa terceirizada em um convênio com a prefeitura.

Ziemer garante que as mudanças na administração da universidade não causarão o aumento das mensalidades, que hoje têm valor médio de R$ 500. Não haverá mudanças acadêmicas também, segundo o reitor. “O impacto da mudança é nulo para a academia. Não se pensa em mudar preço de mensalidade, porque se está mudando a estrutura. A mudança é uma saída legal e técnica para poder compor a dívida. Seria diferente se fosse uma empresa de capital aberto, com sócios. A empresa continua de capital fechado, com a mesma mantenedora”, afirmou.

O reitor disse ser difícil em quanto tempo as dívidas da universidade serão pagas. “O processo ainda está em fase inicial. Talvez daria para liquidar R$ 500 milhões em dez a 15 anos, mas é muito difícil precisar tempo”

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